Mário Pinheiro, de Paris
O fato de negar algo faz parte da linguística, da semântica, que pode ser esclarecido conforme a frase de quem recusa. É um elemento gramatical. Mas é preciso distinguir o que ela esconde ideologicamente. A realidade impõe sempre uma leitura crítica e é necessária uma distinção para a tomada de consciência.
Por exemplo, quem sempre se mostrou comendo pastel, bebendo pingado, comendo pamonha, pode não ser a pessoa honesta e simples que a publicidade vendeu. Coisas simples como pastel e pingado são joias que a própria joia desconhece, porque o valor das joias retidas pela Receita Federal é uma prova de que é inútil justificar o injustificável. Se é peculato ou não, aquisição indevida de bens da União, cabe à justiça desmistificar a questão.
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A lógica das negações oferece a possibilidade da dúvida, a crítica pura e simples, sem destruir o outro pelo julgamento de valores. Na advocacia se diz que o diabo está nos detalhes, e para Goethe é o paradoxo da verdade ou o símbolo do demônio intelectual que procura no homem a ilusão do domínio e da compreensão.
A negação em seu estado puro. Ela, a ex-primeira-dama, nega que soubesse da existência do suntuoso colar de diamantes estimado em R$ 16,5 milhões.
Mas as imagens de vídeo em que o sargento da Marinha, Jairo Moreira da Silva, tenta recuperar as joias em caráter urgente, é vergonhosa, telefona, diz que tem permissão, autorização, revela esta gigante anomalia dentro do governo que acabou.
Na linguagem familiar do Zé Quinhão, “o moço tá mais sujo que pau de galinheiro” e de nada adianta o negacionismo. É uma trapalhada de ingenuidade, de pessoas que desejam passar por cima da lei ao achar que a Receita Federal deve ser submissa às ordens superiores. Trata-se de uma instância de controle. O momento é de negação, que a culpa é do ex-ministro Bento Albuquerque.
Os fatos históricos evidenciam a fotografia do tempo em preto e branco. Os adeptos de partidos de extrema direita negam, acusam e vão contra a verdade. Politicamente eles tentam colar na moral mais hipócrita ao atacar o direito das mulheres, os movimentos sociais, procuram tirar proveito e vantagem ao negar ou diminuir a intensidade de uma catástrofe histórica.
Não se sabe se é por prazer, convicção, genialidade, falta de personalidade, escola ou uma paixão que lhe traga satisfação e tesão de viver.
O negacionismo histórico
De 1915 a 1916, aproximadamente um milhão e meio de armênios cristãos que viviam na Turquia foram deportados para o deserto sírio e assassinados. A exterminação era ordem do governo turco. Os resistentes foram obrigados a trocar de religião, o islã. Na Turquia o objetivo era ter um povo somente de turcos. Esse genocídio jamais foi reconhecido pela Turquia.
Depois, em 1933, Hitler foi eleito chanceler na Alemanha, pela propaganda de seu livro Minha Luta (Mein kampf). Suas ideias sombrias sobre os inimigos, judeus, ciganos e homossexuais saiam da teoria para uma caça. Primeiramente, pela ideia de grandeza, riqueza e poder, ele invade vários países europeus e os obriga a enviar os judeus em trens de carga para animais. ]
O resultado é a shoah, a catástrofe nos fornos e câmaras de gaz. “Quando a patrulha soviética entra em 27 de janeiro de 1945, em Auschwitz, ela ignora a realidade” do terror, do inferno e da capacidade do homem em executar o mal.
A América latina, sobretudo Cuba, era um quintal de prostituição dos americanos até que a revolução deu uma basta em 1959. No Brasil tem muito cara de pau ignorante, e também cantor sertanejo que nega a existência da ditadura brasileira.
De 1964 a 1985, perseguição, caça às bruxas, tortura, abusos de autoridade e sumiço de gente inocente aconteceu no Brasil. No final de semana o delegado torturador do DEOPS passava óleo de peroba na fuça e ia pra missa matinal no mosteiro São Bento. Mais de mil pessoas que morreram nas seções de tortura, nos porões, foram enterradas como indigentes em Perus.
Um livro de história não transmite doença e eu recomendo.