Antes de ser Mato Grosso do Sul, Estado criado em 1977, a fronteira de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero (Paraguai) já era terra de contrabando. Se hoje as rotas terrestres da região fronteiriça são conhecidas como ponto de passagem para cigarro ilegal e tráfico de armas e drogas, na década de 60 o forte era o contrabando de café.
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O “ouro negro” surgiu como alternativa econômica após o declínio do cultivo da erva-mate em Ponta Porã, carinhosamente chamada de Princesinha dos Ervais. Essa modalidade de contrabando é associada a nomes até hoje em projeção.
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Como Fahd Jamil , o Rei da Fronteira, acusado por ter tentado contrabandear 1.200 sacas de café para o Paraguai em 1978, e o narcotraficante Luís Carlos da Rocha, o Cabeça Branca, que se refugiou na fronteira em 1987 após crime em Londrina e primeiro se enveredou pelo contrabando de café, área de negócios do seu pai.
O motivo do café tanto cruzar a fronteira Brasil e Paraguai era tributário. “O grande volume de contrabando de café para o Paraguai constituía uma grande operação de fuga de impostos. No Paraguai as taxas sobre o produto eram muito vantajosas se comparadas com as do Brasil. Assim, o café entrava como contrabando, no Paraguai, para, mais tarde, retornar ao Brasil como produto importado pelo regime aduaneiro especial ‘drawback’”, narra José Cícero da Mota, na dissertação “Contrabandos e Descaminhos na Fronteira de Mato Grosso: um Olhar da Imprensa”.
Os jornais registravam o crime e lances curiosos, como o carregamento ser acompanhado por advogados, que seguiam à distância, mas prontos para entrar em ação.
“Os contrabandistas também buscavam se resguardar no sentido de terem sua mercadoria apreendida, para isso, recorriam ao auxilio de advogados, que acompanhava à distancia a frota motorizada e surgiam na eventualidade de uma apreensão da carga, a fim de requerer medidas judiciais”.
Também chamava a atenção das autoridades o grande volume de café transportado para Ponta Porã, pois o mercado local era considerado muito pequeno para absorver a quantidade de produtos que chegava até lá.
Depois do café, veio o contrabando de soja, numa linha do tempo que chega ao tráfico de maconha e cocaína, o “ouro branco” dos entorpecentes.
Atualmente, conforme a Conab, Mato Grosso do Sul não possui produção significativa de café. O maior produtor é Minas Gerais, com 32 milhões de sacas por ano.