Advogada e filiada ao PT desde 1986, a advogada Giselle Marques de Araújo, 54 anos, é candidata a governadora após a desistência da principal estrela do partido, o ex-governador Zeca do PT. Além de priorizar os programas sociais, uma das bandeiras da sigla, a petista propõe zerar o imposto sobre a energia elétrica, atualmente em 17%. “Não vai quebrar o Estado”, garante, apostando que a medida elevará a receita e atrairá mais indústrias.
“A tarifa de luz está muito cara, há uma grita geral”, propõe a candidata. Antes do Governo de Jair Bolsonaro (PL) intervir nas gestões estaduais, o ICMS sobre a energia era de 29% em Mato Grosso do Sul. Giselle estima que a isenção terá impacto de 10% na receita estadual – que terá orçamento de R$ 22 bilhões em 2023.
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Candidata a governadora da Federação composta pelo PV e PCdoB, Giselle nasceu em Campo Grande e morou em Corumbá dos 7 aos 14 anos. Formada em Direito pela Fucmat (atual Universidade Católica Dom Bosco), ela tem mestrado e doutorado em Direito. O pós-doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional ocorreu pela Uniderp-Anhanguera, onde passou a atuar como professora.
No final dos anos 90, ela foi presidente do Centro de Defesa dos Direitos Humanos Marçal de Souza, quando ganhou notoriedade ao denunciar as execuções na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai. O trabalho lhe rendeu ameaças de morte, como mensagens de que “a fronteira não é brincadeira” e “deixa o DOF trabalhar”. As ameaças fizeram mudar de casa para um apartamento em busca de mais segurança.
Como dirigente do CDDH, ela viabilizou a instalação do Provita – programa de proteção de testemunhas vítimas de violência – em Mato Grosso do Sul. O programa era administrado pelo Ministério da Justiça.
Como advogada foi eleita secretária-geral da OAB/MS, quando a entidade era presidida por Carlos Marques, e viabilizou a construção da atual sede.
No primeiro mandato de Zeca, Giselle foi gerente de licenciamento ambiental. Na ocasião, ela foi autora do parecer contra a instalação do Presídio Federal ao lado do lixão, na saída para Sidrolândia. O documento acabou retardando o início da obra e causou a fúria do então prefeito, André Puccinelli (MDB), que defendeu a penitenciária no local.
Ainda na gestão do petista, Giselle acabou assumindo o cargo de superintendente regional do Procon. Um dos destaques da sua atuação foi a publicação de relatório com os 10 setores que mais violavam o direito do consumidor. Também obrigou as empresas a realizar atendimento presencial e não apenas pelo 0800 dos clientes.
Giselle Marques se tornou evangélica em 2005. Atualmente, frequenta a 4ª Igreja Batista de Campo Grande. “Há uma perfeita consonância entre ser evangélica e petista. Jesus é líder do amor e da inclusão social”, justifica-se. E cita como o Ato dos Apóstolos, que descreve o início do cristianismo, como um dos principais da Bíblia. “As pessoas vendiam tudo o que tinham e repartiam o pão”, explica.
A petista vê como grande equívoco de igrejas evangélicos usarem o púlpito para fazer política partidária. “Nunca usei para pedir votos”, garante. Ela condena o apoio de parte dos evangélicos à reeleição de Bolsonaro. “Jesus prega o amor. Bolsonaro incita o ódio contra as mulheres, os negros, os petistas, LGBTQI+”, cutuca.
Apesar de propor a isenção do ICMS sobre a energia, Giselle critica Bolsonaro por reduzir o ICMS sobre os combustíveis. Ela lembra que o litro da gasolina estava custando R$ 8, mas caiu com a proximidade das eleições. “Bolsonaro está enganando o povo, por que não fez nos três anos e meio e só (reduziu) na véspera da eleição?”, questiona.
“Até o preço da cesta básica está dolarizado”, lamenta. Ela propõe parceria com o Lula, caso o petista seja eleito, para reduzir o preço dos alimentos e combater a fome. “Vamos reduzir o preço dos alimentos”, promete.
Giselle é contra a política de aumento da carga tributária e de superávit alto de Reinaldo Azambuja (PSDB). “MS tem R$ 1,9 bilhão em caixa, enquanto 91 mil moradores são analfabetos. O meu compromisso é erradir o analfabetismo”, promete.
“Não sou a favor de sobrar dinheiro em caixa enquanto estiverem 80 mil pessoas sem casa”, critica. “Há um equívoco na gestão pública”, lamenta. E chama Reinaldo de “tio Patinhas”, por priorizar acumular dinheiro em vez de melhorar a vida do povo sul-mato-grossense.
No caso da agricultura familiar, ela pretende retomar projeto da gestão de Zeca do PT, que comprava os produtos dos pequenos produtores rurais para reforçar a merenda nas escolas. “Não tem frutas, verduras nem legumes nas escolas”, critica, classificando a merenda da gestão tucana como “pobre nutricionalmente”.
Para recuperar a economia, com geração de empregos, Giselle quer focar na indústria e no turismo. “Estamos muito focados no agronegócio, que menos paga impostos e menos gera empregos”, acredita.
Para a população de 80 mil índios no Estado, a petista defende a demarcação das terras indígenas. “Índio não é preguiçoso”, garante, propondo o desenvolvimento sustentável nas aldeias e programa para escoar a produção e viabilizar a venda de artesanatos pelos índios.
Na educação, Giselle pretende corrigir a distorção, implantada pela gestão do PSDB, entre professores convocados e concursados. “Vamos pagar o mesmo salário para o concursado e o temporário”, propõe.
“Vamos realizar concurso de verdade para as pessoas passarem, não para atender o Ministério Público Estadual e ninguém ser aprovado”, afirmou, criticando o concurso tucano que reprovou 99% dos professores inscritos.
Na área da saúde, Giselle repete de que o PT construiu 10 hospitais e concluiu, inclusive, o Hospital Regional de Mato Grosso do Sul Rosa Pedrossian. “Falta ampliar os atuais hospitais (do interior) para atender a média e alta complexidade”, promete.
Como não há hospital municipal em Campo Grande, ela aproveita para criticar os concorrentes. “Tivemos dois médicos (André Puccinelli e Nelsinho Trad) que foram prefitos, mas não construíram um”, lamenta. Giselle pretende contar com o apoio de Lula para construir o primeiro hospital federal em Campo Grande, como existe no Rio de Janeiro.
A advogada critica a gestão de Reinaldo pela demora na conclusão dos hospitais e pela terceirização. “O Governo levou oito anos para construir dois hospitais e entregou para as Organizações sociais”, ponderou. Ela critica as ‘OS’ por não prestarem serviço de qualidade e por pagarem salários baixos para os profissionais de saúde.
Já na área de infraestrutura, Giselle planeja destinar 30% do Fundersul para pavimentar os acessos às aldeias, assentamentos e quilombolas. “70% (da produção) é da agricultura familiar”, argumenta. “Estamos perdendo produção por falta de condições de escoamento”, avalia.
Na área social, Giselle pretende manter o atual programa social, mas se compromete a elevar o valor dos atuais R$ 300 para R$ 500 por família. E ainda estudaria uma forma de pagar um valor maior para garantir a compra de produtos da agricultura familiar.
Esta é a segunda eleição de Giselle. Em 2018, ela foi suplente de senadora de Zeca do PT, que acabou obtendo 294 mil votos. Na sua avaliação, a população não tem rejeição ao partido. “As pessoas têm sede do Lula. Eu sou a candidata do Lula”, afirma. “Vários candidatos não se posicionaram, mas eu sou a candidata do Lula”, reafirma.
Durante a campanha, Giselle passou a ser criticada por não ter declarado nenhum bem à Justiça Eleitoral, apesar do escritório e da residência ficar no Bairro Santa Fé, uma áreas das mais nobre e valorizada da Capital.
“Nunca fui ligada em bens materiais”, garante. “Sempre advoguei para sindicatos dos trabalhadores”, completa. No entanto, o patrimônio sempre é colocado em nome das três filhas para usufruto. “Não vão precisar fazer inventário, que é caríssimo”, explica.