No artigo “Propaganda de governo, uma arma política de dois gumes”, o jornalista e filósofo Mário Pinheiro expõe a máquina de propaganda do presidente da Rússia, Vladimir Putin. “O método é fazer mal, destruir, mostrar a grandeza do aparato bélico, enviar toneladas de bombas e construir o discurso com imagens para enganar ou convencer a opinião pública”, destaca.
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Por outro lado, ele também critica o comandante ucraniano, Volodymyr Zelensky, “Do lado ucraniano também se trabalha a propaganda em exibir armamentos do gigante russo destruídos, aviões abatidos, tanques incendiados, soldados mortos. Mas é pouco, é como se fosse a Palestina contra Israel. A diferença é que a Ucrânia está recebendo ajuda com armas”, pontua.
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Putin usa a experiência na KGB, durante o período em que a União Soviética era comandada pela ditadura comunista, para azeitar a máquina da propaganda e convencer os russos de que faz uma boa ação destruindo a população ucraniana. “No jornal televisivo russo é proibido pronunciar a palavra guerra. Não é necessário ser cartesiano, queimar a cabeça com a lógica para saber que governos mentem e pagam caro pra convencer o povo que o mal é bom. Pior, o povo que bebe TV acredita”, lamenta.
Confira o artigo na íntegra:
“Propaganda de governo, uma arma política de dois gumes
Mário Pinheiro, de Paris
A guerra entre russos e ucranianos revela o uso da propaganda para embalsamar a falta de leitura e senso crítico. Do lado russo não existe guerra, mas operação militar, embora se saiba que o presidente Vladimir Putin é o chefe maior da ditadura comunista.
A população russa está dividida por causa do mau uso da televisão que somente acusa o país vizinho de coitados, dá todas as razões ao presidente que começou sua carreira como agente da KGB durante a guerra fria, assistiu ao esfacelamento da URSS com a Perestroika de Mikail Gorbachev.
Para Putin, a Ucrânia é russa. É um dualismo que afeta a personalidade. O método é fazer mal, destruir, mostrar a grandeza do aparato bélico, enviar toneladas de bombas e construir o discurso com imagens para enganar ou convencer a opinião pública.
Esta semana, a jornalista russa Marina Ovsianniakova interrompeu o jornal das oito da noite para exibir um cartaz onde dizia que o governo mentia. Ela foi presa, ficou incomunicável, sem advogado, 14 horas de interrogatório, pagou fiança e saiu, mas pode ser condenada a 15 anos de prisão.
No jornal televisivo russo é proibido pronunciar a palavra guerra. Não é necessário ser cartesiano, queimar a cabeça com a lógica para saber que governos mentem e pagam caro pra convencer o povo que o mal é bom. Pior, o povo que bebe TV acredita.
Do lado ucraniano também se trabalha a propaganda em exibir armamentos do gigante russo destruídos, aviões abatidos, tanques incendiados, soldados mortos. Mas é pouco, é como se fosse a Palestina contra Israel. A diferença é que a Ucrânia está recebendo ajuda com armas.
Para o presidente Putin, é preciso desnazificar a Ucrânia, mas grupos de neonazistas existem em vários países, sobretudo em Moscou, Polônia, França, Brasil, Reino Unido e Estados Unidos.
Em 2006 a Rússia entrou em conflito com a Tchetchênia quando a jornalista moscovita Anna Politrovskaya criticou o governo russo. Ela foi assassinada por encomenda. Para o governo russo estava claro que o assassino era tchetcheno, mas não tinha sentido, ela havia criticado as decisões do Kremlin e sempre se posicionou contra o governo Putin.
Se saímos da Rússia e aterrissamos no Brasil, não é diferente. Os assassinatos são maquiados como o de Marielle Franco e do motorista Anderson Pedro Gomes, eles foram vítimas da milícia que é dominada por uma família, mas a propaganda receita o contrário.
A guerra pode afetar ucranianos com profunda tristeza, causar o êxodo de milhões, mas fazer de conta que tudo vai bem no Brasil quando a floresta Amazônica desaparece pouco a pouco, garimpeiros enchem as burras, grileiros invadem terras, matam e tudo fica no simplismo e na ingenuidade dos eleitores, a propaganda do governo atual funciona porque a boiada passa e o gado não sabe o lado do curral.
Quem não move o dedo pelo oprimido apoia o opressor, é o caso da Ucrânia”.