Na última sexta-feira, o presidente Lula criticou a alta taxa de juros praticada pelo Banco Central (13,75%). Inclusive, o Brasil é o país que possui a maior taxa real de juros do planeta; está à frente, por exemplo, de países como México, Chile e Colômbia.
Esse é um título do qual não devemos nos orgulhar, pois além de sufocar a atividade econômica, a taxa de juros muito alta obriga o governo a gastar mais dinheiro para pagar à dívida pública.
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Segundo Paulo Gala, economista laureado pela Fundação Getúlio Vargas, um ponto percentual no aumento dos juros, por exemplo, significa R$ 50 bilhões a mais por ano de pagamento da dívida pública. Para termos uma ideia, R$50 bilhões é justamente o valor a ser pago pelo Bolsa Família neste ano.
Além disso, a persistência em manter os juros no lugar mais alto do “pódio” empurra o País para o precipício da recessão, acabando, assim, com o sonho de muitos brasileiros de conseguir colocação no mercado de trabalho.
Para que as propostas de política econômica sejam exitosas, é necessário que o governo tenha alguma gerência sobre a política monetária. Mas como? Com um Banco Central independente e que pensa de forma diametralmente oposta, a política econômica não ficaria comprometida?
Como água e óleo
Enquanto o novo governo segue uma linha mais Keynesiana, em que o Estado intervém na economia realizando política industrial, com objetivo de fazer o país crescer e gerar bons empregos, o presidente do Banco Central, Roberto Campos, é de uma escola completamente diferente, pois é defensor de uma política monetária restritiva e tem por premissa a ideia de que o investimento público é, por definição, prejudicial à economia.
Dessa forma, essas duas visões de mundo precisarão encontrar uma solução de compromisso, ou seja, um ponto de equilíbrio que permita ao nosso País crescer de forma sustentável, mantendo a inflação sob controle. Todavia, parece-me que esta solução ainda está bem longe de acontecer, pois o Banco Central manteve a taxa de juros nas alturas e, por enquanto, não deu sinais de que pretende mudar de ideia.
Os economistas ortodoxos, representantes do mercado, defendem a independência do BC porque, segundo eles, seria a única maneira do banco combater a inflação e se blindar contra possível ingerência do governo. Citam como exemplo o FED (banco central americano), que possui independência desde a criação em 1913.
Entretanto, até mesmo o FED, em algumas ocasiões, foi obrigado a abrir mão de sua “independência”. Uma delas, em um momento difícil, o governo americano resolveu “tomar as rédeas” da economia.
Durante a grande depressão americana, em 1933, o então presidente do FED, o poderoso Eugene Mayer, foi demitido pelo presidente Franklin Roosevelt porque não quis compatibilizar a política monetária com a política do New Deal, que exigia aumento da base monetária. Naquele ano, a economia americana estava em frangalhos, amargando índice de desemprego de 25%; um contexto em que não havia a menor possibilidade dos EUA enfrentarem uma inflação de demanda.
Essa história do presidente do Banco Central americano ter sido demitido, serve como um exemplo prático para que saibamos que não seria nada de outro mundo se algo semelhante acontecer no Brasil. Veja, o Estado não pode ficar sem um dos seus “braços” para implementar a política econômica. Esta deve ser resultado da coexistência harmônica das políticas fiscal e monetária.
Diante disso, caso não haja uma solução de compromisso entre o presidente Lula e o chairmen da autarquia federal, deve prevalecer, para o bem do País, a vontade daquele que foi escolhido pelo povo.