Um vídeo do deputado estadual Lidio Lopes (Patri) em que comenta sobre o brutal assassinato de Sophia Jesus Ocampo, 2 anos, tem sido compartilhado em aplicativos de mensagem e gerado indignação. Na gravação, o parlamentar tenta minimizar o fato da menina ter passado por 30 atendimentos médicos em postos de saúde da Capital antes de ser morta, sem que suspeitassem das agressões que ela sofreu.
Stephanie de Jesus Da Silva e Christian Campoçano Leitheim, mãe e padrasto da criança, estão presos preventivamente. Eles são os principais suspeitos de espancar e agredir sexualmente a vítima.
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O prontuário médico da criança, que chegou morta a uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Campo Grande, na noite do dia 26 de janeiro, aponta que Sophia passou por 30 atendimentos, uma delas por fraturar a tíbia. A Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), por causa disso, abriu processo administrativo para apurar se houve negligência no caso.
O deputado Lidio Lopes, marido da prefeita Adriane Lopes (Patri), se manifestou sobre esta situação na sessão da Assembleia Legislativa de terça-feira (7). Ele tentou justificar e amenizar o número alto de atendimentos recebidos pela criança ao longo de seus dois anos e sete meses de vida.
“A mídia coloca que a menina esteve 30 vezes nas unidades de saúde. É verdade. Trinta vezes no decorrer de dois anos e sete meses no decorrer da existência dela. Vai lá para fazer uma inalação, é aberto um procedimento. Vai lá para fazer uma vacina, é aberto um procedimento. Ela teve para esses dias”, relata Lidio. “Pros últimos dias dela, ela teve nove vezes. E nenhuma das nove vezes que ela esteve lá na unidade, foi detectado nenhum sinal de agressão ou violência”.
O trecho da declaração de Lidio, transcrito acima, foi compartilhado em aplicativos de mensagem com um questionamento incluso ao final: “E se fosse sua filha, deputado?”.
Sinais de que havia algo errado
O Instituto de Medicina Legal (IML) emitiu uma declaração de óbito em que aponta que a causa da morte de Sophia de Jesus Ocampo foi por um trauma na coluna cervical, que evoluiu para o acúmulo de sangue entre o pulmão e a parede torácica. Segundo as investigações, a criança apresentava sinais de espancamento e estupro, que foi confirmado posteriormente.
Em dezembro de 2021, após buscar Sophia (foto acima) para passar a virada do ano juntos, Jean Carlos Ocampo, pai da menina que é técnico de enfermagem, identificou hematomas espalhados pelo corpo dela, inclusive no rosto. Na época, acionou o Conselho Tutelar.
Ainda em dezembro de 2021, foi requisitado um exame de corpo de delito para Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA).
No dia 31 de janeiro de 2022, o pai de Sophia registrou o primeiro boletim de ocorrência por maus-tratos qualificado, quando o crime é praticado contra pessoa menor de 14 anos.
De acordo com o registro policial, o pai identificou alguns hematomas espalhados pelo corpo da filha. Ao ser questionada, a mãe justificou que a menina tinha se machucado após brincar com um gato.
Em fevereiro, Jean acionou mais uma vez o Conselho Tutelar para denunciar as agressões sofridas por Sophia. O pai procurou a unidade para denunciar maus-tratos praticados que teria sido cometidos contra a filha de 1 ano e sete meses, na época.
Três meses depois da denúncia no Conselho Tutelar, o pai de Sophia procurou mais uma vez a unidade. Isso porque vizinhos de Stephanie registraram uma ocorrência de maus-tratos a um animal de estimação, e ele levou a informação ao Conselho da região norte. De acordo com o registro, o pai da menina apresentou vídeos e fotos de hematomas e do estado da casa em que a criança morava.
Em outubro de 2022, Jean e Stephanie foram intimados pela Justiça pela denúncia de maus-tratos feita pelo pai em janeiro. Na ocasião, apenas o pai compareceu e o caso foi arquivado.
O segundo boletim foi registrado na DEPCA no dia 22 de novembro, quando o pai foi buscar a filha e encontrou a menina com a perna quebrada e novos hematomas pelo corpo.
O registro policial diz que a criança estava com hematomas nas costas e com a perna esquerda quebrada com gesso. A mãe da menina relatou que a fratura teria acontecido devido a uma queda no banheiro.
Dia da morte
O último encontro entre Sophia e o pai, Jean, e seu companheiro, Igor, aconteceu no dia 15 de janeiro, onze dias antes da morte da menina.
De acordo com a avó materna, Sophia passou mal e vomitou, desde o início da manhã do dia 26 de janeiro, dia em que morreu.
No dia, Sophia estava sendo cuidada pela mãe, e chegou a ter uma melhora no início da tarde. No entanto, a criança voltou a piorar por volta das 17h. Ela foi levada pela própria mãe à UPA do bairro Coronel Antonino, mas chegou no local sem vida.
Segundo informações da polícia, a criança já estava morta havia cerca de quatro horas quando deu entrada na unidade. Ainda segundo a avó, a neta tinha hematoma nas costas, na boca, teve sangramento pelo nariz e apresentava abdômen inchado, indicando uma possível hemorragia interna.
A mãe, Stephanie de Jesus Dada Silva, e o padrasto, Christian Campoçano Leitheim, foram presos em flagrante no dia 26 de janeiro pelo crime de homicídio qualificado por motivo fútil.
Já no dia 28, o juiz Carlos Alberto Garcete, da 1ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande, converteu, durante audiência de custódia, a prisão dos suspeitos de temporária em preventiva.
O padrasto foi levado para a Penitenciária Estadual Masculina de Regime Fechado da Gameleira. A mãe foi transferida para um presídio no interior do estado, por motivos de segurança.
*Com informações do portal G1