O tripé de sustentação do ex-prefeito Alcides Bernal (Progressista) sofreu mais uma baixa na fase de audiências da operação Coffee Break. Depois dos ex-vereadores Paulo Pedra e Luiza Ribeiro, foi a vez de Marcos Alex, que durante a cassação era líder do prefeito, protagonizar reviravolta. A tal ponto de a promotoria destacar que seis anos depois o politico parecia outra pessoa.
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Dono de quatro mandatos na Câmara Municipal, o ex-vereador, que falava em nome de Bernal na Casa de Leis, disse que o então prefeito exercia o poder com radicalismo, paranoia e mencionou uma estrutura que hoje, na gestão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), se convencionou a chamar de gabinete do ódio.
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“Tinha dentro do gabinete do prefeito Alcides Bernal uma estrutura de pessoas para manusear o Facebook, com postagem atacando a Câmara, atacando até vereadores aliados que em determinado momento tinham feito pronunciamento ou alerta. Uma paranoia generalizada”, afirma Marcos Alex, que era do Partido dos Trabalhadores e por longos anos levou a sigla PT no nome.
Arrolado como testemunha dos ex-vereadores Mario Cesar e Paulo Siufi, o ex-líder afirma que o poder subiu à cabeça de Bernal, que resistia a fazer composições políticas, articular-se na eleição para presidente do Poder Legislativo, montar secretariado ou pagar empresas. Na versão do ex-prefeito, os vereadores queriam apadrinhar empresários em contratos com a prefeitura de Campo Grande.
Marcos Alex criticou episódio em que Bernal convidou empresário ao Paço Municipal para orientar sobre desistência de contrato. “E depois oferece novo contrato em caráter de emergência, não é uma postura republicana”, afirma.
Para o ex-parlamentar, a Câmara Municipal não impôs obstáculo à administração de Bernal e descarta conluio entre empresários e vereadores na cassação, efetivada em março de 2014, segundo ano de mandato do prefeito.
“Nunca vi qualquer tipo de proposta que passasse por adquirir vantagem para cassar Bernal. A Câmara não é órgão que impede prefeito de governar”, diz.
O depoimento, que se alongou por quase duas horas, teve momentos de tensão quando entraram em cena os promotores Humberto Lapa Ferri e Adriano Lobo, representantes da acusação.
A introdução para uma das pergunta provocou reação de Marcos Alex. O promotor Humberto lembrou que na última eleição para prefeito, o ex-vereador vestiu o 55 de Marquinhos Trad (PSD).
“Apoei o Marquinhos na condição de cidadão. O senhor deve ter votado e apoiado alguém”, respondeu Marcos Alex. O juiz David de Oliveira Gomes Filho pediu questão de ordem.
Questionado por que não desistiu de apoiar Bernal diante do comportamento que reprovava – como a falta de diálogo ou marcar reunião na Câmara e não aparecer-, o depoente retorquiu que fez oposição por 16 anos ao grupo político de André Puccinelli (MDB) e estava empenhado para o sucesso do mandato de Bernal.
Num contrassenso, diante das criticas ao ex-prefeito, Marcos Alex destacou que o PT lutou para que Bernal retornasse ao comando da prefeitura. Sobre o empresário João Amorim, réu por financiar a cassação, ele afirma que teve um único contato. O todo poderoso empresário ligou pedindo para que o então líder fizesse a ponte entre ele e Bernal. “Fiz o contato e nunca mais tive contato com o Amorim. Nem por telefone nem pessoalmente”.
Os promotores questionaram o motivo da ligação. “Foi no sentido de me pedir socorro, situação caótica, colocar o contrato para andar”. Na sequência, o ex-vereador foi indagado sobre qual contrato. “Não sei exatamente, mas acho que era questão da Solurb, prestação de serviço”, disse, citando o polêmico contrato do lixo.
Oficialmente, João Amorim não faz parte do quadro societário da CG Solurb, sendo uma das empresas do consórcio de propriedade do seu genro. A promotoria também quis saber por que ele fez o contato entre Amorim e Bernal se considerou que convite do prefeito a outros empresários não era republicano. Marcos Alex respondeu que naquele caso não viu problema nenhum.
Nesta quarta-feira (23), o juiz David de Oliveira Gomes Filho ouvirá o depoimento de outra aliada ou ex-aliada de Bernal, que será ouvida como testemunha de defesa, a ex-vereadora e ex-secretária municipal de Ação Social, Thaís Helena.