Mário Pinheiro, de Paris
Os adeptos do pensamento vazio, do nada e da burrice que se traduz pelas alocuções repletas de coices do presidente Bolsonaro, enfrentam neste primeiro turno das eleições, o candidato que viveu a angustia filosófica kafikafiana ou kierkegardiana de ser injustiçado num processo desleal conduzido por um juiz político, raivoso, que comandava o grupo de procuradores.
O caso Dreyfuss, cujo soldado francês foi acusado de traição, ilustra paralelamente a perseguição ao Lula. Para Dreyfuss era o antissemitismo descoberto pelo escritor e jornalista Emile Zola.
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No Brasil, o que está em jogo é a injustiça social, o fim dos direitos trabalhistas por quem ficou no cargo durante um mandato inteiro, lambuzou-se de leite condensado e quis passar a imagem de homem simples, roto e ignorante; do outro lado o candidato de valores humanos que vai impedir que a democracia morra sufocada em outra sessão de tortura.
As ideias políticas do tchutchuca, do centrão e de curiosos do agronegócio se encaixam no interesse egocêntrico de um individualismo doente. O pior é que eles convencem os pangarés fugidos da escola e inimigos da leitura de um livro.
Como se adestra o cão, o grupo dominante do Planalto tentou adestrar os eleitores na coleira do atraso, no desejo de enfiá-los de volta para a caverna de Platão. A imagem seria refletida no fundo da toca, adorando o deus que dita as normas de adoração do vazio.
Na Ética em Nicômaco, de Aristóteles, ele diz que é preciso prudência, luta contra a corrupção, conhecimento e respeito das instituições na vida política. O adestramento é uma palavra frequentemente dirigida aos cães.
O politólogo francês Jacques Lagroye afirma que os fiéis da igreja, sem consciência crítica, aceitam de bom grado serem adestrados no termo bolsonarista e abanam o rabo a cada vez que o boçal abre a boca no cercadinho.
Já o sonho de Platão era unir o poder com o saber, sem passar pelo adestramento, mas pela virtude e pela educação. Vivas a Paulo Freire que sempre exaltou a educação e a consciência.
O fato é que o povo que não foi adestrado ao ponto de baixar a cabeça ao capitão expulso da tropa, àquele que queria trazer de volta a ditadura, a sevícia, a perseguição, a liberação das armas, mudou de opinião. A morte do outro pelo ódio racista não pode triunfar.
É preciso amor. Diante de um adversário sutil nas doidices, acusações e invenções tragadas por um evangelismo que perdeu a noção do que é o bem, Lula pode vencer. Não deu certo a tentativa de implantação do fascismo, que fosse italiano ou alemão.
A família Bolsonaro, amante do tiro e das armas, desejava fazer do Brasil um país onde todo cidadão pudesse ter uma arma e pudesse comprar uma numa banca de bananas. É idiotice, mas uma idiotice partilhada pelos seus seguidores. Com a inflação galopante, salário mínimo achatado, preços exorbitantes, gente cozinhando com lenha, ter arma é ilusão e aberração. É preciso uma luta contra a alienação.