Mário Pinheiro, de Paris
Ao falar de política e democracia vamos sempre olhar no retrovisor para lembrarmos dos primeiros a exercerem o respeito pela locução e exposição da estratégia para a cidade e para o povo. A vida política sempre esteve sob a influência da razão e do pensamento.
As antigas monarquias foram desaparecendo, dando lugar ao republicanismo e ao modo democrático de gerar a coisa pública. Manobras, golpes de Estado, reviravolta, imposição pela força sempre estiveram presentes para desestabilizar o andamento de um mandato, mas também por uma sede de poder, avareza, riqueza e inveja.
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Astúcia, rasteira em quem governa, isso também sempre existiu, não é novidade e a fragilidade da democracia não sobrevive ao tosco, apenas pode renascer de seus próprios fragmentos.
A vida política não se resume aos gregos. Os romanos, que viviam do baixo e do alto império, logicamente com monarcas voltados ao prazer, perversidade, obscenidade, orgias, com muita maldade e má índole, entre eles, César Augusto, Tibério, Calígula, Cláudio e Nero, mas o pensamento romano suga suas buscas na experiência dos gregos e no estoicismo.
Outros imperadores romanos deram grande importância ao modus operandi da política grega, e se inspiraram sobre um estudo de Platão acerca da decadência histórica. E eles foram invadindo, dominando, explorando e colonizando povos.
Os vândalos quando esquecem da lei, buscam ganhar pela força e pressão. Se as cenas do vandalismo brasileiro vierem à superfície do cérebro, não será coincidência. Mas tudo é efêmero. Os tribunos que mereceram respeito: Políbio, Cícero, Sêneca e Marco Aurélio, agiram pelo respeito às leis e à república.
Cícero descobre a minuta romana (alusão ao Torres e Bolsonaro) pra dar um golpe na república romana pela conspiração do Catilina, mas foi desmascarado. Cícero defende o governo da razão. Ele sustenta que o governante deve dominar as leis, as constituições, os recursos públicos, a administração, a organização das forças armadas, a história e fatores sociais que podemos traduzir por sociologia. Flavius Dinus, de hoje, fez boa interpretação, nomeou, ordenou e outorgou poderes para prender os complotistas e terroristas.
O complô existe e não é preciso ser cientista político para apontá-lo, ele aparece na mentira, na fomentação, na confabulação, nas invenções. Quando o animal político é deficiente, ineficiente, ele mostra desequilíbrio no raciocínio, a catástrofe e a calamidade emergem na superfície de seu discurso.
A expansão romana, por exemplo, desenvolve o imperialismo e também as primeiras e frágeis instituições republicanas. Complotistas e traidores agem, na política, pela imposição do medo, pela ranço ultraconservador e ultramoralista. O debate é o modus operandi. Na ausência de massa cinzenta, de capacidade de participação no debate, aparece a tirania com sua fórmula violenta de conduzir as coisas.
A política, quando bem debatida, usando a persuasão, o verbo e o respeito, tudo se torna num instrumento de confrontação livre, de argumentações ancoradas no raciocínio lógico. Ela é a força da oratória, não se conclui por palavras chulas e desrespeitosas, muito menos por ataques descabíveis às mulheres e profissionais da imprensa. A convicção aparece no rigor da forma como se elabora a retórica sem fazer uso de falsidades, de invenções anacrônicas como subterfugio da falta de inteligência.
A vida política jamais cessou de ser um campo de luta, segundo o politólogo Olivier Nay, mas as polêmicas se manifestam e precisam do convencimento. Por outro lado, quando o povo se acha perdido e ludibriado pelo político que se diz representante de sua voz, mas fica evasivo e abre contas bancárias em nome de laranjas, orçamento secreto, compra imóveis em nome da família, a desconfiança traz o descrédito.
Às vezes a opção que vem do voto pode fazer medo. A expectativa que pousava na eleição de Bolsonaro não trouxe o sentido da vida porque foi feito em nome da morte.