A arrecadação do Fundersul (Fundo de Desenvolvimento Rodoviário) bateu recorde no ano passado após o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) elevar em até 71% nas alíquotas cobradas dos produtos rurais. No entanto, os sul-mato-grossenses não estão vendo o retorno, já que as rodovias estaduais estão sem manutenção, abandonadas e tomadas por buracos, que vem causando acidentes e até morte.
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De acordo com o Portal da Transparência, a arrecadação do fundo chegou a R$ 940,5 milhões em 2020, o que representa acréscimo de 31% em relação aos R$ 713,5 milhões arrecadados no ano anterior. Em relação a 2015, primeiro ano do mandato tucano que contabilizou receita de R$ 468,4 milhões, houve aumento de 100%.
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Só que o aumento não vem se refletindo nas rodovias estaduais. A situação da MS-436, entre o distrito de Pontinha do Cocho e Figueirão, é lastimável. O motorista Sidnei Bitencourt, 37 anos, registrou a buraqueira em postagem no Facebook. “Uma vergonha com o selo Azambuja de qualidade”, ironizou.
De acordo com o profissional, a precariedade atrasa o horário das entregas, causa prejuízo às empresas com troca de pneus e amortecedores e ainda põe em risco a vida dos motoristas com a falta de segurança. “Não tem sinalização nem placas, está totalmente abandonada”, lamentou.
Um empresário registrou a precariedade de duas rodovias, a MS-162 e MS-157, entre Sidrolândia e Maracaju e Maracaju e Itaporã. “Estão perigosíssimas”, lamentou, pedindo para não ser identificado. Ele contou que teve prejuízo de R$ 4 mil para trocar dois pneus na semana passada.
Menos sorte teve o militar do Exército, Leonardo Apóstolo de Freitas, 22 anos, que morreu após ser atingido por um veículo. Na sexta-feira, um veículo Gol desviou de um buraco na MS-157, entre Maracaju e Itaporã, quando atingiu a moto e matou o militar. O garupa da moto ficou ferido.
Já na MS-162, entre Sidrolândia e o distrito de Quebra-Coco, uma caminhonete, com quatro pessoas, saiu da pista e capotou ao desviar de buracos na via. Três pessoas ficaram feridas e foram socorridas pelo Corpo de Bombeiros.
A situação se repete no sul do Estado, entre as cidades de Sete Quedas, Tacuru e Eldorado. “Totalmente cheia de buracos”, comentou a produtora rural Rosângela Fergutz. Ela contou que gastou R$ 1,3 mil para trocar os amortecedores do veículo.
Produtores rurais também denunciam a precariedade de rodovias sem pavimentação, onde enfrentam atoleiro para escoar a produção.
A Secretaria Estadual de Infraestrutura informou, por meio da assessoria de imprensa, que a manutenção será feita em breve. “A Agesul já abriu processo licitatório para contratação da empresa que fará a manutenção das rodovias MS-157 e MS-162”, informou. “O processo licitatório está em fase recursal. Assim que finalizado, o serviço de manutenção dessas estradas voltará a ser executado normalmente”, garantiu.
“A Agesul ressalta que o trabalho de manutenção das rodovias estaduais é feito rotineiramente, em todo Estado. Os contratos vencem, então é preciso lançar nova licitação. Em alguns casos, quando o processo entra em fase recursal, o processo licitatório pode demorar um pouco mais para ser concluído”, justificou-se.
A principal indignação é que os contribuintes estão pagando mais caro, mas sem ter o retorno. Reinaldo Azambuja não só manteve o polêmico Fundersul, criado na gestão de Zeca do PT, como elevou as alíquotas cobradas sobre grãos, boi, cana-de-açúcar e madeira.
No dia 27 deste mês, em edição extra, o Diário Oficial do Estado publicou o decreto regularizando o aumento nas taxas do Fundersul. Conforme o documento, assinado pelo governador em exercício Murilo Zauith (DEM), as alíquotas são retroativas ao novembro de 2019, quando houve a aprovação da lei. Na época, os deputados aprovaram o pacote do tucano sob protesto dos produtores rurais. Eles chamaram os parlamentares de “vagabundos”.