Entidades farão representação para o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) investigar o presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, desembargador Carlos Eduardo Contar, pelo polêmico discurso contra as medidas de prevenção da covid-19. O presidente nacional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz, classificou a fala como “estarrecedora” e “infeliz”.
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Composto por mais de 40 entidades, o Fórum Estadual da Vacina divulgou nota de repúdio contra a postura de Contar. “Com essa postura, o novo presidente do TJMS tenta desqualificar o combate à pandemia e minimizar a tragédia que o País vive. Na verdade, a fala de Contar faz coro à onda negacionista e obscurantista, que parte do governo federal e seus seguidores, no momento em que a sociedade brasileira se enche de esperança, com a chegada da vacina”, acusam.
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“É lamentável que uma declaração dessa parta de um representante do Judiciário, de quem se espera bom senso. De uma autoridade que deveria dar o exemplo, e se solidarizar ao sofrimento da população, apoiando as medidas de combate à doença. Vivemos tempos sombrios, mas vamos continuar na luta em favor da vacina para todos, e das medidas para conter a disseminação da Covid”, afirmou Walter Gonçalves Filho, presidente do Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso do Sul (Sindjor-MS).
Para o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, houve falta de respeito com as famílias das 218.918 pessoas que morreram em decorrência da doença no Brasil. No mundo, a covid-19 causou 2,166 milhões de óbitos. “Com mais de 200 mil vidas perdidas, eu realmente não acredito que ainda possa haver negacionismo, mas uma politização cruel da pandemia e um tolo mimetismo presidencial”, lamentou o comandante da entidade.
“Como servidor público, não é admissível que o desembargador dissemine ideias negacionistas que o mostram como o verdadeiro ‘venerador da morte’. Estamos lutando pela verdade e pelo direito à saúde integral”, reagiu Cássia Reis, presidente da ADUEMS (Associação dos Docentes da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul).
O caso também pode render dor de cabeça ao novo presidente do Tribunal de Justiça no CNJ. O movimento Juristas pela Democracia, junto com a Fetems (Federação dos Trabalhadores em Educação), ADUFMS (Associação dos Docentes da Universidade Federal) e CUT (Central Única dos Trabalhadores) vão encaminhar uma reclamação disciplinar no CNJ.
Eles pedem para a entidade apurar a realização do evento, com a participação de 300 pessoas em espaço fechado, e o polêmico discurso. As entidades alertam que houve desrespeito à liminar do próprio TJMS e aos decretos municipal e estadual, que proíbem aglomerações.
“Além de descumprir a determinação judicial, e a legislação em vigor, em seu discurso de posse, que também foi transmitido ao vivo pela plataforma YouTube[1], o representado, violando os deves da função e do cargo para o qual acabava de ser empossado, desdenhou das medidas de isolamento social (previstas no art. 3º, inciso I e II, da Lei Federal 13.979/2020), fez crítica Além de descumprir a determinação judicial, e a legislação em vigor, em seu discurso de posse, que também foi transmitido ao vivo pela plataforma YouTube[2], o representado, violando os deves da função e do cargo para o qual acabava de ser empossado, desdenhou das medidas de isolamento social (previstas no art. 3º, inciso I e II, da Lei Federal 13.979/2020), fez crítica generalizante e inapropriada à imprensa (pilar da democracia) e apologia a tratamentos à COVID 19 sem nenhuma eficácia cientificamente comprovada”, pontuaram.
“Nesta esteira, é cediço que aos magistrados é vedado qualquer ‘procedimento incompatível com a dignidade, a honra e o decoro de suas funções’ (art. 37, Código de Ética da Magistratura Nacional) e, estes, devem ainda ‘manter conduta irrepreensível na vida pública e particular’”, ressaltaram, citando artigos a Lei Orgânica da Magistratura.
“Como efeito, a manifestação da mais alta autoridade do Poder Judiciário sul-mato-grossense contra as recomendações das autoridades sanitárias, e contra a legislação estadual e municipal em vigor, além de ser um péssimo exemplo, passa a confundir a opinião pública, que não sabe se deve cumprir ou não o isolamento social. É como se essa fosse a opinião do Poder Judiciário e da própria magistratura”, destacam.
Em evento nesta terça-feira (26), Contar afirmou que mantém na integra o discurso de posse, que teve o apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em duro discurso, ele classificou como “histeria coletiva” as recomendações para se combater a pandemia. O desembargador classificou ainda como “mentira global” e “louvor ao morticínio”.
Sem citar, o presidente do TJMS defendeu a cloroquina, que não teve comprovação científica. “O combate leviano indiscriminado a medicamentos que se, não curam, isto jamais fora dito, pode, podem simplesmente no campo da possibilidade ajudar na prevenção ou diminuição contágio, mesmo não sendo solução perfeita e acabada”, afirmou Contar.
Ele também condenou o “fique em casa”, defendido por autoridades de saúde e pelo ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM).
“Voltemos forças ao retorno ao trabalho deixamos de viver conduzidos como rebanho para o matadouro, daqueles que veneram a morte, que propagandeiam o quanto pior melhor, desprezemos pois o irresponsável, o covarde e picareta de ocasião que afirme fica em casa, não procurem socorro médico com sintomas leves, não sobrecarreguem o sistema de saúde”, bradou Carlos Eduardo Contar.