Candidata a presidente da República, a senadora Soraya Thronicke (União Brasil) afirmou, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, que nunca foi bolsonarista. Ela também fez duras críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem acusou de abalar a frágil democracia brasileira com “declarações”.
A senadora também falou da evolução patrimonial, conforme declaração feita à Justiça Eleitoral, e aproveitou para alfinetar a família Bolsonaro ao dizer que nunca comprou 51 imóveis em dinheiro vivo.
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Eleita na onda do bolsonarismo em 2018, superando políticos tradicionais, como Waldemir Moka (MDB) e Zeca do PT, Soraya não deixa dúvidas de que não faz mais parte do grupo. “Eu nunca fui bolsonarista. Eu apoiei Bolsonaro. Eu fui anti PT. Mas Bolsonaro não tem uma filosofia que eu tenha algum dia abraçado”, reagiu.
“A filosofia que eu abracei, e que Bolsonaro disse ter abraçado, é a de uma direita racional, consciente. A pauta econômica independe de questão ideológica. O Bolsonaro virou o bolsonarismo para aquelas pessoas que precisam de um mito, de um Messias. E não é isso que eu fui”, explicou.
Em seguida, a presidenciável criticou os seguidores de Bolsonaro, que sempre a criticam nas redes sociais. “E sim, eles são muito violentos nas redes sociais, muito covardes na briga política. Não conseguem discutir de forma educada, urbana, democrática. A gente perde realmente a segurança, (mas) eu não vou deixar de falar. Não vão me amedrontar. Não vou deixar que gente desse tipo faça isso em nome da liberdade de expressão e em nome de Jesus”, afirmou.
A senadora ainda criticou Bolsonaro pela ameaça contra a democracia. “Muitas declarações dele nos fazem acreditar que alguma coisa ele abalou, sim, dentro dos três Poderes, das instituições. Ele não é o conservador que diz ser. Estamos preocupados. O mundo lá fora também está olhando com olhos desconfiados. Certas alegações dele indicam que precisamos estar atentos”, alertou.
“Ao longo desses três anos, são tantas coisas… O que eu tenho aqui para dizer é que me preocupa. Ele permite que seus apoiadores falem em fechar o Congresso. Alguns se manifestam sobre AI-5 (ato institucional da ditadura), sobre fechar o STF. E um grande líder deveria dizer o seguinte: ‘Não quero faixas sobre isso, porque causa instabilidade dentro do nosso país’”, aconselhou.
Por outro lado, a candidata criticou a campanha conduzida por artistas e parte da classe política pelo voto útil para garantir a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno. “Acho um absurdo. O voto útil é mais uma forma de enganar a população. O primeiro turno existe justamente para que as pessoas possam escolher, e o Luiz está causando medo naqueles que não gostam do Jair. Isso é inadmissível”, condenou.
Soraya também falou sobre o dinheiro declarado ao TSE. “Agora são R$ 250 mil. É bastante. É o que eu tinha em dinheiro vivo no momento da declaração. E por que fiz isso? Faz mais de dois, três meses que estou fora de casa. A gente ajuda o meu sogro, sogra, familiares. Nós deixamos recursos ali em mãos para que eles pudessem utilizar numa emergência”, justificou-se.
“Então assim, declarei. É possível, não é proibido por lei. Sabia disso, né? R$ 10 mil é pouco, é permitido. Eu acho pouco. Mas eu costumo ter. A gente sempre tem algum recurso em dinheiro para qualquer necessidade. Para pagar funcionário, alguma coisa assim. É absolutamente natural; se não fosse, eu sequer declararia. Não há proibição, não há problema nenhum”, explicou.
“Mas eu precisei me ausentar por um longo tempo e deixei tudo pronto, se a minha família precisar. Para compras do dia a dia, para tudo isso. Porque a gente não tem condição sequer de fazer um Pix, porque não dá tempo”, concluiu.
Ela também explicou sobre a evolução patrimonial de R$ 10 mil para R$ 783 mil entre 2018 e 2022. “Naquele momento, na correria do registro da candidatura, o contador colocou apenas o que eu havia declarado em dinheiro vivo. O restante do meu patrimônio ele não colocou. Eu tentei retificar, mas não dá para fazer igual ao Imposto de Renda”, explicou.
“O valor (total) é praticamente o mesmo [em 2018 e 2022]. Mesmo que assim não fosse, só o salário do Senado já permite que eu tenha amealhado isso. Mas (o patrimônio) tem origem. Diferentemente de muita gente que compra em dinheiro vivo 51 imóveis. A gente vai ter que perguntar para essas pessoas: o que é isso?”, disse, aproveitando para criticar o ex-aliado.