O deputado estadual Zeca do PT conquistou um feito e tanto nesses últimos dias, conseguiu unir direita e esquerda para criticá-lo após condenar a ocupação da sede da fazenda Inho, em Rio Brilhante. Enquanto petistas o chamam de incoerente por ir contra bandeiras do partido, bolsonaristas dizem que o ex-governador defendeu uma ocupação em 28 de fevereiro e agora condena porque a fazenda é de um correligionário.
A polêmica teve início na última quinta-feira (9), quando Zeca discursou no plenário da Assembleia Legislativa contra a ocupação da propriedade do presidente do diretório do PT de Rio Brilhante, José Raul das Neves Junior.
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“É uma barbaridade o que estão fazendo com o companheiro, amigo, Raul, em sua propriedade em Rio Brilhante. De um lado, porque não se tem nenhum estudo antropológico definido para dizer que é terra indígena e do outro, dois ônibus, com aproximadamente 80 indígenas, derramados lá e agora trancaram portão, ocuparam terras, de 400 hectares, proibindo Raul e sua família de tirar de lá aproximadamente sete mil sacas de soja que foi colhido e de plantar milho”, declarou Zeca.
Na sexta (10), quando a declaração ganhou repercussão, o secretário Executivo do Ministério dos Povos Indígenas, Eloy Terena, criticou o ex-governador. “Lamentável o pronunciamento do Dep Zeca do PT na AL/MS, ao questionar a reivindicação legítima dos Guarani e Kaiowá ao seu território tradicional. Laranjeira Nhanderu é terra indígena, possui estudo antropológico e é espaço essencial para sobrevivência física e cultural dos GK”, reprovou.
O Setorial Indígena do PT de Dourados também repudiou as declarações do deputado estadual. “Esse tipo de fala incita e ajuda a aumentar violentos discursos de ódio contra os povos indígenas na luta pela retomada dos territórios tradicionais. A postura de Zeca “do PT”, tão bem votado pelos povos indígenas do MS, causa tristeza e revolta porque acreditávamos ter nele confiança, apoio e respeito pela nossa luta”, divulgou o grupo no domingo (12).
Nesta segunda-feira (13), o presidente do diretório estadual do Partido dos Trabalhadores, Vladimir Ferreira, cobrou coerência do parlamentar em relação às bandeiras históricas defendidas pela sigla.
“Durante os seus 43 anos de existência o PT sempre foi defensor da demarcação das terras indígenas. O deputado questiona de forma veemente e incoerente com relação a sua própria história e a do Partido dos Trabalhadores, o direito de luta e resistência dos povos indígenas e também dos trabalhadores sem terra”, disse Vladimir, em nota.
Provando do próprio veneno
Bolsonaristas, por outro lado, trataram com ironia o repúdio de Zeca do PT à invasão de propriedades privadas, e que estaria “provando do próprio veneno”. Como de praxe, pegaram o vídeo da declaração, legendaram com críticas ao petista, e distribuíram nas redes sociais.
“Discurso quando a terra invadida por indígenas pertence a um petista. Agora importa estudo antropológico. Também começou a importar o agronegócio. A fazenda invadida (ocupada) pertence ao presidente do diretório do Partido dos Trabalhadores (PT) naquela cidade (Rio Brilhante), José Raul das Neves Junior”, relata o texto na gravação, enquanto o deputado discursa.
Outro texto compartilhado, aponta que o petista condenou a ocupação indígena, “após incentivar invasão em redes sociais”.
“O tão incisivo discurso vem há exatos 9 dias após post em suas redes falando que estava na Sejusp para pedir que 60 famílias permanecessem em área invadida em Itaquiraí, mentindo que a propriedade não tinha matrícula, ‘que possam continuar na área, produzindo, até que se tenha uma decisão definitiva’”, relata o texto.
O encontro na Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública ocorreu em 28 de fevereiro, e Zeca divulgou que estava atuando como representante da Assembleia Legislativa junto ao Conselho Estadual de Intermediação de Conflitos Sociais.
“Em busca de uma saída ordeira e pacífica para o caso da ocupação de 46 hectares de terra por 60 famílias no município de Itaquiraí. Estamos comprometidos com a paz no campo, com desenvolvimento e reforma agrária”, justificou o petista.
Defesa da legalidade
O advogado Newley Amarilla, que atua na área e conhece o ex-governador há anos, diz que a declaração de Zeca foi coerente com seu discurso a favor da lei, como desde quando comandou o Parque dos Poderes, entre 1999 e 2006.
“Sempre foi essa a linha dele, tanto que tentou ajudar a resolver a situação de Sidrolândia/Dois Irmãos do Buriti anteriormente [conflito após ocupação em 2013]”, diz o advogado, afastando o argumento de que o petista só estava defendendo um amigo.
Zeca do PT, em nota no fim de semana, voltou a comentar o caso da ocupação da da fazenda Inho. Ele disse que o atacam por sua posição “posição em defesa da legalidade” e citou que está alinhado ao discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Minha história de militância pelos movimentos sociais – como filiado do PT, deputado estadual, governador, vereador e deputado federal – sempre se pautou por lutar pela aprovação de leis que beneficiassem os trabalhadores sem terra, os povos indígenas, os quilombolas e as famílias mais pobres. Portanto, seria um contrassenso pregar ou apoiar violações legais.”
“Tanto eu quanto o governo Lula estamos 100% comprometidos com a reforma agrária e a demarcação de terras indígenas. Porém, não será com ocupações ou invasões que vamos contribuir com esse processo.”
“Há uma demanda enorme reprimida por conta dos últimos anos, quando essas duas pautas estiveram esquecidas e abandonadas pelo governo federal. Porém, agora que Lula reassumiu a Presidência, precisamos ter paciência, pois a herança de Bolsonaro foi um orçamento destroçado, que precisa ser recomposto, com responsabilidade fiscal, para que seja possível destinar recursos para a aquisição de terras a fim de cumprir com esses compromissos.”