A Digix vai conceder, a partir deste mês, licença menstrual para as funcionárias, um direito inédito no País e que começa a ser exigido na Europa. Ao reconhecer os reais sintomas do período da menstruação, como cólica, sensibilidade e dores no corpo, a empresa, uma das maiores desenvolvedoras de soluções de software, não vai exigir atestado médico e será a primeira no Brasil a conceder o benefício às mulheres.
Atualmente, 503 mulheres trabalham na Digix, o que representa cerca de 63% do quadro de colaboradores da empresa. De acordo com a assessoria, elas representam 70% do quadro de liderança.
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A decisão de implantar a licença menstrual remunerada sem exigência de atestado médico é da CEO da Digix, Suely Almoas. “Como eu mesma passei por todas as dores, desconfortos, mudanças emocionais por conta das mudanças hormonais desse período, decidi implementar essa medida após ler o Livro ‘A tenda vermelha’”, contou a dirigente.
“(O livro) conta a história de Diná, a única filha de Jacó, livro bíblico Gênesis, aonde nessa época, quando as mulheres estavam em seu período menstrual, eram levadas para uma tenda vermelha e eram cuidadas por outras mulheres. Pensei que poderia cuidar das nossas mulheres de uma forma moderna, através de um benefício”, contou Suely.
Na sua opinião, a concessão da licença remunerada não vai acarretar em mais gastos para a companhia. “Porque eu acredito que haverá ganho de produtividade”, justificou-se.
Pela proposta, serão proporcionados dois dias de folga remunerada às mulheres com dores excessivas ou outras complicações durante seu ciclo menstrual, sem necessidade de atestados para comprovação dessas ausências.
“Achei uma iniciativa de muita sensibilidade e me senti cuidada enquanto mulher, tendo uma gestão que prioriza o bem-estar de suas colaboradoras, acima de normas e processos”, reagiu a assessora de negócios da Digix, Natália Daufenbach.
“Acho importante essa virada de chave, entender o quão afetada psicologicamente e fisicamente nós mulheres ficamos nesse período menstrual, e como isso impacta negativamente em nossa produtividade e relacionamento com colegas. Poder contar com isso traz um grande alívio, saber que posso me recuperar e voltar para um outro dia muito mais disposta, com energia para inclusive superar o que não pode ser feito na minha ausência”, ressaltou.
Natália contou que já se sentiu obrigada a trabalhar não estando em boas condições por causa da menstruação. “Como trabalho muito na rua visitando cliente, acho que a situação complica um pouco mais às vezes, porque preciso de uma dose extra de disposição, cuidados pessoais para que possa atender bem nossos clientes, tenho que pegar qualquer indisposição, mal humor e deixar em casa. Já tive quadros de hemorragia muito fortes, nesses dias o desconforto e medo de passar vergonha na rua eram muito grandes”, relatou.
“A Digix está sempre buscando formas de nos surpreender e ser a frente do nosso tempo, porque entende o quanto esses cuidados com seus colaboradores vão refletir em resultados positivos para a empresa, mas além disso existe uma preocupação genuína com nossa bem-estar”, enalteceu.
A licença menstrual é uma realidade nos países asiáticos, como Japão, Taiwan, Indonésia e Coreia do Sul. O assunto foi discutido pela primeira vez em 1922, quando foi implantado na União Soviética.
No dia 27 de fevereiro deste ano, o parlamento da Espanha aprovou, uma votação polêmica, por 185 a favor e 154 contra, a licença menstrual. No entanto, para ter direito ao benefício, a mulher será obrigada a apresentar atestado médico.
“É um dia histórico para o avanço feminista”, celebrou a ministra da Igualdade da Espanha, Irene Montero. Ela disse que a medida é um movimento para resolver um problema de saúde que foi amplamente varrido para debaixo do tapete.