Conhecidos mundialmente pelo ecoturismo e por suas águas cristalinas, os rios de Bonito voltaram a ser motivo de preocupação nesta temporada de verão. O Rio Formoso, principalmente, tem ficado turvo com mais frequência e por mais tempo, após as chuvas. A situação tem deixado ambientalistas em alerta e fez deputados estaduais cobrarem o Governo do Estado por uma solução.
“O problema é realmente sério, especialmente quando se trata do rio Formoso”, diz o biólogo e doutor em Ecologia José Sabino. “Na região do alto Formoso, o problema maior foi a rápida mudança do uso do solo: em 2012 havia perto de 5 mil hectares de agricultura em Bonito. Hoje a agricultura ocupa quase 60 mil hectares”.
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Segundo o ambientalista, a Serra da Bodoquena é um tesouro de biodiversidade, seus rios são únicos e devem ser feitos todos os esforços técnicos para conservação da biodiversidade.
Sabino lembra do Rio da Prata, que foi o centro das atenções no fim da década passada por problemas semelhantes aos enfrentados hoje pelo Formoso.
“A situação do Prata parece ser a melhor. Na região, muitos esforços para recuperação da drenagem parecem surtir efeito. No Formoso e Mimoso, acredito que ainda levará mais tempo para ver o resultado”, diz o biólogo.
“No Prata, as ações de conservação do solo começaram em 2018-2019. Ainda há muito o que fazer para reflorestar e restaurar os ambientes, mas um dos principais problemas que havia eram os drenos do banhado do Prata. Esses drenos foram bloqueados por pedras e, aos poucos, a transparência tem melhorado”, revela.
Sobre os impactos da agricultura, com o cultivo de soja na região, José Sabino diz que o setor precisa adotar princípios de conservação do solo.
“Não se trata de ser contra a agricultura, mas se ela se instala em Bonito e região, deve obrigatoriamente adotar princípios de conservação de solo (por exemplo curvas de nível, caixas de contenção, respeito aos limites das APPs)”, argumenta.
“Afinal, é dessa riqueza biológica, em especial dos rios e peixes, que mantém a maior cadeia produtiva da região que é o turismo. Sem esse olhar e com as medidas de conservação, nada feito”, alerta Sabino.
A turismóloga Yolanda Prantl Mangieri destaca a falta do cumprimento da lei já existente e de fiscalização. Ela também diz que há “muita licença para desmatamento liberado pelo Imasul [Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul]”.
“Imagina, o que irá acontecer com o nosso destino, se acabar o turismo, criminalidade, por falta de empregos, 80% da população vive direta e indiretamente do turismo”, alerta Yolanda. “Estamos todos os dias, mas todos os dias vendo uma maneira de como ajudar. A população precisa saber da gravidade que ronda o nosso destino”.
Deputados pedem providências
Os deputados Pedro Kemp e Zeca do PT trouxeram a preocupação com o Rio Formoso para o centro da discussão na sessão desta quarta-feira (8) da Assembleia Legislativa. Ambos cobram respostas do Governo do Estado para mitigar os problemas apontados por especialistas.
“Há diversas notícias sobre o aumento da poluição do Rio Formoso, cada vez mais turvo. Todo o ecossistema da região está ameaçado”, disse. O petista encaminhou requerimento ao secretário de Estado de Meio Ambiente, Jaime Elias Verruck, com diversos questionamentos.
Conforme o documento apresentado por Kemp, a cidade de Bonito foi a que mais desmatou a Mata Atlântica entre os anos de 2019 e 2020.
“Isso se dá ao crescimento do agronegócio aos arredores dos rios, especialmente a plantação de soja. Desde a passagem dos maquinários agrícolas nas estradas próximas aos rios. A terra escoa para as margens e há, de forma criminosa, a entrada de partículas de fertilizantes e agrotóxicos na água”, alega o deputado.
Zeca do PT faz coro aos apontamentos do colega. “O que acontece em Bonito é consequência da agricultura mecanizada e de possíveis práticas inadequadas, de forma que é necessário o aperfeiçoamento da nossa legislação e das ações de governo para que esses episódios sejam prevenidos”, defende.
O biólogo José Sabino acredita que os problemas do Rio Formoso podem ser revertidos. “Creio que tenha de ser um grande esforço coletivo, incluindo restrições ao plantio em áreas mais sensíveis. O tema é complexo, mas tem solução que pode vir da combinação de esforços coletivos, vontade política e aportes da ciência para a tomada de decisão”, diz.