No “Se Pinochet era de esquerda, então os militares brasileiros eram comunistas”, o economista e ensaísta Albertino Ribeiro analisa a política industrial brasileira durante a ditadura militar. Como os generais apostavam no protagonismo estatal, com a criação de 274 empresas estatais, eles agiram como os políticos de esquerda, que defendem maior intervenção estatal para impulsionar a economia.
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“Destarte, se o nosso liberal de carteirinha estiver certo, somos obrigados a concordar que, durante a ditadura militar, os governos militares foram duas vezes mais de esquerda do que Pinochet porque, tanto no contexto político como no econômico, o Estado teve papel preponderante”, afirma.
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“Quem é verdadeiramente de direita tem horror à intervenção do Estado na economia. Nessa linha, o governo de FHC (1995 a 2002) foi o que mais se aproximou de uma política econômica de direta; inclusive, quando os empresários brasileiros pediram política industrial para o País, Pedro Malan, ministro da Fazenda na época e liberal convicto, torceu o nariz e disse: ‘a melhor política industrial é não ter política industrial’”, pontua.
Ribeiro decidiu analisar a política industrial após dois eleitores de Jair Bolsonaro (sem partido) reclamarem da dependência do Brasil de produtos da China, como a importação de respiradores no início da pandemia da covid-19.
Confira o artigo e tire sua dúvida sobre qual política você defende para o Brasil:
“Se Pinochet era de esquerda, então os militares brasileiros eram comunistas
Albertino Ribeiro
Se você chegou até aqui porque achou absurdo o título deste artigo, então minha estratégia logrou êxito. Mas advirto que não será minha responsabilidade, caso você continue a leitura, se você for acometido por uma dissonância cognitiva.
“Da parte política, Pinochet era de esquerda” – essas foram as palavras do secretário de política econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida. Segundo o economista, o general e ditador era de esquerda porque para ele o Estado estava acima do indivíduo (pura ignorância).
Entretanto, o secretário afirmou que, na parte econômica, Pinochet era de direita, pois realizou reformas neoliberais, como privatizações, abertura comercial, ou seja, o Estado não deveria mais intervir na economia. Nesse ponto ele acertou, pois essa é a marca registrada do verdadeiro pensamento econômico de direita.
Destarte, se o nosso liberal de carteirinha estiver certo, somos obrigados a concordar que, durante a ditadura militar, os governos militares foram duas vezes mais de esquerda do que Pinochet porque, tanto no contexto político como no econômico, o Estado teve papel preponderante.
Na verdade, cheguei à conclusão que a maioria das pessoas não sabe o que defende. Outro dia, depois de uma pelada com os amigos, não pude deixar de ouvir dois desconhecidos eleitores bolsonaristas conversarem sobre economia – se eu não soubesse que eram bolsonaristas – devido a linguagem e ao logotipo em ambos os carros – teria pensado que eram eleitores do Ciro Gomes ou, até mesmo, do Lula.
Eles reclamavam, em alto e bom som, do fato de não fabricarmos os próprios respiradores e máscaras; diziam que era uma vergonha o Brasil depender da China para ter esses bens, inclusive, o IFA para fabricar as vacinas da Astrazeneca. Minha nossa! Eles estavam defendendo uma política industrial para o Brasil.
No entanto, uma política industrial pressupõe dirigismo estatal; foi o que os nossos militares fizeram assim que tomaram de assalto o poder em 1964. Para fazer a política de substituição de importações, é necessário que haja isenção de impostos, empréstimos com juros subsidiados, criação de estatais e reserva de mercado, pelo menos temporária.
Quem é verdadeiramente de direita tem horror à intervenção do Estado na economia. Nessa linha, o governo de FHC (1995 a 2002) foi o que mais se aproximou de uma política econômica de direta; inclusive, quando os empresários brasileiros pediram política industrial para o País, Pedro Malan, ministro da Fazenda na época e liberal convicto, torceu o nariz e disse: ‘a melhor política industrial é não ter política industrial’.
Viu? Então, se você, quando o assunto é economia, bate no peito e diz que é de direita, responda-me: você tem saudade dos governos militares? Ou, se você ainda é jovem, concorda – como dizem seus pais e avós – que naquela época a situação econômica do país era bem melhor? Se você respondeu sim para ambas as perguntas, a sua alma é de esquerda.
Saiba que os militares não foram liberais. Aos olhos de hoje, inclusive, eles dariam inveja a Lula e Ciro Gomes. Para termos ideia, só durante o período do milagre econômico (1968 a 1973), os militares criaram 274 estatais contra, apenas, 27 no governo FHC (menos de 10%). O dirigismo estatal do “partido militar” obteve, inclusive, elogios do candidato do Partido dos Trabalhadores, durante a campanha eleitoral de 2002:
– “O Brasil em três momentos foi pensado em longo prazo e planejado estrategicamente. No Governo Getúlio Vargas, no Governo Juscelino Kubitschek e com os militares”.
“Os militares, com todos os defeitos de visão política que tiveram, pensaram o Brasil estrategicamente, porque construíram o Pro-álcool, o Polo Petroquímico, construíram um sistema de telecomunicações razoável.”
E aí? Bateu aquela dissonância cognitiva? Mas, por favor, não faça como os defensores da “cura gay”, que tentam mudar a opção da pessoa porque consideram pecaminosa a relação homoafetiva; procure um analista que possa alinhar suas preferências com a ideologia certa para você. Então, ‘Solta essa franga’!”
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