Os caciques tucanos vetaram o retorno do engenheiro Marcelo Miglioli (SD) ao comando da Secretaria Estadual de Infraestrutura. A reforma no secretariado, em estudo por Reinaldo Azambuja, visa fortalecer o projeto do PSDB se perpetuar no poder em Mato Grosso do Sul. Acusado por três crimes no Superior Tribunal de Justiça, ele trabalha para ser o primeiro governador a fazer o sucessor na história do Estado.
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A troca de secretários foi anunciada antes das férias do tucano e começou com a exoneração do vice-governador Murilo Zauith (DEM) do comando da Secretaria de Obras. Enquanto a pasta é comandada por interino, o tucano mexe no tabuleiro visando se fortalecer para as eleições de 2022, quando poderá disputar a única vaga de senador, de Simone Tebet (MDB), ou uma das oito em jogo na Câmara dos Deputados.
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Inicialmente, Reinaldo cogitou trazer Miglioli de volta ao Governo no cargo que o projetou politicamente e lhe deu musculatura para disputar o Senado em 2018. No entanto, sem o apio da máquina, o ex-secretário encolheu politicamente e teve desempenho pífio na disputa da Prefeitura de Campo Grande. Sem força política, ele acabou vetado pela cúpula do PSDB.
Os tucanos querem colocar Eduardo Riedel, que comanda a Secretaria de Governo e Gestão Estratégica, no comando das obras no Estado. Ele poderá inaugurar o Aquário do Pantanal, lançado na gestão de André Puccinelli (MDB) e com investimento de mais de R$ 300 milhões, em 2022. Com visibilidade e a estrutura da máquina, que pode assegurar apoio da maior parte dos prefeitos, Riedel se apresenta como candidato competitivo para disputar a sucessão de Reinaldo.
O mais cotado para comandar a articulação política seria o secretário estadual de Meio Ambiente, da Produção e de Planejamento, Jaime Verruck. O cotado para a sua vaga é o médico veterinário Ademar Silva Júnior, presidente da Anater (Agência Nacional de Assistência Técnica Extensão Rural). Ex-presidente da Famasul (Federação de Agricultura), assim como Riedel, ele é próximo da ministra da Agricultura e Pecuária, Tereza Cristina, com quem trabalhou na Secretaria Estadual de Produção na gestão emedebista.
De olho na vaga no Tribunal de Contas do Estado, Sérgio de Paula continuaria como presidente regional do PSDB e com o cargo de secretário especial estadual, que lhe garante o salário de R$ 28 mil por mês. Ele comanda a máquina tucana, com 37 prefeitos e 234 vereadores no Estado.
O ex-secretário estadual de Administração, Carlos Alberto Assis, pode substituir Youssif Domingos na presidência da Agepan (Agência Estadual de Regulação), onde terá mandato com prazo determinado e status.
O governador também poderá mexer no comando da Sanesul (Empresa de Saneamento de Mato Grosso do Sul). O atual presidente, Walter Carneiro Júnior, seria mais um aliado de Murilo a ser extirpado do Governo. O PSDB pode assumir a empresa, que toca o bilionário plano de privatização de esgoto em parceria com a Aegea, controladora da Águas Guariroba, na Capital.
O plano do PSDB é ousado. Desde a criação do Estado, em 1979, o governador não conseguiu eleger o sucessor. Pedro Pedrossian e Wilson Barbosa Martins fracassaram no esforço. Ramez Tebet (MDB) garantiu a eleição de Marcelo Miranda em 1986, mas a eleição foi resultado do Plano Cruzado, lançado por José Sarney, que acabou logo após o fechamento das urnas e garantir o sucesso do MDB.
Zeca do PT quase conseguiu impedir a vitória de André Puccinelli (MDB) no primeiro turno em 2006. O emedebista não conseguiu impedir que o seu candidato em 2014, Nelsinho Trad, ficasse de fora do segundo turno, disputado entre Delcídio e Reinaldo.
Os tucanos apostam no cenário previsto para 2022: sem nenhum favorito. Nelsinho Trad, André Puccinelli e Luiz Henrique Mandetta (DEM) estão desgastados com denúncias de corrupção. Eles podem disputar, porque não há condenação nem são considerados fichas sujas pela Justiça.
Neste cenário, mesmo com a denúncia de que teria recebido R$ 67,791 milhões em propinas, Reinaldo tenta repetir a estratégia de 2020 para fazer Eduardo Riedel o seu sucessor. Para manter o foro privilegiado, o tucano pode se espelhar em Aécio Neves (PSDB), de Minas Gerais, que trocou o Senado por uma eleição tranquila na Câmara dos Deputados. Com foro, o ex-governador de Minas Gerais conta com o corporativismo do legislativo brasileiro, onde há também acusados de assassinato, corrupção, organização criminosa, etc.
A reforma deve ser anunciada após o Carnaval e sinalizará o plano do PSDB para as eleições de 2022. A nomeação de Ademar Silva Júnior pode antecipar aliança com Tereza Cristina, que poderá disputar o Senado fazendo dobradinha com Riedel.
Após as articulações, a última decisão caberá ao eleitor. Em MS, mesmo após eleger acusados de corrupção, o eleitorado tem se mostrado reticente a dar aval aos acordos de bastidores para sacramentar a eleição dos abençoados pelo poder.