Mário Pinheiro, de Paris
A situação de desprezo, estupro e genocídio dos índios por parte de grileiros de terra e garimpeiros é uma realidade trágica que está ganhando as páginas da imprensa internacional. É uma vergonha desastrosa para um governo que repetia “Deus acima de tudo, com família, pátria e liberdade”, um slogan fascista; com uma ministra evangélica até o cotovelo, ligada aos direitos humanos cujo interesse próprio estava em primeiro lugar.
Mas o discurso do então deputado federal em 1995, Jair Bolsonaro, já babava ódio no microfone da Câmara dos Deputados e afirmava que o Brasil devia exterminar os índios tal como os americanos.
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Antes do mandato presidencial do ex-capitão expulso do Exército, os militares haviam implantado o Plano de Integração Nacional (PIN) em 1969, cujo objetivo era cortar ao meio o território indígena para levar o progresso, permitir que camponeses do sul se instalassem na região. O nome disso era colonização às avessas.
O resultado foi negativo aos índios que morreram de doenças que os brancos lhe ofereceram, muitas índias foram estupradas, seviciadas, como hoje, e os resistentes eram assassinados de forma cruel. O PIN, inventado durante o governo do general Emilio Garrastazu Médici, levou violência, decadência, imoralidades, instalou o mal e as infraestruturas prometidas ficaram no papel.
Diante de tantas injustiças e a falta de humanidade, os dois bispos progressistas Pedro Casaldáliga e Tomas Balduíno (in memoriam) criaram o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) em 1973. O CIMI coletava dados, identificava as agressões e enviava ofícios aos órgãos responsáveis.
O bispo catalão havia denunciado e escancarado a tristeza dos índios na região amazônica contra o regime militar que abrira as portas ao latifúndio. Ele havia publicado o documento “uma Igreja na Amazônia em conflito contra o latifúndio e a marginalização social”.
Em resposta ao bispo, o Exército pusera sua cabeça a prêmio, tentou coagi-lo, armou ciladas, mas Casaldáliga os enfrentou, não tinha medo da morte apesar dos soldados rondarem sua casa.
Mas no governo Bolsonaro a situação ficou pior. Permitir a entrada clandestina de estupradores a procura de ouro, abrir a porteira e deixar a boiada passar, é, no mínimo, o ato mais desumano em território indígena se ainda levarmos em conta o assassinato do ambientalista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Philips, que poderiam provavelmente denunciar os diversos ataques e desrespeito às etnias indígenas que vivem na região.
O governo Bolsonaro tem culpa direta no genocídio. Não existiu direitos humanos aos índios, nem assistência, nem socorro apesar dos inúmeros ofícios enviados aos órgãos responsáveis. No tempo da ditadura a Igreja Católica progressista, na pessoa de Casaldáliga e Balduíno, ao menos deu o grito contra a injustiça militar, mas hoje, com essa falsidade evangélica, a TFP (tradição, família e propriedade) domina.
O latifúndio foi matando, invadindo terras alheias e obrigando governos descompromissados a legalizá-las em nome da UDR (União Democrática Ruralista) que contratava jagunços pra limpar a área invadida com expulsão, queima de plantação, casas e expulsão dos moradores.
Por questão de semântica os invasores de terra mudaram de nome, virou agronegócio. Dá na mesma, invadem, queimam, matam, compram a polícia, o juiz e o diabo pra dizer que são produtores rurais.
E desta maneira nos aproximamos das etnias indígenas maltratadas pelo governo Bolsonaro que não moveu nenhuma palha para salvá-los do genocídio. Pelo contrário, ele é o autor da tragédia. Se o asno eleito vinte e oito anos deputado não ficar inelegível pelos crimes cometidos durante seu mandato presidencial, ele pode voltar montado em seu dragão pra queimar o resto da floresta e impulsionar a passagem da boiada.
As queimadas na Amazônia atingiram mais de 16 milhões de hectares somente em 2022, segundo O Globo, com pleno aval do ex-presidente. Quem, com a cabeça cheia de cachaça, mete fogo na floresta e assassina o meio ambiente, descaracteriza a vida indígena e enriquece patrões do setor agrário.
Por negação de socorro por parte das pessoas que exploravam o ouro da terra Yanomami, 99 crianças morreram de desnutrição, diarreia e outras doenças. A exploração sexual é outro item grave citado pelos índios face a ganância por terra e riqueza do vil metal.
O garimpo é ilegal, mas foi incentivado durante o governo Bolsonaro. O New York Times teria identificado 1.269 pistas de pouso não registrados na floresta Amazônica. Quem tem avião, tem poder aquisitivo. É preciso identificar esta laia, processá-la e a enviar ao inferno.