Mário Pinheiro, de Paris
Ninguém pode imaginar o peso da derrota, da vergonha e a cara de pau de alguém que jamais perdeu uma eleição estar diante do desemprego. A angústia vem da certeza transformada em perda, desilusão, bancarrota, mergulho no poço do próprio orgulho.
Imagine uma ampla compra de votos, um exacerbado uso da máquina com orçamento secreto, o manejo do boneco da PRF, que não deu certo, o assédio patronal e as ameaças. Foram 28 anos ininterruptos de vida parlamentar, sempre ganhando, subornando impostos, sem criar projetos viáveis ao bem-estar da cidadania somados a um mandato pífio de quatro anos no Planalto.
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Bolsonaro pregou a divisão, e conseguiu. Prometeu metralhar a petezada com sua milícia, não teve êxito, mas conseguiu abrir uma escola de tiro por dia e fazer com que se tenha mais armas nas mãos de colecionadores do que o próprio Exército e a PM juntos. Na psiquiatria e na psicologia é possível encontrar remédio pra amenizar ou aceitar a dor, o fel angustiante do desgosto de perder.
O que intriga ainda mais esta angústia é o fato de poder contar com “bolsonaretes” prontos a tudo, até cantar o hino nacional ao pneu, enfrentar o vendaval, as intempéries e, mesmo assim, orar, exigir e pedir aos fardados verde oliva por uma intervenção federal, é o cúmulo da imbecilidade sem contar que antes já foram robôs com o mesmo orgulho de origem pueril.
A palavra que melhor resume a resposta desta angústia é o ridículo. A situação fica pior com as manifestações antidemocráticas revestidas de bloqueios, violência, assassinatos, invasão da base da concessionária Rota do Oeste, em Lucas do Rio Verde, onde queimaram ambulância, caminhão, puseram fogo em tudo, e o presidente continua mudo como quem perdeu a língua. Mas ele também não disse nada quando, no início de seu mandato atearam fogo em carros no Ibama no Pará, cuja área contém o maior número de invasores de propriedade indígena.
É angustiante até as mensagens de dor, de luto que eles não sabem o que é. Não é fácil entender como as pessoas aderiram ao pensamento e ideia de destruição e ódio pregados pelo presidente derrotado. Portanto, as regras do jogo na democracia, são simples, um perde e outro ganha.
A angústia é um tema que pertence aos debates da filosofia existencialista de Kierkegaard, Camus, Sartre e Beauvoir. Este objeto de reflexão não se refere a casos particulares porque sua referência é metafísica, mas é preciso encarar a realidade com a lógica cartesiana.
Perdió, manelito, estás nervioso? Ora, os atos antidemocráticos dos bolsonaretes estão mais relacionados com baderna, terrorismo, errância de caminho, na construção de uma imagem inexistente, por exemplo, a anticorrupção, que é uma falácia no governo que se termina.
Outra coisa, família, pátria e Deus é uma trilogia fascista e nazista. Bolsonaretes não têm capacidade para entender e compreender tais problemas porque é necessário rever livros de história, frequentar escola, educação, não ir contra a ciência.
Por trás do silêncio do presidente está também o medo de acabar seus dias no xilindró. Ele criou espaço para que processos cíveis e criminais o convoquem em tribunais. Uma cana interromperia sua sede em reorganizar a extrema direita brasileira. A angústia do presidente coincide com o que está por vir, mas está também interligado com problemas de ordem psíquica e ideológica.
É preciso explicar aos bolsonaretes que dividir e partilhar o pão não é comunismo, é fraternidade; que dar de comer aos mais pobres não é comunismo, é solidariedade; que dar espaço e acesso aos miseráveis significa o respeito pelos despossuídos.