Defensor do Pantanal sul-mato-grossense e um dos principais caciques da política regional, fiador da governabilidade em momentos cruciais, o ex-presidente da Assembleia Legislativa, Ary Rigo (PSDB) morreu, no início da tarde desta quinta-feira (30) aos 74 anos de idade. Engenheiro agrônomo e natural de Passo Fundo (RS), ele estava internado em coma induzido desde domingo após sofrer acidente doméstico, queda no quarto da casa.
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Conforme a deputada Mara Caseiro (PSDB), ele bateu a cabeça e foi submetido a cirurgia para retirar coágulos no cérebro no Hospital da Unimed. Durante sessão da Assembleia Legislativa na terça-feira, a parlamentar chegou a pedir orações para o ex-deputado. Na tarde de hoje, ele sofreu uma parada cardíaca e não resistiu.
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Deputado estadual por seis mandatos, entre 1979-91 e 1999-2011, Rigo foi vice-governador e secretário estadual de Governo na gestão de Pedro Pedrossian (1991-94). Ele foi líder do Governo na gestão de Zeca do PT e presidente da Assembleia por um único mandato, de 2001-2003.
“Rigo foi uma pessoa que aprendi a conhecer e respeitar muito durante meus oito anos de Governo. Parceiro, amigo experiente me ajudou muito na articulação política para superar as dificuldades que tivemos durante nosso governo”, afirmou o ex-governador Zeca do PT. Em São Paulo, o petista lamentou a morte do ex-deputado. “Muito triste essa notícia do falecimento do ex-deputado Ary Rigo”, disse.
Da mesma região de Rigo, Maracaju, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) divulgou nota por meio da assessoria. “O Governo do Estado de Mato Grosso do Sul lamenta com pesar a morte do ex-deputado estadual Ary Rigo, ocorrida hoje, em Campo Grande, deixando importante legado na política.
“Que suas realizações em favor do crescimento de Mato Grosso do Sul redobrem as forças de seus familiares neste momento de dor. Pelo falecimento, o Governo de Mato Grosso do Sul decretou luto de três dias”, informou a nota do Governo estadual.
Uma das principais bandeiras políticas do político foi a defesa do meio ambiente. Ele foi o autor da lei que proibiu a instalação de usinas de álcool e açúcar no Pantanal em 1982. Em 2005, quando empresários e prefeitos voltaram a cogitar a derrubada da proibição, ele enfrentou o Governo e até um aliado, o então secretário estadual da Produção, Dagoberto Nogueira, que defendia a instalação de usinas na planície pantaneira, considerada patrimônio natural da humanidade.
Rigo comandou a estratégia política para manter a proibição de usinas no Pantanal pela 2ª vez em 2005. Na época, a luta dos ambientalistas ficou marcada pela morte de Franselmo, o ecologista que ateou fogo ao próprio corpo em protesto contra a proposta.
“Apesar de nossas diferenças políticas, como colega de parlamento sempre respeitou minhas posições e chegou a fazer comigo algumas parcerias no apoio aos movimentos sociais, incluindo o MST, e as entidades que atendem as pessoas com deficiência, até por ter um filho especial, tinha bastante sensibilidade com a causa”, lembrou o deputado estadual Pedro Kemp (PT).
Rigo passou por três partidos: PTB, PDT e PSDB. “Um grande homem público, que sabia como poucos fazer política. Disputou eleições importantes, senado, vice governador, vice-prefeito e etc. , articulador nos bastidores e muito simples nos seus hábitos”, destacou o ex-deputado federal e ex-secretário estadual de Educação e de Administração, Antonio Carlos Biffi (PDT).
“Ocupou como ninguém, um espaço na vida pública de MS. Nos deixa prematuramente. Sua habilidade e sua lealdade nas causas que assumia, dificilmente serão preenchidas por outro”, ressaltou. “Fiquei com um grande amigo a menos no dia de hoje e nosso estado perde um homem público que marcou positivamente a construção de nossa história”, afirmou.
“Rigo exerceu por seis mandatos o cargo de deputado estadual e vice-governador na gestão de Pedro Pedrossian. Seu nome ficará marcado na história da Assembleia Legislativa e do Estado de Mato Grosso do Sul”, pontuou o presidente da Assembleia Legislativa, deputado estadual Paulo Corrêa (PSDB). “Em respeito à sua trajetória, decretaremos luto oficial de três dias na Casa de Leis”, informou.
Lenda da política regional e engenheiro agrônomo formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rigo enfrentou escândalos na vida pública. Em 2006, na Operação Bola de Fogo, deflagrada pela Polícia Federal para combater o contrabando de cigarro, o então deputado foi citado por ter recebido caixa dois do empresário Hyran Garcete, acusado de ser chefe da Máfia do Cigarro. O Tribunal Regional Eleitoral abriu a investigação. Rigo retificou a declaração feita à Justiça Eleitoral e acabou sendo absolvido por unanimidade.
Em 2010, o jornalista Eleandro Passaia gravou Rigo, então primeiro-secretário da Assembleia, fazendo revelações bombásticas, como o suposto pagamento de mensalão pelo legislativo no valor de R$ 2 milhões ao então governador André Puccinelli (MDB), de R$ 6 milhões aos deputados estaduais, de R$ 900 mil aos desembargadores do Tribunal de Justiça e de R$ 300 mil ao chefe do Ministério Público, procurador Miguel Vieira.
As revelações deflagraram a Operação Uragano, que levou o prefeito de Dourados da ocasião, Ari Artuzi, o vice-prefeito Carlinhos Cantor e nove vereadores à prisão. Rigo divulgou nota destacando que as declarações estavam fora de contexto, mas o escândalo lhe custou a reeleição em 2010.
Em 2017, durante a Operação Antivírus, do Gaeco, ele acabou sendo preso acusado de integrar o suposto esquema de desvio milionário no Detran (Departamento Estadual de Trânsito). Ele foi denunciado por improbidade administrativa e peculato à Justiça. O juiz David de Oliveira Gomes Filho, da 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, rejeitou a denúncia por improbidade contra o ex-deputado. O Tribunal de Justiça manteve a decisão que inocentou Rigo de integrar o esquema no Detran.
O ex-deputado estava fora da vida pública há anos. A morte repentina foi lamentada por políticos de diversos partidos. “Manifesto meu profundo pesar pelo falecimento do ex-deputado estadual, Ary Rigo, ocorrido na tarde desta quinta-feira (30). Homem voltado aos interesses da população, ocupou os cargos de presidente e primeiro-secretário da Assembleia Legislativa. Enaltecemos a sua vida pública, reconhecendo seus incansáveis e dedicados esforços pelo desenvolvimento do Estado”, lamentou o deputado Felipe Orro (PSDB).
“Fui seu colega na Assembleia Legislativa. Gaúcho e colorado como eu, foi pessoa que escreveu seu nome na História de MS. Quem não quisesse gostar do Rigo que não conhecesse o Rigo. Foi pai afetuoso e amigo leal. Pessoa fraterna e aberta, acabou caindo em armadilha que o prejudicou enormemente e fez com que se afastasse da política”, lembrou o ex-deputado federal e ex-ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun.
“Lamento a morte do ex-deputado estadual Ary Rigo, que nos deixou com 74 anos. Uma fatalidade, acidente doméstico, e Mato Grosso do Sul perde mais um parlamentar constituinte. Que Deus conforte à família e os amigos”, lembrou o deputado Márcio Fernandes.
“É com profundo pesar que recebemos a notícia do falecimento do ex-deputado Ary Rigo. Parlamentar combativo e homem público preocupado com o desenvolvimento do Estado, ele deixa um legado de trabalho e atuação vibrantes. Que Deus em sua infinita misericórdia o receba e conforte o coração dos familiares e amigos neste momento tão difícil”, disse o deputado Gerson Claro (PP).
O velório do ex-deputado será nesta sexta-feira (1º), das 8h30 às 10h30, no Cemitério Parque das Primaveras. O sepultamento está previsto para as 10h30. Rigo deixa a esposa Márcia e os filhos Eduardo e Paula.