No artigo “O liberalismo de Guedes: Laissez-faire ou Lúcifer?”, o economista e ensaísta Albertino Ribeiro critica o ministro da Economia, Paulo Guedes, que acredita o Brasil ser pobre por opção. Ele compara a atual política com a opção feita pelos Estados Unidos, maior potência mundial, e defende investimento estatal para impulsionar o desenvolvimento da economia.
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“Trata-se de fé cega em teorias que não se sustentam em um mundo cuja a complexidade salta aos olhos. Nenhum país se desenvolveu sem a participação do Estado como regulador e fomentador da economia”, detona Ribeiro, ao avaliar o “posto Ipiranga” do presidente Jair Boslonaro (PL).
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“Naquela época, acreditava-se cegamente na teoria das vantagens comparativas. De acordo com esse postulado, os EUA, por terem vocação agrícola, deveriam apenas dedicar-se à agricultura. Destarte, o Estado não deveria intervir na economia com políticas industriais para alavancar o seu desenvolvimento”, observa.
“Esse liberalismo desumano, do qual Paulo Guedes está possuído, também apregoa que o Estado deveria cortar os impostos dos mais ricos, porque, dessa forma, a prosperidades destes gotejaria para os mais pobres. É a chamada teoria do gotejamento. Nada mais enganoso e perverso!”, ressalta.
Em seguida, ele destaca que é essencial e até bíblico reduzir a desigualdade para um País crescer e se tornar rico e grande.
Confira o artigo na íntegra:
“O liberalismo de Guedes: Laissez-faire ou Lúcifer?
Albertino Ribeiro
Em evento promovido pelo Banco Credit Suisse, no início do mês, Paulo Guedes disse que o Brasil é pobre por opção. Segundo o ministro da Economia, a solução para o País seria privatizar todas as estatais.
Trata-se de fé cega em teorias que não se sustentam em um mundo cuja a complexidade salta aos olhos. Nenhum país se desenvolveu sem a participação do Estado como regulador e fomentador da economia.
Contudo, alguém agora deve estar perguntando: ‘E os EUA?’ Devo dizer que, se dependesse do pensamento econômico liberal de 150 anos atrás – do qual o norte dos Estados Unidos foi contra – a terra do Tio Sam seria hoje conhecida como ‘O fazendão do Tio Sam’.
Naquela época, acreditava-se cegamente na teoria das vantagens comparativas. De acordo com esse postulado, os EUA, por terem vocação agrícola, deveriam apenas dedicar-se à agricultura. Destarte, o Estado não deveria intervir na economia com políticas industriais para alavancar o seu desenvolvimento.
Esse liberalismo desumano, do qual Paulo Guedes está possuído, também apregoa que o Estado deveria cortar os impostos dos mais ricos, porque, dessa forma, a prosperidades destes gotejaria para os mais pobres. É a chamada teoria do gotejamento. Nada mais enganoso e perverso!
O governo brasileiro, cujos membros fazem questão de dizer que são terrivelmente evangélicos, deveria atacar a desigualdade social, pois é condição ‘sine qua non’ para o país crescer e fazer justiça social. Dessa forma, contribuirá, inclusive, para que mercado funcione de maneira mais eficiente.
A ironia
Nesse contexto, a Igreja evangélica, ao endossar a necropolítica do atual governo, caminha na contramão daquilo que diz acreditar: o evangelho de Cristo, que combate todas as formas de opressão, dentre elas, a redução dos direitos dos trabalhadores.
Para reforçar o meu argumento, vamos ver o que diz a carta de Thiago, capitulo 5, no verso 4: ‘Eis que o jornal dos trabalhadores que ceifaram as vossas terras, e que por vós foi diminuído, clama; e os clamores dos que ceifaram entraram nos ouvidos do Senhor dos exércitos’.
A palavra jornal no texto tem o significado de salário. O apóstolo Thiago, com a autoridade que lhe foi confiada, condena o comportamento dos ricos (fazendeiros) da época que, para gozarem de uma vida melhor, diminuíram o salário daqueles que foram contratados para trabalhar na colheita.
Dessa forma, não é difícil perceber que esse liberalismo à moda Guedes vai mais ao encontro de um anti-evangelho que flerta com a fome, a miséria e a opressão. ‘Enquanto a economia real, a que cria emprego, está em crise, com tanta gente sem trabalho, os mercados financeiros nunca estiveram tão inflacionado como agora.’ – Papa Francisco.”