Ao ser eleito governador de Mato Grosso do Sul, o ex-secretário estadual de Infraestrutura, Eduardo Riedel (PSDB), atropelou políticos tradicionais e impôs a primeira derrota para o ex-governador André Puccinelli (MDB), o ex-prefeito da Capital, Marquinhos Trad (PSD), e para a deputada federal Rose Modesto (União Brasil).
Apesar de nunca terem perdido uma disputa antes, eles ainda tiveram derrota dupla, porque também perderam a disputa no 2º turno ao entrar de corpo e alma na campanha do candidato a governador de oposição, Capitão Contar (PRTB).
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O grupo de políticos, que encolheram nesta eleição, é muito mais amplo. O procurador de Justiça, Sérgio Harfouche (Avante), perdeu a terceira disputa consecutiva. Na primeira disputa em 2018, quando foi candidato a senador, ele conquistou 292.301 votos e foi o mais votado em Campo Grande.
O resultado animou o promotor, que ignorou a polêmica sobre a necessidade de se desligar complementar do Ministério Público, e foi candidato a prefeito em 2020. Harfouche teve apenas 48.094 votos.
A queda na votação não acendeu o sinal de alerta em Harfouche, que cogitou disputar o Senado, mas acabou não conseguindo espaço e foi como candidato a deputado federal. Nova frustração ao obter apenas 17.946 votos e fica em 22º lugar. O baque foi tanto que o candidato acabou nem aparecendo no 2º turno.
André sempre se gabou de nunca ter perdido uma eleição e dava como certo a vitória em 2022, já que acabou saindo da disputa há quatro anos após ser preso na Operação Lama Asfáltica. Só que o emedebista não foi inocentado, como o presidente da República eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Graças a uma série de recursos da defesa, as ações penais e por improbidade ainda não foram a julgamento ao longo de sete anos.
André liderou todas as pesquisas de opinião e vinha sinalizando que iria repetir a trajetória de vitórias como deputado estadual, deputado federal, prefeito da Capital e governador por dois mandatos. O emedebista saiu das urnas em 3º lugar, com 247 mil votos.
O mesmo ocorreu com Marquinhos Trad, que vinha de uma carreira meteórica de vitórias. Ele foi vereador da Capital, deputado estadual e prefeito vitorioso em duas disputas. A ofensiva da Polícia Civil, que abriu investigação com base na denúncia de assédio sexual por 16 mulheres, não só barrou o crescimento do ex-prefeito nas pesquisas, como o levaram ao fracasso nas urnas.
Marquinhos abriu mão de dois anos e meio de mandato mesmo não liderando nenhuma pesquisa quantitativa de opinião pública. Ele apostou nas qualitativas, que apontavam ele e Riedel como os potenciais vencedores das eleições deste ano. O prognóstico era o mesmo no entorno do ex-prefeito e do governador eleito.
A derrota tem mais que um gosto amargo para o candidato do PSD. Ele vai ter um desafio muito maior para se reinventar. Em 2024, ele não poderá disputar a prefeitura. Como o sobrinho Otávio Trad (PSD) deverá disputar a reeleição, ele não deverá começar debaixo, como vereador.
Em 2026, o irmão de Marquinhos, Nelsinho Trad (PSD), conclui o mandato de senador e deverá disputar a reeleição. Como apoiou Riedel no 2º turno, ele deverá exigir a reciprocidade daqui quatro anos. Marquinhos não terá nenhuma máquina para tentar o Governo pela 2ª vez.
Também sai menor da disputa, Rose Modesto, que teve uma trajetória extraordinária de vitórias, como vereadora por dois mandatos, vice-governadora e deputada federal. Ela poderá disputar a prefeitura da Capital em 2024, mas perdeu força pelo desempenho nas eleições deste ano ao ficar em 4º lugar, com 178 mil votos.
O problema de Rose é que ficará sem mandato e não apoiou o candidato vencedor. Riedel vai dar preferência para os aliados e não para a ex-tucana. Mesmo que vá para o MDB, que deverá encolher ainda mais com a ofensiva do PSDB, a deputada vai chegar menor na disputa com a prefeita Adriane Lopes (Patri).
Outros que tiveram desempenho decepcionante na eleição foram o juiz federal aposentado Odilon de Oliveira (PSD) e o ex-senador Delcídio do Amaral (PTB). O primeiro quase foi eleito governador há quatro anos, quando conquistou mais de 600 mil votos. Ele não tinha conseguido eleger o filho, Odilon Júnior (PSD), vereador em 20202. Agora, ficou em 4º na disputa como senador, com 146 mil votos, atrás do estreante Tiago Botelho (PT).
Delcídio enfrenta uma situação difícil desde que foi preso na Operação Lava Jato e teve o mandato cassado pelo Senado. Graças a uma delação premiada, ele acabou deixando a prisão, mas não conseguiu recuperar o prestígio nas urnas. Há quatro anos, ele fracassou na tentativa de retornar ao Senado. Neste ano, como candidato a deputado federal, ficou em 21º lugar, com 18,8 mil votos.
A lista ainda pode incluir o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (União Brasil), o ex-vereador Vinicius Siqueira (Podemos) e o ex-senador Waldemir Moka (MDB).
Uma derrota, bem avaliada, pode ser ponto de partida para dar a volta por cima. E na política, nada como um diz após o outro.