O candidato de oposição, Capitão Contar (PRTB), defendeu a mudança no Governo para acabar com a corrupção, dar mais transparência na aplicação do dinheiro público e a nomeação de uma equipe técnica durante o debate na TV Morena, realizado na noite desta quinta-feira (27). Já o postulante da situação, Eduardo Riedel (PSDB), defendeu a gestão tucana, mas sem citar Reinaldo Azambuja (PSDB), e tentou desqualificar o programa de governo do adversário.
Durante quase duas horas, os dois candidatos a governador de Mato Grosso do Sul alternaram momentos de tensão e ataques com momentos de troca de elogios e apresentação de propostas.
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Primeiro a questionar, Riedel cobrou detalhes do plano de investimento do oposicionista. Capitão Contar começou na ofensiva ao destacar os ataques feitos contra a esposa, Iara Diniz, e a onda de fake news para desconstruí-lo. “Não ataque minha família, minha esposa, minhas filhas choraram por dias”, contou, sobre debate realizado no primeiro turno pela Fetems, quando o tucano citou os processos abertos por Iara na Justiça.
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“Fala municipalismo, mas orquestra ataques com os prefeitos contra a minha pessoa”, acusou, citando ainda dois sites da Capital que estariam atuando na linha do tucano para desconstruir o adversário na campanha eleitoral. “Pare de fazer esses ataques, vamos fazer uma campanha limpa”, propôs. “Tinha R$ 700 milhões para investir em propaganda, mas não destinou 1% da receita para habitação”, criticou.
Riedel insistiu que o candidato não tinha um plano de investimento para o Estado. “O meu plano de investimento é não roubar, dar incentivos para atrair indústrias, reduzir impostos para que as pequenas e médias empresas possam ter capacidade de investir”, explicou o capitão, destacando que a atual gestão aumentou os impostos, como IPVA, ITCD e Fundersul.
“Lamentável, não respondeu. Lamentável não falar absolutamente nada sobre o plano de investimento”, repetiu o tucano, seguindo o exemplo do ex-governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), que ficou insistindo para que o ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL), explicasse o plano para reduzir os impostos no Rio Grande do Sul.
Em seguida, o tucano falou do seu plano de investimento, que inclui os atuais projetos encampados por Reinaldo, como as ferrovias, as obras de pavimentação e a chegada das indústrias de celulose, e das concessões de rodovias – só não falou que possuem os pedágios mais caros do Estado.
O candidato do PSDB afirmou que o Brasil ficou estagnado no ano passado, apesar da economia brasileira ter crescido 4,6%. Ele gabou-se de que a economia de MS, segundo o candidato, teve o maior crescimento do País.
Capitão Contar defendeu-se das mentiras divulgadas por alguns prefeitos, como Hélio Pelufo (PSDB), de Ponta Porã, e uma radialista de Três Lagoas, de que paralisaria todas as obras caso seja eleito governador. “É fake news. Vou fazer as obras com controle qualitativo e quantitativo, com equilíbrio, com responsabilidade fiscal esem corrupção”, prometeu. Ele citou ainda a prefeita de Sidrolândia, Vanda Camilo (PP), que falsificou a pesquisa do Veritá para divulgar como se o tucano estivesse na frente.
Ao ser confrontado com os escândalos de corrupção na gestão de Reinaldo, Riedel saiu pela tangente. “Não tenho nada a ver com isso. Vá discutir com o governador”, afirmou, deixando de defender Azambuja das acusações de que teria recebido R$ 67 milhões de propina da JBS. “O seu padrinho político recebeu propina e o senhor não fez nada”, criticou o candidato de oposição.
O candidato do PSDB afirmou que não é juiz nem policial para descobrir os casos de corrupção no Governo. Apesar de pedir para o adversário não julgar os envolvidos em corrupção no Governo, o tucano recorreu a auditoria do Tribunal de Contas do Estado, que teria pedido a devolução do dinheiro pago pela prefeitura de Ribas do Rio Pardo para a agência de publicidade para a mulher de Contar.
Eduardo Riedel disse que o TCE mandou a empresária devolver R$ 2 milhões. No entanto, conforme reportagem do Campo Grande News, o montante repassado foi pouco mais de R$ 2 milhões no total. “Não há qualquer irregularidade”, garantiu Capitão Contar, saindo na defesa da esposa.
O ápide do bloco foi quando o deputado estadual citou a nomeação de L.V.J.T, que foi presa com 380 quilos de maconha com o marido, e ganhou cargo de direção na Secretaria Estadual de Governo. Ela foi, inclusive, nomeada por Riedel, conforme o Diário Oficial do Estado.
De acordo com Capitão Contar, o marido da mulher, que acabou sendo condenado, foi um dos contratados pela campanha a governador de Eduardo Riedel. O tucano afirmou que não tinha conhecimento e disse que era vítima de fake news. “Está me acusando de ser traficante, agora?”, questionou o tucano. A mulher tinha salário de R$ 4,1 mil na Segov e atualmente ganha pouco mais de R$ 5 mil na Secretaria Estadual de Cidadania e Cultura.
Mais ameno, o segundo bloco foi marcado pela cordialidade entre os candidatos ao discutir a questão do crédito de carbono e violência contra a mulher. O tucano chegou a elogiar o deputado pela proposta de redução de emissão de gás do efeito estufa. O oposicionista elogiou a gestão tucana pelos projetos e citou nominalmente o secretário estadual de Desenvolvimento e Meio Ambiente, Jaime Verruck.
Capitão Contar lamentou o alto índice de violência contra a mulher, como o fato de MS ficar em 3º lugar no ranking nacional em femincídio e ser o 2º no Centro-Oeste em violência doméstica. Ele também lamentou o fato de Campo Grande ser a capital com o maior índice de estupro de mulheres.
Riedel se comprometeu a construir uma sala lilás para acolher as mulheres vítimas de violência em cada cidade do Estado. Ele admitiu o déficit de 10 mil militares no efetivo da PM. “No meu governo, eu vou recompor parte do efetivo”, prometeu.
Capitão Contar defendeu a adoção do botaõ do pânico, previsto em seu projeto aprovado pela Assembleia Legislativa e ainda não sancionado pelo governador Reinaldo Azambuja. Além de tirar o projeto do papel, ele se comprometeu a levar a versão sul-mato-grossense da Casa da Mulher Brasileira para o interior do Estado.
De olho no eleitorado feminino, onde estaria atrás do tucano nas pesquisas, Capitão Contar assumiu o compromisso de nomear mulheres para o secretariado, porque possuem “mais efetividade”. Ele também disse que vai priorizar as mulheres vítimas da violência na distribuição de casas. “Muitas não saem de casa e ficam morando com o agressor, porque não possuem onde morar”, justificou.
No terceiro bloco, os dois candidatos voltaram a trocar ofensas. Capitão Contar lamentou que o Governo estaria usando os coordenadores do programa Mais Social para coagir os eleitores e obrigar os beneficiados a votar em Riedel. “Está gravado em vídeo”, garantiu.
“Se há irregularidade, deve ser apurado. Sou intolerante com esse tipo de coisa”, reagiu o tucano, que tentou mudar de assunto ao citar a suspeita de caixa 2 na campanha do adversário, conforme denúncia feita pelo Cidadania, partido controlado por Édio Viegas, que foi secretário-adjunto na gestão tucana.
Contar negou a prática de caixa dois em sua campanha. “Não existe”, garantiu o opocionista, que declarou ter gasto R$ 652 mil até o momento, conforme a Justiça Eleitoral, enquanto Riedel já teve despesa de R$ 8,9 milhões.
Eles também trocaram farpas sobre a continuidade do programa Mais Social. Os dois candidatos prometeram manter o benefício de R$ 300, que é pago a 100 mil das 167 mil famílias vivendo abaixo da linha de pobreza em Mato Grosso do Sul.
Capitão Contar e Riedel se comprometarm a prorrogar o programa Energia Zero, que paga a conta de luz para 152 mil famílias no Estado. O deputado ainda prometeu adotar medidas para reduzir a conta de luz, que atribuiu o valor ser muito caro por causa da alta carga tributária cobrada no Estado.
A regionalização da saúde causou nova tensão entre os candidatos. Riedel cobrou do deputado o montante necessário para concluir a regionalização no Estado. Contar disse R$ 16 bilhões. “Desconheço e não acredito nisso”, reagiu o tucano, mantendo a linha de desqualificar o adversário por números, repetindo uma estratégia famosa de Ciro Gomes (PDT), que sempre tem números em série para citar nos debates. “São necessários R$ 500 milhões”, estimou.
Capitão Contar aproveitou para criticar a atual gestão. “Oito anos se passaram e nada foi feito. Mas R$ 700 milhões foram gastos com publicidade”, lamentou o deputado. Para o oposicionista, o Governo estadual optou por pagar os jornais e não se sensibilizou com o drama da população.
“O seu governo deveria priorizar a saúde e não priorizou, pessoas morreram na fila e nas estradas indo e vindo (no médico)”, afirmou o deputado. Ele citou o caso de Ladário, que envia as mulheres grávidas para darem à luz em Corumbá porque a única maternidade está fechada. Os dois candidatos prometeram investir na atenção básica, que é dever dos municípios.
No segundo banco de minutos, Capitão Contar acabou ficando com uma sobre de quase quatro minutos e aproveitou para se contrapor ao adversário. Ele disse que a gestão do PSDB reduziu em 32% os salários dos professores em julho de 2019. “Foi uma barbaridade”, lamentou, comprometendo-se a equiparar os vencimentos de temporários e efetivos.
Ele também criticou a gestão de Reinaldo pela queda no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) do 7º para o 18º lugar. Para o deputado, os professores ainda foram prejudicados, porque foram obrigados a tirar dinheiro do próprio bolso para pagar internet, mesmo recebendo menos.
Os dois candidatos se comprometeram a rever o Fundersul. O tucano anunciou que poderá reduzir o valor pago pelos produtores, mas a classe vai indicar qual obra de pavimentação ficará suspensa em troca de taxa menor. Capitão Contar disse que vai discutir com os produtores a melhor forma e dar mais transparência para a aplicação dos recursos.
Os dois candidatos encerraram a participação na TV com o debate. No domingo, os eleitores voltam às urnas para escolher o novo governador de Mato Grosso do Sul. Eles vão optar pela continuidade, com Riedel dando o 3ºmandato do PSDB, ou pela mudança, representada por Capitão Contar.