Albertino Ribeiro
Há duas semanas, na cidade de São Paulo, um homem invadiu a missa do padre Júlio Lancellotti para ofendê-lo e agredi-lo. Aliás, o nosso bom sacerdote há muito tempo vem sendo xingado e criticado; tudo porque resolveu colocar em prática os ensinamentos do evangelho de Jesus Cristo.
Com razão, muitos devem se perguntar: “como isso é possível? Se vivemos no maior país cristão do mundo, por que um servo de Deus é ofendido e, até mesmo, ameaçado de morte por uma parte da população, só porque ajuda os pobres e os moradores de rua?
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Essa excrescência ocorre porque, a partir da década de 1970, o pensamento cristão foi cooptado e adulterado pelo amor às riquezas, fruto da influência da chamada Teologia da Prosperidade (TP). A referida doutrina teve início da década de 1940, nos EUA, e foi propagada por pessoas, que enxergam o pobre como um ser inferior e único responsável por suas mazelas.
Algo que, com efeito, contrasta com o pensamento cristão. Segundo a Bíblia, no livro de Provérbios, “Melhor é o pobre que anda na sua integridade do que o de caminhos perversos, ainda que seja rico”. Ademais, o verdadeiro Messias, Cristo, foi bem claro quando falou sobre a riqueza: ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará a outro, ou dedicar-se-á a um e desprezará o outro”.
Mas, você que é rico e está lendo este texto, não entre em pânico! Tudo depende da sua relação com o dinheiro. O problema não é a riqueza em si mesma; Jesus condena a devoção, o culto aos bens materiais. Veja que a Bíblia não diz que o dinheiro é a raiz de todos os males. O apóstolo Thiago, em carta às igrejas da época, afirma que “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males”
Infelizmente, os valores do Evangelho foram corrompidos pela TP (Teologia da Prosperidade). Trata-se de uma doutrina que classifica o nível de fé de uma pessoa pela quantidade de bens que possui. Dessa forma, ser rico, estar em perfeita saúde e sem dificuldades de qualquer natureza, seria a “pedra de toque”, que confirmaria vida em plena comunhão com Deus.
Uma péssima influência
Dentro desse sistema de ideias enganadoras, é possível encontrar marcas da influência do ultraliberalismo, que tomou o lugar do cristianismo em muitas Igrejas – principalmente as neopentecostais -, tornando os cristãos ultracompetitivos, avarentos e insensíveis ao sofrimento alheio; invertendo, assim, os valores do Evangelho.
Um dos maiores ultraliberais da história foi o filósofo e biólogo inglês Hebert Spencer (1820-1903). Para Spencer, o mundo social refletia as condições da natureza e da Biologia. Assim sendo, nas relações sociais deveria prevalecer a lei do mais forte e do mais apto. Devido a isso, segundo os ultraliberais, não é prudente o Estado intervir na economia para ajudar os pobres, pois isso vai contra a lei natural das coisas, que, por conseguinte, vai contra as leis estabelecidas por Deus.
Destarte, tal pensamento consagra o darwinismo social como sendo algo inexorável. Parece piada! Digo isso porque a tradição cristã não aceita a teoria de Darwin em seu estado original. Entretanto, a corrobora quando esta é transplantada da biologia para as relações sociais. Algo sem lógica, pois é exatamente neste contexto, que ela deveria ser refutada.
Ora, é claro, como a luz do sol, que o pensamento cristão vai na contramão das ideias ultraliberais. Ser cristão pressupõe coletivismo e solidariedade. Por seu turno, o ultraliberalismo, que está impregnado na TP é individualista e contrário à justiça social.
“Aquele que fecha seus ouvidos ao clamor do pobre, clamará e não será ouvido.”
– Provérbios