Inaugurada há seis anos, com investimento de R$ 290 milhões, a MS-040 já foi recapeada, mas voltou a ficar tomada por buracos ao longo dos 209 quilômetros. As péssimas condições da rodovia nova expõe dois graves problemas em Mato Grosso do Sul: a corrupção e a falta de retorno do Fundersul (Fundo de Desenvolvimento Rodoviário), que teve arrecadação recorde de R$ 1,15 bilhão no ano passado.
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Os problemas expõe as gestões de André Puccinelli (MDB) e Reinaldo Azambuja (PSDB). O emedebista foi denunciado por corrupção, direcionamento em licitação e fraudes na pavimentação da rodovia junto com o ex-secretário estadual de Obras, Edson Giroto. O tucano elevou em até 71% as alíquotas do Fundersul, mas não garante o retorno na melhoria da prestação do serviço aos contribuintes sul-mato-grossenses.
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Nesta segunda-feira (15), após a morte de um caminhoneiro de 55 anos em acidente, após o pneu do caminhão furar, motoristas bloquearam a via por duas horas para protestar contra a falta de manutenção na via. Sites e jornais da Capital confirmaram a procedência das queixas ao mostrar a precária condição da via entre Campo Grande e Santa Rita do Pardo.
Opção a BR-163 para quem não deseja pagar pedágio, a MS-040 se transformou em risco constante de acidentes por causa dos buracos. “Não tem condições. É uma via rápida, com muito trânsito, sem acostamento e esburacada”, contou ao Midiamax o motorista Onofre Vieira Gonçalves, 52 anos. Ele alertou para os buracos próximos das curvas perigosas.
“A pista tem buracos nos dois sentidos, mesmo tendo sido recapeada há pouco tempo. Nós sabemos que o acidente de hoje (segunda) não foi por conta dos buracos, mas isso acendou o alerta em nós que passamos por aqui todos os dias praticamente”, afirmou o coordenador do ato, Philip Chaparro, em entrevista ao Campo Grande News.
“Tem muito veículo passando aqui, a pista foi ficando mais danificada. Tem que passar quase invadindo a outra pista para desviar dos buracos. Eu passo rente ao acostamento para evitar bater em quem vem no sentido contrário, mas quem não conhece a pista pode sofrer acidente”, explicou Nilson Vilalva, ao Midiamax.
A rodovia pode ser o exemplo claro dos efeitos da corrupção na vida do cidadão. Puccinelli a inaugurou em 29 de dezembro de 2014, no apagar das luzes do mandato. De acordo com a Operação Lama Asfáltica, da Polícia Federal, a obra também teve desvio de dinheiro público.
A Proteco, de João Amorim, teve dois lotes e recebeu R$ 45,4 milhões para pavimentar trecho da rodovia. A Encalso Construções, que teria pago propina e é a construtora do residencial Damha, ficou com três lotes (R$ 88,9 milhões). A CGR Engenharia, que chegou a recuperação judicial, ganhou o lote de R$ 33,3 milhões. O pacote conta com a Equipe Engenharia (R$ 48,3 milhões) e Equipav (R$ 55 milhões).
Denúncia cita fraude e desvios em rodovia
Em setembro de 2019, o juiz Pedro Pereira dos Santos, da 4ª Vara Federal de Campo Grande, determinou o bloqueio de R$ 40 milhões do ex-governador e mais 19 em ação por improbidade administrativa por fraudes, desvios e direcionamento na obra da MS-040. O MPF chegou a denunciar o emedebista e Giroto por peculato, mas a denúncia acabou rejeitada pelo juiz por ser muito complexa.
Além da corrupção, a precariedade da via expõe o Fundersul. Reinaldo elevou a taxa do fundo em 71%. De acordo com o Correio do Estado, a arrecadação do Governo do Estado com o Fundersul somou R$ 1,15 bilhão no ano passado. O valor é superior ao montante informado pelo Portal da Transparência, que informa arrecadação de R$ 940 milhões em 2020.
Apesar do cofre cheio, o Governo do Estado não está conseguindo manter as rodovias estaduais em boas condições de tráfego. A MS-040 é emblemática porque fica na Capital e não recebe atenção adequada da “gestão eficiente” de Reinaldo.
A precariedade da rodovia se junta a outras no interior, como entre Figueirão e Camapuã, entre Tacuru e Mundo Novo ou entre Maracaju e Itaporã. A situação é tão crítica, que até acidentes com mortes já foram registrados em decorrência da buraqueira.
A situação pode levar o famoso repórter do Fantástico a questionar: cadê o dinheiro do Fundersul?