Dendry Rios
“Em que momento o foco do debate serão os trabalhadores e as empresas que fomentam o empreendedorismo da Capital?” Com essa pergunta, acompanho com tristeza os debates que cercam o transporte coletivo de Campo Grande e solicito que todos tenham mais respeito com o trabalhador e o empresariado.
Apaixonado pelo empreendedorismo e atuando como especialista em Recursos Humanos, vejo o cenário atual totalmente desfavorável a essas duas classes que praticamente bancam o sistema.
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As conversas apertaram em torno do novo preço da passagem de ônibus, que passou de R$ 4,40 para R$ 4,65, porém, pouco se sabe se haverá garantia da melhoria no serviço, principalmente na modernização dos veículos e terminais.
É preciso que todos tenham a consciência de que são pessoas que utilizam desse meio de transporte para se locomover, e neste público, destacamos os trabalhadores que se deslocam diariamente para chegar ao local de trabalho e produzir. Em que momento vamos pensar nessas pessoas? Elas saem de casa confiantes de chegar ao trabalho, mas se deparam com uma tragédia da qualidade do transporte, afetando sua condição social e qualidade de vida, e isso tudo reflete no desempenho de suas funções profissionais e no desenvolvimento da cidade e do Estado.
Sou especialista em Recursos Humanos e jamais desistirei de provocar reflexões nas pessoas, sejam elas o trabalhador ou o empregador, o gestor público ou o órgão fiscalizador. E é exatamente isso que temos que rever. Um trabalhador acorda motivado ao lado da sua família, tem o prazer de se arrumar para mais um dia de trabalho, afinal, estamos num país com mais de 10 milhões de desempregados, e quando sai de casa, se depara com ônibus sem estrutura, sem conforto algum e o pior: pagando uma tarifa caríssima como essa que acaba prejudicando do empresário ao trabalhador.
Li na imprensa, que uma perícia solicitada pela justiça identificou que a empresa que administra o transporte coletivo teve lucro de R$ 68 milhões e mesmo assim justificou que as contas não fecham e por isso o valor da passagem precisaria aumentar.
A maioria dos vereadores de Campo Grande votou e aprovou a “não cobrança de impostos da referida empresa que chefia os serviços e a prefeitura da Capital deixará de receber mais de R$ 10 milhões em ISSQN (Imposto sobre Serviço de Qualquer Natureza).
Mais grave ainda: segundo a justificativa para tal, se essa isenção (não cobrança) não fosse aprovada, o valor da passagem repassado ao trabalhador não seria apenas R$ 4,65, mas R$ 5,80, provocando ainda mais um colapso no assunto.
Na verdade, repassada ao trabalhador em partes, porque o empresário também paga sua parte. Todos pagamos, até mesmo quem não utiliza do “busão”.
Lembro que existe uma prática popular bastante comum nas questões econômicas e sociais que rodam diariamente os brasileiros: “As pessoas pagam impostos para ter transporte público de qualidade e acabam pagando transporte particular. Pagam impostos para ter escola pública e muitos casos acabam tendo que levar os filhos para a escola particular. Pagam impostos para ter vagas em creche e têm que recorrer à escolinha particular. Pagam impostos para ter saúde de qualidade e precisam pagar novamente um plano de saúde. Ou seja, todos nós estamos pagando duas vezes as mesmas coisas e chega uma hora que isso pesa na consciência do trabalhador”.
Os empresários não devem estar contentes com todo esse debate. É preciso ter mais respeito com as classes que custeiam a conta da máquina pública todos os dias e, principalmente, mais respeito com o dinheiro público, além de ter melhores ações de fiscalização e punição a quem não cumpre contratos.
Se uma empresa é escolhida para prestar um serviço e não cumpre as condições, quem vai cobrar melhorias? Precisamos dessa resposta na prática. O mais difícil o setor produtivo já faz, que é gerar o emprego, oferecer condições financeiras para que o trabalhador tenha acesso ao transporte, mas infelizmente o mais fácil, que é prestar um serviço de qualidade ou desistir de prestar esse serviço e passar a demanda para outra empresa, não está ocorrendo.
É nessa sensibilidade que temos que trabalhar para mudar a triste realidade. São pessoas. São trabalhadores que assistem todos os dias essa novela e ficam se perguntando que horas serão prioridades no debate.
A sociedade precisa de mais detalhes para também entender as dificuldades e necessidades da empresa atual que presta o serviço.
Acompanhei os noticiários e compreendi que nos últimos dez anos, o preço da passagem de ônibus em Campo Grande subiu 69%. Sensível ao debate e prevendo possíveis prejuízos aos alunos da rede estadual de ensino, os usuários da classe estudantil (os alunos) ganharam até um apoio, onde o governador Eduardo Riedel anunciou que o Governo ajudará custear a gratuidade do transporte e assim garantir o serviço aos estudantes.
Ou seja, mesmo com isenção de impostos, mesmo com apoio do Governo e outras ajudas, a “bendita” passagem de ônibus aumentou significativamente. É uma tristeza atrás da outra, mas tenhamos fé que tudo isso irá melhorar e Campo Grande terá um transporte coletivo digno da qualidade do trabalhador e dos empreendedores.
(*) Dendry Rios é empreendedor, especialista em Recursos Humanos e blogueiro