O juiz Ali Mazloum, da 7ª Vara Federal Criminal de São Paulo, condenou os dois hackers campo-grandenses pela invasão do site do Tribunal Regional Federal da 3ª Região. Condenado a nove anos e dois meses no regime fechado, Selmo Machado da Silva alterou 26 logins de servidores, inclusive dois juízes, um desembargador e três procuradores regionais da República, para tentar sacar R$ 900 mil e ainda ser inocentado em seis ações criminais.
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Diego Guilherme Rodrigues, que forneceu a conta bancária para a transferência do dinheiro, foi condenado a cinco anos e cinco meses no semiaberto. Conforme a sentença publicada nesta terça-feira (14), Selmo continua foragido e foi incluído na Difusão Vermelha da Interpol, a famosa lista dos bandidos mais procurados do mundo.
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Outro ponto que chama a atenção no processo é a agilidade da Justiça Federal na condenação dos réus. Os crimes foram praticados em fevereiro deste ano. A Polícia Federal deflagrou a Operação Escalada Cibernética no dia 19 de maio de 2021. Em sete meses, mesmo com o réu foragido, a Justiça Federal concluiu o julgamento e publicou a sentença.
Selmo usou o e-mail c.gde@hotmail.com para alterar a senha de 26 pessoas, inclusive do desembargador Fauscto De Sanctis. Conforme o despacho, o hacker alterou seis pareceres dos procuradores regionais da República Ageu Florêncio da Cunha, Hermes Donizeti Marinelli e José Roberto Pimenta Oliveira. Os promotores tinham opinado pela manutenção da condenação de Selmo. Ele fraudou o processo para incluir outro parecer, em que os procuradores opinaram pelo provimento do seu recurso.
“O responsável direto da fraude, segundo a denúncia, foi o acusado SELMO. A par dessa alteração em processos cíveis, identificaram-se outros ataques cibernéticos, desta feita mediante a adulteração de pareceres exarados em processos penais pela Procuradoria Regional da República, num total de seis feitos criminais, em benefício do acusado SELMO, então condenado em tais processos, que tramitavam no gabinete do Desembargador Federal FAUSTO DE SANCTIS”, pontuou Ali Mazloum.
“Todas as alterações nos seis processos criminais tiveram como beneficiário SELMO MACHADO SILVA. Vale dizer, em tais processos criminais, SELMO havia sido condenado e, para tentar livrar-se, adulteraram- pareceres ministeriais para se fazer constar pedidos de absolvição”, pontuou.
O hacker alterou a senha do juiz José Henrique Precendo, da 22ª Vara Federal Cível de São Paulo, para liberar R$ 225.914,26 que eram destinados ao banco Itaú. O novo destinatário seria Diego Guilherme. Em depoimento, o magistrado contou que ao checar o alvará, achou estranho uma pessoa física receber o dinheiro do banco e decidiu checar a história.
O mesmo ocorreu com a juíza Marisa Cláudia Gonçalves Cucio, da 12ª Vara Cível de São Paulo. O golpista alterou a senha da magistrada para trocar o beneficiário por R$ 648.575,43. O dinheiro seria pago pelo Governo federal a Local Frio. Mesmo atuando como auxiliar da corregedoria, a magistrada contou que continuou a frente da vara e decidiu passar no gabinete para chegar os processos.
Ao analisar os alvarás de liberação, ela achou estranho a inclusão do nome de Diego Guilherme Rodrigues como beneficiário e decidiu deixar o documento para uma análise mais acurada. No entanto, o alvará acabou sendo encaminhado para pagamento para a Caixa Econômica Federal. Alertada por Precendo, ela se lembrou do nome e correu contra o tempo para impedir o pagamento. O dinheiro acabou não liberado.
“Na verdade, o que ocorreu foi que, com esse e-mail utilizado pelo criminoso virtual, houve recuperação de senha de diversos usuários do PJe (solicitado pelo hacker), possibilitando a alteração de documentos. Verificou-se, pois, que nos meses de janeiro e fevereiro de 2021, foram recuperadas, por esse e-mail (c.gde@hotmail.com ), as senhas de dezenas de agentes públicos que atuam na Justiça Federal da 1ª e da 3ª Regiões”, afirmou o magistrado.
“Saliente-se que a invasão do PJe não teve por objetivo apenas a realização de alterações nos 02 (dois) processos eletrônicos cíveis e nos 06 (seis) processos eletrônicos criminais, mas a obtenção de todas as vantagens que fossem possíveis, razão pela qual fica efetivamente caracterizado o concurso material entre os crimes de falsidade de documento público e o delito de invasão de dispositivo informático”, conclui.
Selmo possui oito CPFs (Cadastros de Pessoa Física) e é acusado de clonar cheques e tentativa de homicídio. Ele também teria tentado fraudar o sistema eletrônico de mais dois tribunais regionais federais, o TRF1 e o TRF2.
Diego é acusado de ganhar R$ 43 mil com o golpe que altera o código de barras e desvia o dinheiro. Ele também dois CPFs. Em uma mensagem enviada por Selmo, a PF encontrou que ele seria beneficiado por alvará de R$ 286 mil, que também seria liberado por meio de ataque cibernético na Justiça Federal de Salvador.