Candidato a governador pelo PSD, com o apoio do PTB, Patriotas e Agir, o advogado Marcos Marcello Trad, o Marquinhos Trad, 57 anos, propõe desfazer as “maldades” de Reinaldo Azambuja (PSDB), com a redução da carga tributária e retomar a paridade nos salários dos professores efetivo e convocados. Ao falar das propostas, o ex-prefeito da Capital mostra domínio sobre os números, a realidade estadual e não deixa pergunta sem resposta.
Em um gesto ousado, mesmo sem ampla vantagem nas pesquisas, ele renunciou ao cargo de prefeito dois anos após ser reeleito no primeiro turno em 2020. No entanto, o candidato refuta a acusação de que abandonou Campo Grande. “Estou disputando o Governo de Mato Grosso do Sul, Campo Grande é a capital. Estaria abandonando se fosse candidato em Roraima ou do Mato Grosso”, frisa.
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O candidato a governador falou com O Jacaré sobre o programa de Governo e sua história durante um café no jardim gastronômico Recanto das Ervas. Durante a entrevista, ele fez relato como começou na política e os destaques nos mandatos como deputado e prefeito.
Marquinhos tem com uma das principais metas a redução da carga tributária, que vem assolando empresários e investidores. “O Reinaldo aumentou todos os impostos”, criticou. Ele promete acabar com a substituição tributária, uma espécie de ICMS antecipado, que era exigido de 30 segmentos e passou a ser cobrado em 80.
“Dá para reduzir paulatinamente, tirando aos poucos, como fez Santa Catarina”, cita o trabalho realizado pelo governador bolsonarista Carlos Moisés (Republicanos). Pela proposta, o comerciante só vai recolher o tributo sobre o que for vendido. A expectativa do candidato é zerar em seis anos.
Marquinhos promete manter a alíquota do ICMS sobre a gasolina em 17%, que havia sido elevada para 30% pelo governador do PSDB. “Estava superfaturado”, cutuca. O ICMS era de 25%. Reinaldo ampliou o da gasolina para 30% e reduziu o do etanol para 20%. “Na prática, ele deu com uma mão e tirou com três”, ressalta. O candidato do PSD vai retirar a ação no STF contra a redução na alíquota do ICMS.
Ele também critica o aumento no ITCD, que o tucano elevou em 50%, e do IPVA, que ampliou em 40%, de 2,5% para 3,5% sobre automóveis. “As escrituras são feitas no Paraná porque ninguém aguenta mais”, lamentou Marquinhos.
No caso do Fundersul, o polêmico fundo de desenvolvimento rodoviário criado por Zeca do PT, ele promete dar mais transparência na aplicação dos recursos. “Os sindicatos rurais serão ouvidos para definir o destino”, garantiu. Na sua avaliação, Reinaldo acabou usando os recursos do Fundersul para obter apoio político dos prefeitos ao destinar parte a aplicação nas vias urbanas. “Não foi ruim, foi péssimo”, criticou.
Outra herança da gestão tucana será a defasagem no salário do funcionalismo público estadual, que só teve reajuste em três dos oito anos de Reinaldo. “Vai ser preciso muita sabedoria, porque sofreu perdas salariais”, avaliou.
Em relação aos professores, Marquinhos foi mais enfático e prometeu retomar a isonomia salarial entre efetivos e temporários. O candidato condenou a medida por pagar 30% mais para quem possui a mesma formação, carga horária e responsabilidade. “Vamos igual para o efetivo e o convocado”, garantiu, assegurando repetir o que fez no comando da Capital.
Outra crítica ao mandato do PSDB é a falta de investimento em saúde. Ele cita que Campo Grande investiu R$ 1,4 bilhão em 2021, enquanto o Governo do Estado aplicou R$ 1,8 bilhão para 79 municípios.
Marquinhos criticou ainda a terceirização na saúde, por meio das organizações sociais, como a do Hospital Regional de Ponta Porã, que está envolvida em escândalos de corrupção. “Totalmente descarta a OS, sou a favor do SUS”, comprometeu-se. “A regionalização não saiu do papel”, lamentou.
O ex-prefeito também criticou a Caravana da Saúde, principal carro-chefe da gestão de Reinaldo. “A dor não pode esperar uma caravana passar”, criticou. No entanto, Marquinhos diz que o programa ajudou, mas o atendimento à população deve ser permanente e não ocasional.
Sobre o conflito entre índios e fazendeiros, outra crítica ao atual governador por não ter aval da justiça para realizar despejos. Para o ex-prefeito, o conflito é de competência da Polícia Federal e não da Polícia Militar. “Vamos buscar o diálogo”, promete. Em último caso, ele diz que pegará os índios e os produtores rurais e os levará a Brasília para forçar o União a resolver o problema sem derramamento de sangue.
Marquinhos também defende que o Governo federal pague a indenização pela terra aos produtores rurais, que possuem a documentação da propriedade há décadas. “É inconcebível ferir o princípio da segurança jurídica”, afirmou.
O ex-prefeito acredita que teria uma gestão melhor no município se não fosse a pandemia. “Deus estava ao meu lado”, afirmou, sobre a chegada do coronavírus. Alertado pelo primo, Luiz Henrique Mandetta, então ministro da Saúde, de que a situação seria gravíssima, Marquinhos contou que decidiu adotar o lockdown pela primeira vez, de 16 a 26 de março de 2020.
Enquanto suspendia as atividades, ele disse que ampliou o número de leitos de UTI, de 116 para 355, o que teria evitado uma tragédia maior, com mais mortes na Capital. “Se não fosse a pandemia, que causou uma retração econômica fortíssima”, lamentou o ex-prefeito. Ele acabou fechando escolas e adotando o toque de recolher. Neste momento, Marquinhos reconhece a ajuda do Governo federal. “Se não fosse a ajuda do Bolsonaro, não teria como pagar os salários”, reconheceu, agradecido.
Formado em Direito pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), casado com Tatiana Trad e pai de quatro meninas, Marquinhos estreou na política em 1996, na gestão de André Puccinelli (MDB), seu principal adversário na disputa do Governo do Estado. Professor na UCDB, Estácio de Sá e Facsul, ele acabou sendo escolhido pelo emedebista mesmo o PTB, seu partido na ocasião, tendo indicado outros três nomes para integrar o secretariado municipal.
Aos 32 anos, ele comandou a Secretaria Municipal de Assuntos Fundiários, pasta que lhe deu projeção política e deu um dos principais motes de Puccinelli, a de ter acabado com as favelas em Campo Grande. Marquinhos conta que assumiu a pasta com 117 favelas na Capital. Ao deixar a pasta, ele garante ter zerado o número de famílias vivendo em condições desumanas.
Sobre a volta das favelas na gestão como prefeito, ele responsabiliza os antecessores, Alcides Bernal (PP) e Gilmar Olarte (sem partido), que enfrentaram uma gestão tumultuada e marcada por golpes.
O trabalho teria gerado ciumeira no MDB, o que quase lhe custou a vaga de vereador em 2004. Ele acabou sendo eleito com 11.045 votos, o mais votado na ocasião. Em 2006, ele acabou sendo eleito deputado estadual.
Na Assembleia, no primeiro ano como deputado, ele foi relator da CPI da Enersul. “Deram a relatoria para me queimar”, acredita, já que era a 3ª tentativa do legislativo estadual de enfrentar a poderosa empresa de energia elétrica. O trabalho surtiu efeito, já que a empresa foi obrigada a reduzir a tarifa e o valor caiu no ranking nacional do 1º lugar, entre as mais caras, para o 18º.
Em uma briga entre o então governador André Puccinelli e Ari Artuzi, que chegou a ser chamado de “animal de pelo curto” pelo emedebista, Marquinhos ficou do lado do deputado e foi o único que aceitou ser testemunha do douradense. “O André pegou birra de mim”, relembra.
Em 2010, em nova briga dentro do MDB, ele acabou sendo eleito presidente da Comissão de Constituição e Justiça pelo placar de 3 a 2 na disputa com Júnior Mochi (MDB). Ele se juntou ao deputado Pedro Kemp (PT), de oposição, e votou contra o fim da autonomia orçamentária da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), que acabou sendo aprovado. “Sempre fui o patinho feio”, assegura o pessedista.
Durante o mandato de deputado, Marquinhos era famoso por atender centenas de pessoas em busca de ajuda. “Ouvia todos”, garante, estimando que eram de 600 a 700 pessoas por semana. Os eleitores pediam ajuda para tudo, desde roupas, comida e atendimento médico.
Em 2016, Marquinhos acabou sendo eleito prefeito no segundo turno ao derrotar a candidata de Reinaldo, a atual deputada federal Rose Modesto (União Brasil). Na época, ela estava no PSDB e a vitória só foi possível com o apoio do então prefeito, Alcides Bernal, que ficou fora do 2º turno por cerca de 2 mil votos.
Marquinhos assumiu com a cidade tomada por buracos, duas folhas de salários atrasadas e parte do 13º não pago. A Santa Casa estava com as contas de luz e água atrasadas há seis meses.
A situação começou a melhorar em 2018, quando o então presidente Michel Temer (MDB), passou a dar prioridade aos projetos de Campo Grande. No entanto, a situação se reverteu após a posse de Jair Bolsonaro (PL). “Ele mandou rever os contratos firmados pela Dilma (Rousseff, presidente pelo PT) e pelo Temer”, conta. Quando a situação começou a caminhar, a pandemia da covid-19 suspendeu tudo de novo.
Aliás, o Governo de Bolsonaro é apontado pelo ex-prefeito como responsável pela paralisação de obras visíveis, como os corredores de ônibus das avenidas Gunter Hans e Bandeirantes e a revitalização da Avenida Ernesto Geisel. “Todas as obras paradas são da União”, defendeu-se.
Evangélico desde 2007, quando passou a frequentar a Igreja Atos de Justiça, Marquinhos não vê problemas em sempre recorrer a Deus. “Existe pessoa melhor para você citar ou se relacionar”, afirmou. “Ele é a razão de tudo”, frisou. “Eu caminho pelo que creio e não pelo que eu vejo”, resumiu.
Sobre a abertura de investigação por assédio da Polícia Civil, o ex-prefeito negou ter cometido qualquer tipo de crime e que provará a inocência. O candidato vê digitais do PSDB na condução do inquérito pela Delegacia de Atendimento à Mulher.
O Jacaré disponibilizou o espaço para todos os candidatos a governador. Ontem foi publicada a do candidato do PSOL, Adonis Marcos.