De benfeitor da Capital e poderosíssimo e influente empresário por décadas, paparicado por magistrados, autoridades e políticos, até ser formalmente acusado de chefiar a maior e mais estruturada organização criminosa de Mato Grosso do Sul, Jamil Name morreu, às 17h30 deste domingo (27) em decorrência de sequelas da covid-19. Preso desde 27 de setembro de 2019 na Operação Omertà, ele estava internado desde 31 de maio deste ano e chegou a ser considerado curado da doença, mas não resistiu as complicações.
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Apesar da luta da defesa para tirá-lo do presídio em decorrência da pandemia, Jamil Name não obteve o mesmo benefício concedido a outros enrolados com a Justiça, como o ex-secretário estadual de Obras, Edson Giroto, condenado duas vezes, e do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (MDB), condenado a mais de 14 anos. Os advogados chegaram a apelar que ele seria o preso mais idoso do Brasil.
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Os pedidos não sensibilizaram os juízes, os desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul nem os ministros do STJ (Superior Tribunal de Justiça) ou do STF (Supremo Tribunal Federal). Em um dos votos para mantê-lo preso, o ministro Alexandre de Moraes destacou que Name era o chefe da maior e mais estruturada organização criminosa da história de quatro décadas de Mato Grosso do Sul.
As medidas de biossegurança do Presídio Federal de Mossoró (RN), considerado um dos mais seguros do País, falharam e Name acabou infectado pelo novo coronavírus. O estabelecimento passou a enfrentar um surto ao ter mais de 60 casos confirmados nos últimos 30 dias, conforme informações encaminhadas pela direção ao STJ.
Com a saúde bastante debilitada e com idade avançada, Jamil Name testou positivo para a covid-19 no dia 31 de maio deste ano. Ele foi encaminhado para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento Médico) e, em seguida, para uma unidade particular, o Hospital Wilson Rosado, em Mossoró, com o tratamento custeado pela família. No dia 2 de junho, ele foi intubado.
O empresário chegou a reagir e foi declarado curado pela covid-19. No entanto, em decorrência das sequelas da doença, voltou a ser entubado e começou a realizar hemodiálise na semana passada. Os rins pararam no sábado e o empresário acabou morrendo em decorrência de infecção generalizada.
A morte de Jamil Name marca o fim de uma lenda na Capital. Famoso por comandar o jogo do bicho, chamado de gato preto, por décadas, ele contou, em depoimento aos peritos, que chegou à Capital em 1957. Ele começou como anotador do jogo do bicho e carteado.
Apesar da atividade ser considerada contravenção, Jamil Name sempre era prestigiado pelas mais altas autoridades de Mato Grosso do Sul. Juízes, desembargadores, deputados, senadores, prefeitos, delegados e policiais sempre participavam das festas promovidas pelo empresário.
Nos últimos 12 anos, o colunista social Fernando Soares sempre registrou os eventos. “Nunca vi nada que desabonasse a conduta dele”, comentou. “Ele construiu oito bairros em Campo Grande”, lembra. Entre os bairros projetados por Name está o Itanhangá Park, localizado em uma das áreas mais nobres da Capital.
Outro bairro é o Jardim Colúmbia, na saída para Cuiabá. Soares conta que Jamil Name doou a área de 20 hectares para a construção do Hospital São Julião. Em depoimento na Justiça sobre o assassinato do estudante Matheus Coutinho Xavier, do qual é acusado de ser um dos mandantes, Jamil Name gabou-se da condição de benfeitor na Capital. “Eu sustento a cidade, R$ 50 aqui, R$ 100, ali”, gabou-se, diante do juiz Aluizio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri, o único que se sensibilizou com a sua condição e converteu a prisão preventiva em domiciliar. Este benefício foi cassado pelo Tribunal de Justiça.
Fernando Soares inclusive destacou que sempre tirava, a pedido do empresário, as certidões de antecedentes criminais. Sempre estava com a ficha limpa diante da Justiça e da polícia.
A Operação Omertà, deflagrada no dia 27 de setembro de 2019 pelo Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros) e pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), mudou a história de Jamil Name. Pela primeira vez em 80 anos de vida, o poderoso empresário foi preso acusado de chefiar milícia privada e ser dono de uma arsenal de guerra, apreendido quatro meses antes.
A bravata do empresário, ao reagir a prisão, de que estaria livre no dia seguinte, nunca se cumpriu. Diante das acusações contundentes de milícia privada, obstrução da Justiça, pressão de testemunhas e de ter comandado as execuções de Matheus Coutinho no lugar do pai, o capitão Paulo Roberto Teixeira Xavier, do chefe da segurança da Assembleia, o sargento da PM Ilson Martins Figueiredo, e do empresário Marcel Hernandes Colombo, o Playboy da Mansão, fizeram com que os amigos de outrora não o livrassem do cárcere.
O suposto plano para matar o delegado Fábio Peró, do Garras, e o promotor Tiago Di Giulio Freire, do Gaeco, agravou a situação de Name e o octogenário foi transferido e isolado por um ano no Presídio Federal de Mossoró. A 3,2 mil quilômetros da Capital, ele foi acusado, pela 2ª vez, de manter o plano de atentado e coagir testemunhas.
Diante do juiz Roberto Ferreira Filho, da 1ª Vara Criminal de Campo Grande, Jamil Name ameaçou um policial do Garras de morte e ofereceu de R$ 100 milhões a R$ 600 milhões para um ministro de corte superior tirá-lo da cadeia.
Os inconvenientes do empresário levaram o filho, o deputado estadual Jamilson Name (sem partido), entrar com o pedido de insanidade mental. O Gaeco o denunciou pela tentativa de cooptar a Justiça com uma fortuna.
Aos peritos, Jamil Name negou estar louco ou senil. Ele disse que a intenção era provar a sua inocência. O depoimento também causou polêmica. Name declarou ter direito a mais de R$ 41 bilhões em precatórios e de ser dono de mina de pedras preciosas, que teriam faturado R$ 1 bilhão. Para a esposa, a ex-vereadora Tereza Name (sem partido), as declarações provavam que o marido estava senil.
Em decorrência da internação por causa da covid-19, a Justiça tinha suspendido os seis mandados de prisão preventiva contra Jamil Name. A defesa tinha obtido aval para transferi-lo ao Hospital Santa Lúcia, de Brasília (DF), mas ele faleceu antes da medida ser concretizada.
Jamil Name deixa a esposa, Tereza Name, e os filhos, Jamilson Lopes Name e Jamil Name Filho. A família não informou o dia nem o local do velório.
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