As candidatas Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil) foram apontadas como destaques do debate entre os candidatos a presidente da República realizada neste sábado pelo SBT, Terra, Estadão, Eldorado e revista Veja. A ex-bolsonarista virou meme ao criticar Jair Bolsonaro (PL) com piada sexista, ao mencionar “vara curta”, e fazer um o que é, o que é para criticar as prioridades do atual Governo.
Conforme cientistas políticos ouvidos pelo Terra, as sul-mato-grossenses foram destaques positivos do confronto. “O candidato Padre Kelmon (PTB), por outro lado, foi apontado como exemplo de mal desempenho no debate. Além de não ser padre nem integrar a congregação da Igreja Ortodoxa Católica, o religioso teria adotado postura “vergonhosa” e atuado como como “cabo eleitoral” de Bolsonaro.
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Para o cientista político e professor da FGV Eduardo Grin, a candidata Simote Tebet teve a melhor performance do debate ao fazer perguntas sobre fome, desemprego, inflação e a merenda escolar.
“Acho que Simone Tebet mais uma vez mostrou-se muito contundente, muito assertiva nas perguntas. Ela fez perguntas de questões sérias hoje no Brasil e tem um foco muito claro que é falar com a mãe brasileira, com as pessoas pobres e que passam muita dificuldade. Acho que ela conseguiu acertar bem na agenda dos temas que abordou”, avaliou, em conversa com o Terra.
“Candidato que saiu do nada, atuando não como linha auxiliar do Bolsonaro, mas como um cabo eleitoral explícito”, afirmou, sobre Kelmon. “A postura do candidato pode até prejudicar Bolsonaro, por indicar que havia um jogo combinado entre os dois”, pontuou.
Risco também de Bolsonaro perder votos do eleitorado feminino. Apesar de bastante orientado pela sua campanha, ele mais uma vez atacou Tebet e Thronicke durante o debate. “A segunda questão, que fica claro no discurso de Bolsonaro, é com quem ele quer dialogar para tirar votos do ex-presidente Lula: os pobres que vivem no Nordeste”, acrescenta.
Segundo o cientista político, por esse motivo o presidente enfatiza tanto o Auxílio Brasil, ao comparar o valor da renda com o do Bolsa-Família e ao afirmar que seu governo é o que mais ajudou os pobres.
“Bolsonaro se deu conta que não vai ganhar a eleição com eleitor acima de dois salários mínimos. Ele precisa tirar o voto de Lula. Então, nesse sentido acho que ele buscou esse tipo de diálogo, mas, a meu juízo, não é convincente, porque as pesquisas dizem e seguem mostrando que a população sabe que ele fez esse tipo de política para fins eleitoreiros. O debate era talvez uma das últimas oportunidades para ele tentar colocar algo novo pra reverter uma tendência de voto que lhe é muito desfavorável”, analisa.
Ausência de Lula altera dinâmica
Segundo Eduardo Grin, não é incomum que presidenciáveis que disputam as eleições no Brasil faltem a debates. Fernando Henrique fez isso, Lula também já fez isso, assim como Collor e Bolsonaro em 2018.
“E é normal que todos os presidentes apanhem, digamos assim, na ausência do debate. Lula hoje mais uma vez teve essas críticas”, observa.
O cientista político Fábio Pereira de Andrade afirma ao Terra que, em seu ponto de vista, o tema predominante no debate contraria as expectativas do público. Para ele, os eleitores não querem só saber sobre corrupção, mas gostariam de ouvir propostas. “Estamos em um cenário que, mesmo que a inflação esteja em queda, ela é alta. Em que mesmo que esteja se recuperando na criação de emprego, a renda do brasileiro é baixa”, avaliou.
Segundo Andrade, apesar do cenário econômico preocupante do País, não foram apresentadas propostas para enfrentar essa situação. Assim como Eduardo Grin, o cientista político também criticou a postura de Padre Kelmon. “Um candidato que claramente veio para ser linha auxiliar na pauta dos costumes, da moral e do aborto”, diz.
Soraya
“Ela se comunicou de uma maneira muito desenvolta, com figuras de linguagem muito populares, provocando risos aqui e, acredito, em quem estava assistindo também. Será suficiente para atrair votação? Não, mas a política não acaba em 2022. Então, temos políticos jogando para 2026. Ciro Gomes também pode impressionar, mas acho que ele tem dificuldade de criar vínculos com os populares”, avaliou.
Soraya acabou fazendo um jogo de perguntas para criticar Bolsonaro na abordagem com o cientista social Felipe D’Ávila (Novo). “O que é o que é? Não reajusta merenda escolar, mas gasta milhões com leite condensado. Tira remédio da Farmácia Popular, mas mantém a compra de Viagra. Não compra vacina para a covid, mas distribui prótese peniana para os seus amigos. O que é o que é?”, questionou a senadora sul-mato-grossense.
Em outro ponto do confronto, ela usou a mesma malícia de Bolsonaro. Ao ser atacada pelo presidente, de que teria usado R$ 114 milhões do orçamento secreto, a candidata do União Brasil reagiu com ironia.
“Quero dizer ao candidato Jair Bolsonaro: não cutuque onça com a sua vara curta. Respeito. Primeiro, que nós não votamos como Vossa Excelência disse. Segundo, que todas as minhas indicações do Congresso Nacional estão nas suas mãos, públicas. Eu desafio o senhor a mostrar e a abrir todas as indicações de emenda de relator dos demais parlamentares do nosso Congresso. As minhas estão na sua mão, na mão de todos os brasileiros, de toda a imprensa, há muito tempo”, afirmou, causando risos na plateia.
Sem tom agressivo
A cientista política Juliana Fratini destaca que o debate não chegou a ser agressivo e os candidatos agiram de forma correta ao cobrar a presença de Lula na discussão. No entanto, faltou ao debate propostas para temas caros ao brasileiro, como saúde e segurança pública, além de agronegócio.
“Temas ecológicos também não ouvimos falar, e é um dos mais importantes em relação ao Brasil, já que o País está no olho internacional”, acrescenta a especialista, que também chama a atenção para os ataques ao feminismo e a importância de se discutir igualdade de gênero.