No artigo “(Des) reforma administrativa e impulso de morte de Paulo Guedes”, o ensaísta e economista Albertino Ribeiro faz dura crítica à proposta de reforma administrativa do serviço público do Governo federal. Na sua opinião, o ministro da Economia quer destruir o Estado brasileiro.
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“Quando Paulo Guedes fala sobre a (des) reforma administrativa, percebemos em seus argumentos inegável ódio ao Estado brasileiro e aos servidores públicos”, ressalta. Em seguida, relembra frases de Guedes a respeito dos funcionários, como “servidor público é parasita” e “gosta de dar carteirada”.
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“É certo que muitas pessoas pensam e sentem a mesma coisa que o imaturo ministro, porém a maioria delas não tem a oportunidade de causar dano ao objeto do seu ódio de forma tão efetiva”, observa.
“Jair Bolsonaro – que tem em Paulo Guedes o seu melhor capataz – disse em um discurso no início de 2019 que não tinha sido eleito para construir, mas para destruir. Com efeito, esse é o governo da destruição, pois assistimos todos os dias a destruição do meio ambiente, das comunidades indígenas; assistimos à destruição da saúde e até da esperança do povo brasileiro”, conclui.
Leia o artigo:
“(Des) reforma administrativa e impulso de morte de Paulo Guedes
Albertino Ribeiro
Segundo a teoria psicanalítica, nossa mente serve a dois senhores chamados de impulso de vida e de morte. Para entendermos o significado desses termos criados por Sigmund Freud, pense que existe em sua mente, leitor, um aparelho psíquico (termo também freudiano) onde coexistem um piloto automático, representado pelos instintos primitivos, e a consciência.
Nesse esquema, o piloto automático é o impulso de morte que assume o controle de nossas decisões. Isso acontece quando abrimos mão da nossa capacidade de pensar e cedemos aos reclames de nossas pulsões.
As pessoas guiadas por esse piloto automático possuem grande intolerância à frustração e tendem a descarregá-las agindo de forma autodestrutivas. Alguns indivíduos, por exemplo, fazem compras compulsivas ou comem exageradamente. Entretanto, existem aqueles que aplacam seus desejos fazendo mal a outras pessoas.
Servidor público como objeto do ódio
Quando Paulo Guedes fala sobre a (des) reforma administrativa, percebemos em seus argumentos inegável ódio ao Estado brasileiro e aos servidores públicos. Guedes revela os seus pensamentos inibidos e recalcados através de atos falhos e chistes – expressões tendenciosas que brotam do inconsciente. Lembra daquele versículo bíblico “a boca fala do que o coração está cheio? ” Diferente do “conhecereis a verdade(…)” , a verdade de Guedes não liberta, mas aprisiona.
“O servidor público é um parasita”; vamos colocar uma bomba no bolso do inimigo”; “servidor público gosta de dar carteirada e dizer: sou eu que mando”. Frases como essas deixam bem claro o tipo de pessoa que ocupa a posição de poder sobre suas vítimas.
Se o psicanalista britânico Wilfred Bion (1897-1979) estivesse vivo, ele diria que seu potencial paciente estaria realizando uma forma de identificação projetiva. Não querendo reconhecer o fato de que ele mesmo sempre foi um parasita do mercado financeiro, o especulador identifica no funcionário público a sua própria sombra.
É certo que muitas pessoas pensam e sentem a mesma coisa que o imaturo ministro, porém a maioria delas não tem a oportunidade de causar dano ao objeto do seu ódio de forma tão efetiva. A posição de Paulo Guedes é privilegiada e lhe permite fazer o seu jogo pessoal dentro da esfera pública, colocando em risco o Estado brasileiro.
É interessante percebermos que o impulso de morte combina com a forma de pensar da extrema direita fascistoide, pois esta, por princípio, é disruptiva; ambos têm pendor para a destruição, inclusive, das instituições.
A palavra reforma, na verdade, causa náuseas nessa gente que utiliza o verbo reformar apenas como um verniz de boas intenções; na verdade o imperativo é destruir.
O Estado brasileiro foi construído – guiado por um verdadeiro impulso de vida – depois de 21 anos de ditadura. Antes da constituição de 1988, apenas 1/3 da população brasileira tinha acesso à saúde pública; a educação pública não era universalizada; estas e muitas outras conquistas mudaram para melhor a vida do povo brasileiro.
Tal presidente, tal ministro
Jair Bolsonaro – que tem em Paulo Guedes o seu melhor capataz – disse em um discurso no início de 2019 que não tinha sido eleito para construir, mas para destruir.
Com efeito, esse é o governo da destruição, pois assistimos todos os dias a destruição do meio ambiente, das comunidades indígenas; assistimos à destruição da saúde e até da esperança do povo brasileiro. Trata-se de uma sanha incontrolável; só falta escutarmos dessa gente uivos de prazer, o que fica bem enfatizado na frase de Bertolt Brecht: “A cadela do fascismo está sempre no cio”.”