Belgrano Souza
Bolsonaro fez nota em seu perfil no Twitter falando sobre as “manifestações” no País, cita depredações e invasões dos prédios públicos ocorridos em Brasília, faz falsa simetria com atos do passado na Nação, afirma que sempre jogou dentro das quatro linhas da Constituição e tenta tirar o corpo fora do que presenciou o Brasil no dia 8 de janeiro de 2023.
Chega aqui, deixa eu lhe dizer que:
1. Manifestação é mesmo uma ação democrática, constitucional, mas é preciso primeiro que haja um DIREITO: golpe de estado ou intervenção militar não é DIREITO dentro de um estado democrático de direito. Então, não estão manifestando estes brasileiros, mas pedindo golpe de estado, algo que inclusive é crime pelo Código Penal.
Veja mais:
Tema Livre – Águas Guariroba: lucro bilionário, tarifa mais cara do País e executivos com salários milionários
Tema Livre: Os cuidados para uma Black Friday sadia pós-pandemia
Tema Livre: resultado das eleições e bloqueio de rodovias
2. O que aconteceu em Brasília não foi mera depredação ou invasão de prédio público, mas terrorismo doméstico de extrema-direita (quando você atenta contra seu próprio povo ou sua própria nação). O bolsonarismo é um movimento de extrema-direita; até porque, Bolsonaro é um político extremado (e mostrarei isso abaixo).
E o bolsonarismo é movimento porque possui método, organização, base teórica, liderança, objetivo e essência de grupo. Então, não dá para cair nesta lorota de mera depredação ou invasão, são atos de terrorismo interno com motivação de golpe de estado, tudo orquestrado e executado pelo movimento bolsonarista (tanto que é comum ver faixa, grito de ordem e outro tipo de publicidade em torno de intervenção militar ou golpe de estado nestas “manifestações”).
3. A data de 08/01/2023 entra para o rol de dias a serem esquecidos na história brasileira, não dá para fazer falsa simetria com atos de anos anteriores no País. O que vimos em Brasília é digno de comparação com 1964, por causa da motivação de golpe de estado, não com gente na rua protestando como em 2013/2017.
Pode-se ver semelhança na estética, o que não chegou nem perto, mas é a motivação que diz se é ou não semelhantes tais atos na essência. E não: não há na história recente do País ações voltadas contra o estado democrático de direito, as instituições democráticas e o sistema eleitoral, por exemplo. Então, é falsa simetria a citação de Bolsonaro, o atentado aqui é novamente contra o estado democrático de direito e não mera invasão, depredação ou manifestação política.
4. Bolsonaro não joga dentro das quatro linhas da Constituição. São anos de ações e discursos extremados que resultou em ações extremadas por parte de seus seguidores. Quem poderia imaginar que resultaria em extremismo, né?
Cito aqui cinco momentos ao longo de sua história que comprova as raízes do seu extremismo: Bolsonaro em 1986/1987 participou de plano para estourar bomba nos quartéis do Rio de Janeiro; em 2016 afirmou que o “erro da ditadura foi torturar e não matar”; em 2016 exaltou o ditador/torturador Ulstra em seu voto aberto no impeachment da Dilma; em seu mandato passou o tempo todo atacando as instituições democráticas do País; e ainda, inflamou o ânimo de seus seguidores, por exemplo, os seguidos atos de 7 de setembro e toda motivação e teor de tais reuniões.
Somado a isso tem o fato dele ter perdido a eleição e não ter dado uma palavra sequer para que seus seguidores voltassem para casa, se organizassem para a oposição, algo perfeitamente saudável e necessário dentro da democracia, deixando de lado o sentimento golpista e fazendo fortalecer assim o estado democrático de direito.
Então, não me venha com esta de jogar dentro das quatro linhas da Constituição, pois não aplicar golpe de estado e/ou cumprir as leis do País estando em cargo público é: obrigação de pessoa pública.
5. E, por último, Bolsonaro apostou no caos e isso aconteceu em 08/01/2023. Inclusive ele mesmo disse recentemente que algo aconteceria no Brasil de igual ou pior proporção que aquilo que aconteceu no Capitólio, EUA. Não dá para agora tirar o corpo fora do que aconteceu em Brasília.
A digital do Bolsonaro se encontra em cada ato de terrorismo que se viu na Praça dos 3 Poderes. Você pode dizer: ele não mandou ninguém fazer aquilo em Brasília. Não se trata de mandar, mas de gerar sentimento e ação coletiva, algo preparado ano após ano. Isso foi feito por Bolsonaro e todo o seu discurso extremado.
Então, que haja responsabilização para quem é mentor, para quem financiou e para quem executou tais atos extremistas em Brasília no dia 08/01/2023.
Com isso, resta apenas dizer que a direita, não a extrema-direita, incluindo aquele voto em Bolsonaro que não se aceita bolsonarista, não tem que acabar no Brasil. Assim como a esquerda e aqueles que se colocam mais ao centro da política nacional. Gente que quer dialogar de verdade sobre o Brasil.
Mas, é preciso dar um basta no bolsonarismo e/ou qualquer outro grupo extremado. O País não suporta mais atentados contra a democracia e suas instituições democráticas. Inclusive o bolsonarismo faz um desserviço ao cristianismo e/ou conservadorismo. Pois, ao se atrelar tal movimento extremado aos citados pensamentos/filosofias: dá-se a impressão que se tratam do mesmo objeto.
Não, isso não é verdade: o bolsonarismo é que tem tentado sequestrar os valores e/ou conceitos de tais pensamentos/filosofias, mas na verdade não passa de um movimento político extremado e capaz de executar a barbárie do dia 08/01/2023. Logo, você que é adepto do cristianismo e/ou conservadorismo político (enquanto filosofia política): não aceite ser taxado de bolsonarista, abra o olho, caia fora, fará bem a si e ao Brasil.
Enfim, Bolsonaro, toma que o filho é teu: agora cuide, inclusive se responsabilizando pela barbárie e limpando toda a merda do dia 08/01/2023!