Mário Pinheiro, de Paris
Trabalhadores de todas as categorias continuam a greve contra a reforma da previdência do presidente Emanuel Macron, na França. As manifestações acontecem simultaneamente em várias cidades e já duram mais de dez dias. O objetivo é impedir que a aposentadoria passe de 62 para 64 anos.
O setor que mais evidencia a paralisação além de metrô, trens regionais e os de alta velocidade, é a dos garis. Os caminhões deixam de recolher o lixo que se acumula, fede, chamativo de moscas e motivo de festa para os ratos que também se manifestam.
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Os garis são funcionários públicos municipais, mas serão igualmente afetados caso o projeto seja aprovado. Polícia e governo querem obrigar os garis a retomarem o trabalho porque a cidade vive do turismo, mas as montanhas de lixo formam um cartão postal desagradável nos principais monumentos, calçadas e proximidades de restaurantes.
Macron e setores privados solicitam que a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, do Partido Socialista, favorável às greves, contrate terceirizados para limpar a cidade.
Macron sustenta que a esperança de vida aumentou com o progresso da medicina e o bem-estar das pessoas, sendo 80 para os homens e 90 para as mulheres. Mas isso não explica nem resume a vontade do governo em usar outros meios de aprovar seu projeto. A proposta governista passou pelo Senado, mas na Assembleia Legislativa os votos se dividem, o não prevalece.
O segundo e último mandato de Emanuel Macron já possui baixíssima popularidade e ele não deseja sair derrotado. A jogada vitoriosa para seu grupo se dará com o uso de um “coringa”, conhecido na França como 49.3, que é um artigo da Constituição francesa que contém regras de funcionamento da República.
Com o 49.3 a primeira ministra pode aprovar imediatamente sem precisar de aprovação e voto dos deputados. Trata-se de uma maneira sutil de fazer passar um projeto sem a necessidade do debate parlamentar. A primeira ministra, Elisabeth Borne, em entrevista concedida ao jornal televisivo, deixou claro que vai utilizar o 49.3.
Então, com esta astúcia que favorece o governo, aos deputados resta uma carta na manga: uma proposição de barragem conhecida como moção de censura.
Convém lembrar que Emanuel Macron vem de família burguesa, considerado milionário, capitalista liberal, ex-banqueiro e ex-ministro da economia no mandato do presidente socialista François Hollande. Nas últimas eleições presidenciais, entre ele e Marine Le Pen no segundo turno, os eleitores barraram o partido de extrema direita e optaram por Macron.
O problema atual são os ratos de gravata no comando do governo e os ratos que invadem a cidade e os jardins.
Lixo e proliferação de ratos
Estima-se que haja seis milhões de ratos na capital parisiense. A proliferação dos roedores, que se alimentam de restos dos próprios turistas e agora do lixo não recolhido, pode trazer doenças. Ratos se reproduzem de quatro a seis vezes ao ano e cada ninhada pode ter em torno de 2 a 16 filhotes. O período de gestação é de apenas 21 a 24 dias. As ratazanas ovulam rapidamente após a copulação. A peste negra veio dos ratos.