Albertino Ribeiro
Na última quinta-feira (01/09/22), por muito pouco, o mundo não assistiu à uma cena dantesca. O brasileiro Fernando Montiel tentou matar a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, na frente de uma multidão e sob o olhar de câmeras de vários países.
Nosso vizinho há muito tempo vem passando por seguidas crises econômicas e sociais. A insatisfação da população é cada vez maior. Tudo isso cria temperatura favorável para que pessoas sem escrúpulos se achem na condição de fazer “justiça com as próprias mãos”, como foi o caso do brasileiro, que também é simpatizante do nazismo.
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A Mafalda, que empresta seu nome ao título deste artigo, é uma personagem criada pelo cartunista argentino, o saudoso Quino (1932-2020). Ela é uma criança questionadora que tenta encontrar respostas para vários assuntos, principalmente para os problemas sociais que nos afligem.
O que responder para nossa heroína?
Bem, Mafalda, problemas políticos, econômicos e sociais, como os da Argentina de hoje, são fenômenos complexos e não existe uma resposta simples para eles, pois todos estão intrincados e se retroalimentam o tempo todo. Quem diz que existe apenas uma explicação, mente! E mentir é muito feio, principalmente, para as crianças.
Devo dizer que o atual governo – que não é perfeito -, já assumiu o país em crise, com o câmbio desvalorizado. Em 2019, por exemplo, R$ 1 comprava 14,9 pesos argentinos, valores que contribuíram diretamente para o recrudescimento da inflação, que naquele ano chegou ao patamar de 53,8%. No ano seguinte, o país se depara com a pandemia, que aprofundou mais ainda a crise, e suas consequências reverberam ainda hoje.
Mafalda, um dos maiores problemas da economia Argentina é a dívida pública, que está em 80,1% do PIB – dados do Ministério da economia e do Banco Central argentinos. O valor não é muito diferente da dívida pública brasileira, que é de 78,3%. Contudo, se abrirmos as caixinhas das respectivas dívidas, vai ser possível entender o motivo da dívida do seu país ser mais preocupante do que a do vizinho de língua portuguesa.
Como assim? Dívida de governos não é tudo igual?
Não. Sabe por que? A cada 10 pesos da dívida argentina, oito são de credores (cobradores) externos e, para pagá-los, é necessário que o cofrinho do país esteja cheio de dólares. E esse é o grande problema! Seu país não tem reservas cambiais suficientes.
Hoje, a Argentina tem apenas US$ 40 bilhões. Para você é muito dinheiro, não é? Mas para o seu país não dá para pagar as dívidas e, ao mesmo tempo, comprar produtos e serviços de outros países (importações).
Por seu turno, o Brasil tem no seu cofrinho de moedas estrangeiras quase nove vezes mais, ou seja, US$ 347 bilhões. Com isso, o país consegue proteger a moeda tupiniquim contra os ataques especulativos (pessoas que apostam contra a moeda) e consegue, de sobra, pagar as dívidas e os produtos e serviços que importa.
Pera aí! O que o Brasil fez de diferente para ter tantas moedas estrangeiras em seu cofre?
Bem, é uma longa história, mas vou tentar simplificar. Em dezembro de 2001, sabe aquele enorme país que fica do outro lado do mundo? Pois é, a China entrou para a OMC e começou a comprar muitas mercadorias do Brasil e da Argentina. Devido a isso, o preço dessas mercadorias subiu no mundo todo. Os especialistas chamaram esse fenômeno de “boom” da commodities (soja, milho, aço, etc). Esse tal de boom trouxe uma explosão de dólares para ambos os países. Entretanto, cada um deu destinos diferentes a essas moedas.
Destarte, o Brasil entre 2003 e 2010, escolheu fortalecer o real e começou a guardá-los para fazer o bolo das reservas cambiais crescer cada vez mais. Por sua vez, a Argentina escolheu outro caminho e não guardou os dólares que tinha em suas mãos. Dessa forma, perdeu uma grande oportunidade. Se tivesse com suas reservas em dia, certamente o dólar não estaria tão caro, não seria necessário aumentar a taxa de juros tanto assim (60% ao ano), e a inflação (alta da carestia), não estaria na casa dos 60% hoje.
Segundo reportagem do Portal360, são necessários 132 pesos argentinos para comprar 1 dólar, pois o país vive uma grande escassez da moeda americana. O chato é que essa situação leva a uma crise de confiança no país; essa crise de confiança faz esses números ruins piorarem mais ainda. Pois é, a situação não está nada fácil.
Sei que você não gosta de futebol, mas os políticos “embolaram o meio de campo”. Acho que será necessário juntar Messi e Maradona para colocarem a bola no chão e fazerem o país virar esse jogo, que está obrigando uma população inteira sofrer muito.
“Revivamos la pasión de ser argentinos no solo cuando juega la selección. Ponete la camiseta todos los días, para estudiar,trabajar y divertirte.”
“Viva mi país! Viva mi bandera!”
Malfada