Tataraneto de José Antônio Pereira, fundador de Campo Grande, e Capitão do Exército, Renan Barbosa Contar, o Capitão Contar, 38 anos, deixa claro porque está na disputada deste ano: “quero ser governador porque não quero mais bater, não vou deixar roubar”. Principal nome de oposição ao governador Reinaldo Azambuja (PSDB), ele se propõe a moralizar a gestão pública, humanizar o atendimento à população, reduzir impostos e garantir serviços de qualidade.
“Vou usar a inteligência tributária como fizeram em Santa Catarina e Minas Gerais, para arrecadar mais cobrando menos impostos, estimulando o consumo e tornando o Estado mais competitivo”, garante o candidato a governador pelo nanico PRTB e com o apoio do Avante. “Tenho plano de trabalho, não tenho plano de poder”, afirmou durante a entrevista durante um café no jardim gastronômico Recanto das Ervas, no Centro.
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Apesar da família ser da Capital, Contar nasceu em Campinas (SP). Aos 18 anos, ele passou na seleção para ingressar na escola preparatória de Cadetes do Exército concorrendo com mais de 200 candidatos por vaga. Assim como o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ele frequentou a Academia Militar das Agulhas Negras, a prestigiosa AMAN.
Formado no curso superior de Intendência, que o capacitou para gestão administrativa, licitações, gestão de pessoal e pregoeiro, Capitão Contar optou por servir no Exército em Campo Grande, onde atuou por 12 anos até ser eleito deputado estadual em 2018, com 78.390 votos, impulsionado pela onda a favor de Bolsonaro.
Inicialmente, a vida política nunca esteve no radar do militar. Em 2017, ao encontrar o deputado federal Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro, ele acabou sendo instigado pelo companheiro a ingressar na política. “Lá no Mato Grosso do Sul tem candidato nosso da tropa?”, teria questionado o atual presidente. “A gente tem que se mobilizar”, cutucou.
Em novo encontro em 2018, em Brasília, Bolsonaro teria sido mais direto. “E aí capita, vamos?”, teria convocado. No entanto, ainda assim, Contar avaliou que não tinha estrutura, não contava com recursos nem estrutura para disputar a eleição. “Não tenho padrinho político”, avaliou.
No entanto, a esposa, a empresária e publicitária Iara Diniz Contar Contar, convenceu-o a aceitar a missão. “Você não precisa de marqueteiro e eu posso te ajudar”, aconselhou. Durante a campanha, Contar percorreu os 79 municípios em cima de uma motocicleta GS 1200 cilindradas.
Agora, ao disputar o cargo de governador, Capitão Contar aposta no prestígio de Jair Bolsonaro no Estado. Conforme as pesquisas, o presidente lidera com cerca de 40% das intenções de voto. No entanto, ele disputa o voto bolsonarista com o ex-secretário estadual de Governo e de Infraestrutura, Eduardo Riedel (PSDB).
“Quando o Riedel foi às ruas defender o Bolsonaro? Nunca. Nem seguidor do presidente era”, afirma o candidato. O tucano só passou a seguir o presidente nas redes sociais após o fato se tornar público. Capitão Contar aposta na fidelidade ao presidente para obter o apoio dos bolsonaristas no Estado. “Aqui o povo sabe quem é Bolsonaro de verdade”, destacou.
Como deputado, ele é o relator da CPI da Energisa, que tem como prioridade investigar se há erro nos medidores de energia da concessionária. Os relógios foram entregues para perícia no laboratório da USP (Universidade de São Paulo). Para ter certeza de que os medidores seriam entregues, o deputado escoltou o caminhão de Mato Grosso do Sul até o laboratório. No entanto, o trabalho foi suspenso pelo Tribunal de Justiça, que acatou pedido da poderosa concessionária de energia.
Como deputado, ele se notabilizou por votar contra os projetos do Governo, como a redução de 32% nos salários de 9 mil professores convocados e o aumento de tributos, como ICMS sobre a gasolina, de 71% no Fundersul e do ITCD. “Fui o único cara que não aceitou qualquer benesse por ser deputado. Tive muita liberdade”, assegurou.
Capitão Contar foi o único deputado a propor o impeachment de Reinaldo após o escândalo da JBS, de que teria pago R$ 67,7 milhões em propinas ao governador em troca de incentivos fiscais. “É improbidade administrativa, se tivéssemos um parlamento forte e independente, a história de Mato Grosso do Sul seria outra”, garantiu o deputado.
“A sensação de impunidade é muito grande, eles não têm medo da lei”, lamentou o candidato, sobre o fato de ninguém ainda ter sido punido, cinco anos após a delação premiada da JBS ser homologada pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal.
O deputado aproveito a história para criticar o principal adversário no grupo bolsonarista. “o Riedel esteve por trás do Governo do Reinaldo o tempo todo (como secretário de Governo no primeiro mandato e de Infraestrutura no segundo), não fez nada para coibir o chefe”, criticou, enumerando os escândalos através das operações de combate à corrupção, como Vostok (propina da JBS), Penúria (desvios na compra de cestas básicas), Clean (superfaturamento na compra de material de limpeza das escolas) e Aprendiz (desvios por meio dos contratos com agências de publicidade), entre outros. “Não é possível secretário de Governo nunca enxergar nada”, questionou.
“Seria radical com o que for errado”, garantiu o candidato a governador. Capitão Contar promete mais transparência no gasto do dinheiro público, inclusive, de mostrar quais meios de comunicação, como sites, jornais, rádios e emissoras de televisão recebem do Governo.
Aliás, essa foi uma luta inglória no legislativo. O deputado tentou obter o detalhamento dos gastos com publicidade das verbas da covid-19, mas os deputados barraram o requerimento, em manobra rara, já que a Assembleia sempre aprova pedidos de informações dos parlamentares. Nem o Tribunal de Justiça aceitou o pedido para obrigar Reinaldo a detalhar o gasto milionário com publicidade.
“É inconcebível a corrida do facho gastar milhões com tendas, enquanto falta remédios nas farmácias”, critica. Ele também diz que o secretário não pode andar de caminhonete Amarok enquanto os fiscais da vigilância sanitária não fiscalizam por falta de carro.
Também lembrou de equipamentos parados por falta de manutenção. “Saúde é vida, não pode esperar”, ressaltou.
Contar também lembrou do gasto com a montagem do hospital de campanha para tratar os pacientes com covid-19. A gestão do PSDB gastou uma fortuna para montar a estrutura quando não precisava e a desmontou no ápice da pandemia, quando mais precisava.
Uma das prioridades de Contar será a realização de auditorias para apurar desvios e possíveis mau uso de recursos públicos. “Não farei vista grossa alguma com a corrupção”, garantiu,
Uma das prioridades será o programa fila zero na saúde, com o objetivo de zerar as filas de cirurgia e dar mais transparência na longa lista de espera dos pacientes. Capitão Contar elogia a Caravana de Saúde, que poderá ser mantida em eventual mandato, mas com planejamento para se tornar mais eficiente. Ele também propõe o Nascer Bem, para acompanhar gestantes e o recém-nascido nos primeiros mil dias.
Na educação, o candidato não se compromete a retomar a isonomia salarial entre efetivos e não concursados. No entanto, compromete-se a “achar uma equação justa para que não haja disparidade” entre os profissionais contratados e concursados. Uma das metas será dobrar o número de escolas cívico-militares em dois anos.
O candidato se compromete a priorizar obras mais importantes para viabilizar o escoamento da safra e dar mais transparência na aplicação dos recursos. De acordo com Contar, um dos objetivos é reduzir as alíquotas na medida do possível.
“Vamos reduzir as taxas administrativas cobradas pelo Estado”, propôs, garantindo que uma das medidas será as do Detran. “As mais caras do Brasil”, lamentou. Ele também prometeu buscar meios para reduzir as taxas cartorárias, mesmo não sendo competência do Poder Executivo, mas intermediar negociação com o Tribunal de Justiça para reduzir o preço.
Capitão Contar já foi associado, em fake news divulgadas em vídeos, ao ex-prefeito de CampO Grande, Marquinhos Trad (PSD). Ele nega o apoio ao candidato. “É o pior candidato de todos, porque não confio em quem usa o nome de Deus em vão”, afirmou o militar, que não faz a mesma crítica ao presidente Jair Bolsonaro, que tem Deus como lema de campanha.
O deputado estadual tem certeza de que estará no segundo turno, apesar das pesquisas o colocarem em 3º ou 5º lugar. “Estou calejado com pesquisas”, disse, explicando que vem sentindo na campanha o crescimento do apoio.
“Minha missão é servir às pessoas”, afirmou, prometendo gerir o dinheiro público com ética e moralidade.