Albertino Ribeiro
Outro dia estava conversando com minha amiga Vera Rita Ferreira, Drª em Psicologia Econômica, sobre os gatilhos emocionais, que nos levam a gastar mais dinheiro. Por incrível que pareça, até quando estamos muito felizes, o nosso cérebro pode se tornar um gastador. Segundo Vera, existem muitos estudos que relacionam estados de felicidade ou de euforia com excesso de endividamento.
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Quem nunca viu em algum filme, aquela tradicional cena em que alguém está num bar e, ao receber uma boa notícia, grita: “garçom, uma rodada de chope de graça para todo mundo!” Eu já vi vários e digo que também já fiz algo parecido quando fiquei muito feliz ou eufórico.
Foi esmola demais e o cérebro não desconfiou.
Em um belo dia – espero que minha esposa não leia este artigo -, eu estava muito eufórico porque as tudo estava dando certo pra mim desde cedo. Aí, rapaz, parei no semáforo em que estava um venezuelano com sua família pedindo dinheiro, algo normal nos últimos anos aqui em Campo Grande. Então, abri minha carcomida carteira onde havia uma nota de R$ 100 e outras de R$10. Sabe o que eu fiz? Isso mesmo!
Lá se fora uma cheirosa nota de cem reais para as mãos do amigo sul-americano. Devo ser sincero e confessar que, mais tarde, bateu um arrependimento e conversei com meus botões: “Puxa, exagerei; poderia ter dado uma nota dez reais, teria ajudado e, ao mesmo tempo, não ficaria com remorso. Mas deixa pra lá; talvez o amigo tenha conseguido resolver parte dos seus problemas.
Segundo a teoria econômica tradicional, nós somos agentes econômicos racionais e sempre tomamos as melhores decisões na hora de fazermos escolhas. Entretanto, na vida real, não é assim que acontece. De acordo com os postulados da Economia Comportamental, somos influenciados pelas emoções e também pelo contexto das circunstâncias e agimos muitas vezes irracionalmente.
Cuidando da cabeça e do bolso
Embora o título deste ensaio tenha usado a palavra feliz, a mesma coisa pode acontecer também em estados de tristeza, sabia disso? A tristeza pode levá-lo a gastar muito dinheiro. Por exemplo, pessoas que tem depressão ou que sofrem de ansiedade tendem a encontrar nas compras o remédio para aliviar o sofrimento.
Nessas pessoas, as compras fazem o cérebro liberar mais dopamina, neurotransmissor responsável pela sensação de prazer, o que pode viciar o consumidor, transformando-o em um comprador compulsivo.
Segundo matéria do site PagSeguro, um estudo sobre dinheiro e saúde mental no Reino Unido mostrou que 93% das pessoas gastam mais do que devem, cerca de 50% faz empréstimos sem necessidade e 71% deixam de pagar suas dívidas, tudo por conta da ansiedade.
Se você já se tornou um comprador compulsivo, aconselho procurar um psiquiatra ou um psicólogo. Entretanto, se você ainda estiver caminhando para o abismo desses gastos, existe um jeito de não ser uma vítima, basta saber como o cérebro funciona. Esse órgão que pesa 1,5 Kg, gosta de economizar energia e, por isso, nos leva a tomar decisões no piloto automático (sem precisar pensar).
Por fim, sabedores de nossas fragilidades e desamparo nesse mundo tão complexo, é preciso “pensar o pensamento” para não agirmos como autômatos. Dessa forma, estaremos assumindo o controle da situação, entrando numa “vibe” consciente.
Então, pergunte a si mesmo: “Eu preciso realmente fazer isso ou comprar aquilo?”