O temor de um golpe milionário vem agitando os bastidores das igrejas católicas em Campo Grande desde a semana passada. Uma empresa de Santa Catarina não construiu usina de energia solar para atender as 328 comunidades apesar de ter recebido o dinheiro em setembro do ano passado. Agora, como as obras nem tiveram início, a Arquidiocese de Campo Grande teme perder R$ 3,3 milhões.
O assunto causou burburinho no último fim de semana, quando o arcebispo de Campo Grande, Dom Dimas Lara Barbosa, publicou um apelo por orações dos fieis para não perder o dinheiro aplicado no empreendimento. O alerta surgiu após outros clientes terem denunciado que também não receberam as famosas placas solares para economizar na conta de luz. (confira o comunicado na íntegra)
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“Infelizmente, o fornecedor escolhido, que havia apresentado a proposta menos custosa, não cumpriu sua parte do contrato, o que nos obrigou a medidas de natureza cível e criminal, que já estão em andamento. Neste novo processo fomos surpreendidos com a constatação de que a mesma empresa também lesou outros clientes”, informou Dom Dimas, no comunicado publicado nas redes sociais da cúria.
Os detalhes do caso estão um processo. Com a finalidade de reduzir a conta de luz das paróquias, capelas e instituições católicas na Capital, Sidrolândia, Bandeirantes, Rochedo, Corguinho, Jaraguari, Ribas do Rio Pardo e Sidrolândia, a Igreja Católica realizou um empréstimo de R$ 3,5 milhões junto ao Sicredi.
O dinheiro foi repassado para a ANL Energia Limpa, de Balneário Camboriú (SC), para construir, no prazo de 270 dias, uma usina de energia fotovoltaica com capacidade para produzir 1 MWp. A empresa ficaria encarregada pela elaboração do projeto, fornecimento de equipamentos, instalação e licenciamento da usina.
Pelo contrato, as placas solares seriam inauguradas em junho deste ano. “Importa registrar que, caso a Requerida tivesse cumprido com todos os prazos estipulados em contrato, os trabalhos teriam sido concluídos até o dia 22 de junho de 2022, e em julho de 2022 a Requerente começaria a produzir a energia necessária para manter suas cerca de 328 unidades consumidoras cadastradas junto a Energisa. Com isso, o valor não pago a concessionária de energia se reverteria para a quitação das parcelas do empréstimo já mencionado”, ponderou a assessoria da Arquidiocese de Campo Grande.
“Com o atraso da obra, a Requerente se vê na difícil situação de ter que quitar as parcelas do empréstimo bancário, e continuar a pagar as contas de energia de cerca de 328 unidades consumidoras em sua totalidade, o que não é aceitável”, frisou. O valor de cada parcela será de R$ 102,4 mil. Serão 48 parcelas.
Uma reunião entre o padre Wagner Divino de Souza, nomeado pelo arcebispo para representar a cúria na negociação, e os representantes da ANL Energia Limpa deverá ocorrer nesta terça-feira (27).
Empresa catarinense culpa pandemia pelo atraso na entrega de usina fotovoltaica
À Justiça, a empresa culpou a falta de peças por causa do coronavírus para não cumprir o acordo com a igreja. “O cenário de pandemia e de ‘pós’ pandemia, como se sabe, trouxe inúmeros prejuízos à economia mundial em decorrência da paralisação de fábricas e meios de transporte”, ponderou, na resposta encaminhada à cúria metropolitana.
“Essa situação afetou de modo significativo a importação dos materiais necessários à implementação da usina fotovoltaica contratada pela Arquidiocese, o que foi comunicado pela ANL em diversos momentos, sempre com a manutenção da boa-fé e transparência entre as partes”, pontuou.
“Ainda que a contratação da usina pela Arquidiocese tenha ocorrido já no cenário de pandemia, os atrasos na produção, transporte internacional, desembaraço aduaneiro e demais etapas da importação dos equipamentos causados pelas restrições foram muito superiores às estimativas apresentadas pelos fornecedores à ANL, o que impactou diretamente na implementação da usina contratada pela Arquidiocese”, explicou-se, negando a intenção de dar um golpe nos fieis.
“Entretanto, a postura da notificada ANL sempre foi no sentido de possibilitar a execução do contrato e não causar prejuízos à Arquidiocese, ainda que mediante altíssimo custo financeiro pessoal”, afirmou.
“Vale ressaltar que, conforme trazido pela Arquidiocese, a ANL obrigou-se ao pagamento de todas as parcelas do financiamento até a entrega da usina fotovoltaica em pleno funcionamento, o que se reitera nessa oportunidade”, propôs. A empresa também disse que conseguiu cercar o imóvel onde será construída a usina, mas a igreja teria recusado dar continuidade ao contrato.
Dom Dimas alerta para “tempo muito difícil”
O arcebispo está pessimista com o desfecho da história. “Sem dúvida, um tempo muito difícil se nos aproxima. Peço as orações de todos, e conto com a participação efetiva de cada fiel – padres, diáconos, religiosos e leigos – de nossa Arquidiocese nas ações que faremos para buscar os recursos necessários para sanar essa dívida. Juntos, com a graça de Deus, haveremos de superar essa tormenta”, concluiu Dom Dimas.
O Jacaré tentou contato com o padre Wagner, mas o sacerdote não retornou.