Professora de História e dona de uma carreira política meteórica, Rosieane Modesto de Olvieira, simplesmente Rose Modesto, 44 anos, é candidata a governadora pelo União Brasil após sempre militar no PSDB. Com o apoio do Podemos, a deputada federal propõe o “maior programa de transferência de renda” da história de Mato Grosso do Sul, que terá o investimento de R$ 1 bilhão por ano em programas sociais.
“Quero ser reconhecida como a governadora que mais entregou e não a que mais arrecadou”, ressalta, numa crítica indireta ao ex-aliado, Reinaldo Azambuja (PSDB), famoso por aumentar impostos, como a alta de 40% no IPVA dos automóveis e de 20% no ICMS sobre a gasolina. “Vou manter a alíquota de 17% do ICMS sobre energia, combustíveis e telecomunicações”, frisa, garantindo manter a coerência, já que votou a favor da proposta na Câmara dos Deputados.
Veja as entrevistas dos candidatos e candidatas:
Evangélica e petista, Giselle quer zerar ICMS sobre energia e construir hospital federal
“Tenho plano de trabalho, não de poder” e “não vou deixar roubar”, garante Capitão Contar
Marquinhos propõe desfazer “maldades” de Reinaldo e “caravana da saúde” permanente
Adonis propõe PPP para resolver problemas na saúde e manter ICMS de 17% nos combustíveis
Rose Modesto falou das propostas durante um café com o editor de O Jacaré no Jardim Gastronômico Recanto das Ervas, no Centro. A entrevista exclusiva foi concedida na última quinta-feira (15).
A candidata a governadora do união Brasil nasceu em Culturama, distrito de Fátima do Sul, onde viveu até os 7 anos, quando acompanhava os pais nas lavouras. Única mulher entre os sete irmãos, ela passou a morar com a família em Campo Grande. Formou-se em História pela UCDB (Universidade Católica Dom Bosco).
Por 12 anos, Rose trabalhou como professora nas escolas públicas estaduais e municipais da Capital. Em 2001, como professora na Escola Municipal Padre Thomaz Ghirardelli, no Bairro Dom Antônio Barbosa, um dos mais pobres da cidade, ela deu início a um projeto de tirar as crianças do lixão para participar de aulas de música.
Com a ajuda de colegas da escola, Rose arrecadou 40 violões para formar um grupo de música em 2001. Para garantir a participação dos estudantes nas aulas três vezes por semana, das 17h às 18h30, ela também arrecadou cestas básicas para os contemplados pelo projeto. O objetivo era impedir que os pequenos artistas não voltassem ao frequentar o aterro sanitário.
A proposta deu certo e chamou a atenção do então prefeito André Puccinelli (MDB), que se emocionou a ver a apresentação dos pequenos violeiros no Palácio Popular da Cultura. Ele decidiu estender o projeto para outros estabelecimentos e criou o Departamento de Esportes, Arte e Cultura da Secretaria Municipal de Educação.
A Rose passou a ministrar o programa Aprendendo com Música, que contemplou oito escolas. A história da professora mudou de rumos após o irmão, Rinaldo Modesto, o Professor Rinaldo, ter ganho a primeira eleição após quatro derrotas consecutivas. Ele foi eleito vereador em 2004 e deputado estadual em 2006. O grupo político a escolheu para substitui-lo na disputa de uma vaga na Câmara Municipal em 2008.
Rose foi eleita vereadora e reeleita para o segundo mandato como a mais votada da Capital em 2012. Dois anos depois, ela acabou sendo escolhida para ser candidata a vice-governadora na chapa de Reinaldo Azambuja (PSDB) em uma eleição considerada quase perdida, diante do favoritismo de Delcídio do Amaral, então no PT. A dupla acabou sendo eleita no segundo turno.
Quatro anos depois, em 2018, Rose Modesto acabou sendo eleita deputada federal com mais de 120 mil votos – o percentual de 10% lhe rendeu o título de maior votação proporcional do Brasil.
Nos dois mandatos como vereadora, conforme Rose, um dos destaques foi a lei de cirurgias reparadoras para mulheres vítimas de violência. Outra foi a legislação que instituiu as políticas de combate ao bulling nas escolas. Também foi autora do botão do pânico para ajudar mulheres a acionar a patrulha Maria da Penha.
A frustração da deputada é que uma lei municipal, que previa a criação do Vale Universidade para alunos carentes, apesar de estar aprovada, nunca ter saído do papel. Pela proposta, a prefeitura pagaria 70% da mensalidade para mil universitários, enquanto a instituição de ensino pagaria 20% e o aluno, 10%.
Como vice-governadora, ela foi secretária estadual de Direitos Humanos, Assistência Social e do Trabalho por um ano e dois meses no primeiro mandato de Reinaldo. Ela criou o Rede Solidária, para oferecer o contraturno para os estudantes carentes dos bairros Dom Antônio Barbosa e Jardim Noroeste, na Capital.
Por meio do Vale Renda, ela conseguiu oferecer cursos de qualificação profissional para 5 mil mulheres e ampliou os números de beneficiários dos vales Universidade e Indígena. Também diz ter elevado em 30% o valor disponibilizado pelo FIS (Fundo de Investimentos Sociais), que incluiu o repasse aos municípios.
“Tive pouco tempo, mas por onde passei, consegui melhorar os números”, avalia, sobre o papel desempenhado no legislativo e como secretária. Aliás, ela só cumpriu um mandato como deputada federal, que termina em fevereiro de 2023.
Rose foi uma das responsáveis pela lei do novo Fundeb (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica), que ampliou o investimento federal de 10% para 23%, e assegurou o destino de 70% dos recursos para o pagamento de salários dos profissionais da educação.
Ela é uma das autoras do projeto de lei que eleva de 12 para 20 anos de prisão a pena para autores de feminincídio. Além de penas mais pesadas, a proposta prevê o cumprimento da pena em regime fechado, sem direito as saidinhas e regressão de pena. No entanto, a medida ainda precisa ser aprovada no Senado.
Como deputada federal, ela garantiu investimentos de R$ 80 milhões em emendas individuais para Mato Grosso do Sul. Rose inclusive destinou R$ 120 milhões do polêmico orçamento secreto para os municípios. “Não era secreto, porque eu sempre divulguei tudo nas minhas redes sociais”, garante a candidata. Os recursos foram destinados para a construção de 35 escolas municipais e 18 ônibus para o transporte de alunos na zona rural.
Em 2016, Rose teve a primeira disputa para um cargo majoritário. Ela disputou o cargo de prefeita de Campo Grande. No segundo turno, ela acabou obtendo 42%, quando perdeu para Marquinhos Trad (PSD). “Foi uma eleição dura”, avalia.
“Para a mulher é muito mais difícil do que para os homens, porque precisa ficar provando todo dia que é capaz”, frisa. No caso da disputa pelo Governo, a deputada do União Brasil lembra que os homens, mesmo que nunca tenham administrado nada, não sofrem a mesma cobrança dela, apesar de já ter ocupado a Secretaria de Assistência Social.
Nas eleições deste ano, Rose acabou sendo preterida por Reinaldo na disputa estadual. O tucano acabou optando pelo ex-secretário estadual de Governo e de Infraestrutura, Eduardo Riedel (PSDB), que tem até ficado atrás da parlamentar nas pesquisas.
Ela nega enfaticamente que seja a candidata número 2 do governador. “O Riedel é o que representa melhor as ideias do Reinaldo”, garante. Segundo a candidata, o tucano comanda um boicote à sua campanha, como o de vetar de prefeitos recebe-la nas cidades e até de proibir aliados de participarem das suas reuniões. Além disso, ela garante que seus aliados foram exonerados do Governo.
Uma das propostas de Rose é valorizar os professores estaduais. A prioridade vai ser equiparar os salários dos convocados e concursados. Atualmente, dos 19,5 mil docentes, 12,5 mil são temporários e recebem quase metade do salário do efetivo. “Isso é muito ruim”, lamenta.
De acordo com a Rose, quando Reinaldo enviou o projeto para a Assembleia Legislativa, propondo a redução em julho de 2019, ela ligou para o tucano e pediu para retirar a proposta. “Foi um erro gigantesco e injusto demais”, afirma, citando o irmão, Rinaldo, que era líder do Governo no legislativo e votou contra a redução nos salários.
Rose planeja criar escolas de tempo integral, mas com tecnologia e merenda de qualidade para atrair os estudantes. Na sua avaliação, a atual gestão implantou o modelo em metade das 349 escolas, mas não assegura a qualidade aos estudantes. Como exemplo, cita computadores de 2008.
Ela pretende criar o maior programa de estágio remunerado do Estado, com 4 mil estudantes sendo beneficiados ao longo do mandato. Eles vão receber uma bolsa de R$ 600 por mês.
Outra aposta é o “Tem Renda”, programa que prevê o investimento de R$ 1 bilhão em ações sociais. Na prática, ela vai elevar o investimento em 53%, considerando-se que o Governo atual já aplica R$ 650 milhões.
O Mais Social deve passar de R$ 300 para R$ 600 em quatro anos. O valor da bolsa atual é metade do valor pago pelo Governo federal. Rose quer priorizar as nove cidades em que a maior parte dos moradores vivem em extrema pobreza. “Tem dinheiro”, garante.
Como exemplo, ela cita licitação de R$ 280 milhões feita por Reinaldo para locação de tendas e arquibancadas. “Vou rever e destinar o dinheiro para a população mais vulnerável”, promete.
Rose promete retomar o programa de financiamentos para pequenos empreendedores, que era chamado de Banco do Povo na gestão de Zeca do PT e de Credigente por Puccinelli. Ela quer criar o Banco Popular para impulsionar pequenos negócios. “Vamos oferecer financiamentos sem burocracia”, compromete-se. O Banco da Mulher vai priorizar as empreendedoras.
Na saúde, ela considera que o maior gargalo é a realização de cirurgias, onde a fila é imensa e a espera é longa. Ela critica a Caravana da Saúde por só ser realizada a cada dois anos e não atender a demanda. Para resolver o problema, a candidata pretende fazer convênios com hospitais particulares e aproveitar a estrutura dos estabelecimentos já existentes.
“Vou fazer o dinheiro chegar onde precisa”, garante, sobre o Fundersul, que deve arrecadar mais de R$ 1 bilhão. Na sua avaliação, apesar da arrecadação bilionária, produtores rurais ainda enfrentam problema para escoar a safra, já que 56% das rodovias seguem sem pavimentação e 86% das pontes ainda são de madeira.
Rose defende parceria com a União para retomar as ferrovias para baratear o custo do transporte da produção. Ela quer se empenhar em pressionar a União para tirar do papel os projetos bilionários de ferrovia no Estado, como a Ferroeste, que está em discussão desde a gestão de André e não conseguiu colocar nem um quilômetro de trilho em MS.
Além da política, a deputada ainda mantém o projeto social Tocando em Frente desde outubro de 2009. Na antiga casa da família no Conjunto Parati, na Capital, 480 crianças são atendidas por 12 professores. Ao longo de 13 anos, conforme a deputada, cerca de 8 mil crianças e adolescentes de 2 a18 anos foram contemplados.
O Jacaré abriu espaço para todos os oito candidatos a governador de MS, mas alguns não aceitaram dar entrevista até o momento.