No artigo “Consciência e poder”, o filósofo e jornalista Mário Pinheiro faz observações sobre a posição de neutralidade do Brasil diante da guerra entre a Ucrânia e a Rússia. Ele também critica o uso do poder por Jair Bolsonaro, mas sem citá-lo nominalmente. E cita a penca de escândalos, que segundo o articulista, deveriam chamar a atenção da sociedade brasileira.
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“O que está em jogo em ser inútil, é o conceito de poder. Quem nos explica isso é Thomas Hobbes. Para escapar de todos e contra todos, os homens instituem o poder político absoluto, de cujo ‘trono’ pensam que podem manter a paz e a ordem social”, pontua Pinheiro.
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“Antes de Hobbes, Maquiavel reservara um lugar privilegiado ao poder ao fazer uso da moral imaginária para domar a fortuna, que traduzimos por ‘rachadinhas’, escândalo do leite condensado, uso abusivo do cartão corporativo, cheque de R$ 59 mil da Michele, o protegido ‘vendedor de carros’ Queiroz, gastos absurdos com aviões da FAB, o militar preso com 39 quilos de farinha ‘da boa’ na escala da comissão do presidente na Espanha e outras coisas sinistras que acontecem somente no Brasil do ‘Jesus na goiabeira’. O poder fascina, esconde-se na propaganda, mente e não desmente”, afirma.
“No governo brasileiro tem de tudo, exceto saber, mas está pleno de malandragem e de avareza. O presidente brasileiro não deve declarar guerra a ninguém, mas seria obrigação sair do muro. Aliás, os borra-cuecas seguram na mão a bomba que ameaçam jogar no quartel enquanto os corajosos vão à luta, fiam a esperança no trabalho, no sindicato, na cooperativa, mas cão que ladra não morde”, critica.
Confira o artigo na íntegra:
“Consciência e poder
Mário Pinheiro, de Paris
Uma guerra, em geral, provoca discussões em todos os lados, interrogações sobre a consciência e o poder na política. Ela revela acusadores que se baseiam no jogo da hipocrisia política, outros que leem, indignam-se, viram revolucionários de sofá, mas o conflito da Rússia contra a Ucrânia coloca em jogo homens, crianças, mulheres e os efeitos que ele provoca: fome, abuso, destruição de famílias, êxodo, o sacrifício em defender a Pátria, as testemunhas dos horrores, o efeito banal que os covardes encontram para justificar a neutralidade sem nenhuma consciência.
Segundo Henri Bergson, consciência significa memória antes de tudo. Mas memória é algo que está em falta quando se apoia sistemas draconianos contra o povo e acredita-se demais na (des) informação. Memória e consciência estão grudados na filosofia e nos livros de história.
Etimologicamente, consciência significa ‘impregnado de saber’. Na metafísica de Aristóteles, ele diz que todos os homens desejam o saber, que a busca começa pela sabedoria, entendida como saber supremo, com autenticidade e virtude. Descartes coloca em questão as percepções, as opiniões e os julgamentos onde a dúvida se torna um instrumento metódico, radical e sistemático como saber consciente em busca da verdade.
No governo brasileiro tem de tudo, exceto saber, mas está pleno de malandragem e de avareza. O presidente brasileiro não deve declarar guerra a ninguém, mas seria obrigação sair do muro. Aliás, os borra-cuecas seguram na mão a bomba que ameaçam jogar no quartel enquanto os corajosos vão à luta, fiam a esperança no trabalho, no sindicato, na cooperativa, mas cão que ladra não morde.
O que está em jogo em ser inútil, é o conceito de poder. Quem nos explica isso é Thomas Hobbes. Para escapar de todos e contra todos, os homens instituem o poder político absoluto, de cujo ‘trono’ pensam que podem manter a paz e a ordem social.
Antes de Hobbes, Maquiavel reservara um lugar privilegiado ao poder ao fazer uso da moral imaginária para domar a fortuna, que traduzimos por ‘rachadinhas’, escândalo do leite condensado, uso abusivo do cartão corporativo, cheque de R$ 59 mil da Michele, o protegido ‘vendedor de carros’ Queiroz, gastos absurdos com aviões da FAB, o militar preso com 39 quilos de farinha ‘da boa’ na escala da comissão do presidente na Espanha e outras coisas sinistras que acontecem somente no Brasil do ‘Jesus na goiabeira’. O poder fascina, esconde-se na propaganda, mente e não desmente.
Em Hobbes o poder é abordado em si sem nenhuma consideração e não possui a consciência que Bergson dedica ao homem. O poder político ausente do que chamamos consciência histórica, transforma o homem no maquiavélico guerreiro em busca de fama, dinheiro, gloria e orgias. Hobbes, assim como Spinoza, foi tratado de herético, sua obra foi difamada e acusada de materialista.
A prevaricação na política virou coisa banal, por isso tem aumento de delinquência e violência, as pessoas gravam brigas, tiroteios, mortes, pancadarias. Maquiavel ensinou que o político precisa ser astucioso, esperto como raposa, forte e cruel para abocanhar fortunas, dissimular, enganar, encomendar mortes se fosse necessário. Com três filhos na política e outro rondando o galinheiro com pinta de empresário, o resultado não pode ser do monastério nem do convento.”