O governador Reinaldo Azambuja (PSDB) decidiu dar um “presente de grego” aos sul-mato-grossenses: ao mesmo tempo em que anunciou a revitalização, obteve aval da Justiça para continuar o desmatamento do Parque dos Poderes. A opinião é da advogada Giselle Marques, em artigo exclusivo para O Jacaré. “Apelidado de ‘governador moto serra’ por ambientalistas e por frequentadores do Parque, Reinaldo passará para a história como o dirigente que desmatou o Parque dos Poderes”, alerta.
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Ao ir na contramão do movimento mundial em defesa da preservação do meio ambiente, o tucano acaba seguindo o exemplo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas ações que ampliam o desmatamento da Amazônia e do cerrado. “Essa falta de firmeza nas decisões parece ser mais um quesito no qual o governador tenta imitar o presidente mais inseguro da história do Brasil”, pontua Giselle.]
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“Neste Natal espera-se que o governo do estado pare de desmatar o Parque dos Poderes. Este sim, seria um verdadeiro presente para a população sul-mato-grossense”, conclui, em artigo que critica o projeto de revitalização do Parque dos Poderes, inaugurado em 1983 como exemplo para o País pelo então governador Pedro Pedrossian.
“Governo Reinaldo não desiste de desmatar o Parque dos Poderes: presente de grego para os sul-mato-grossenses
Giselle Marques (*)
Neste Natal o governador Reinaldo Azambuja oferece um “presente de grego” aos sul-mato-grossenses: a retomada do desmatamento no Parque dos Poderes, símbolo da investidura do Mato Grosso do Sul como unidade autônoma da federação brasileira, conforme palavras de Pedro Pedrossian na placa inaugural. Apelidado de “governador moto serra” por ambientalistas e por frequentadores do Parque, Reinaldo passará para a história como o dirigente que desmatou o Parque dos Poderes.
Curioso é que o Governo do Estado acaba de anunciar um pacote para suposta “revitalização” do parque. O projeto, que não foi discutido com a sociedade civil, prevê ciclovias, calçamentos, banheiros, mas nada de recuperação da área degradada. Pelo contrário, após ter recorrido da liminar concedida pelo juiz Ariovaldo Nantes Corrêa, que suspendia o desmatamento em todo o Complexo do Parque dos Poderes, o Governo do Estado desistiu do recurso e, um dia depois, “desistiu da desistência”, protocolando novo recurso ao Tribunal de Justiça, e obtendo do presidente do Tribunal de Justiça carta branca para voltar a desmatar.
Essa falta de firmeza nas decisões parece ser mais um quesito no qual o governador tenta imitar o presidente mais inseguro da história do Brasil. Aliás, infelizmente, atitudes contraditórias e o desrespeito ao óbvio ululante, parecem estar na moda. Desmatamento também. Amazônia, Pantanal, Cerrado, são biomas que tombam sob o beneplácito de uma população perplexa. Os movimentos sociais não são suficientes para barrar esse descalabro. Em plena pandemia, jornalistas, advogados, intelectuais, professores universitários, estudantes, têm ido às ruas clamar por justiça. Em vão. O silêncio das autoridades constituídas é ensurdecedor.
Ciclistas que frequentam o Parque dos Poderes questionam a necessidade de uma ciclovia, já que a velocidade máxima permitida no local é de apenas 30 km/h. Nos finais de semana um lado da pista é interditado e o ciclismo é praticado tranquilamente. Quem precisa de ciclovias são os trabalhadores que moram em bairros distantes da área central, e que não conseguem usufruir do transporte coletivo devido ao alto preço das passagens.
O Parque precisa do plantio de novas árvores, de forma a evitar o assoreamento que há alguns meses secou o lago do Parque das Nações Indígenas, e também de atitudes que visem proteger ao invés de degradar.
O desgoverno impera no âmbito federal, e também aqui, no estadual. O tal projeto de revitalização surge como coroamento de uma visão equivocada acerca do Parque, que segundo a Lei Federal 9985/2000 tem por objetivo a preservação dos ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, devendo possibilitar a realização de pesquisas científicas e atividades de educação e interpretação ambiental.
O projeto de revitalização anunciado não atende a essas características, preocupando-se apenas com o aspecto do esporte, que é importante, mas não é o único que merece atenção. Privilegiá-lo significa a apropriação do espaço público por interesses privados de alguns grupos. E, também, a vitória do concreto armado e do asfalto sobre as capivaras, os quatis e as aves, ou seja, sobre a natureza desarmada no local.
Aliás, Reinaldo não explicou porque retirou as lombadas eletrônicas do Parque dos Poderes. Não justificou o motivo e nem anunciou quando serão reinstaladas. A fauna local padece sob as rodas dos motoristas apressados. O Governo afirmou que as obras de revitalização não envolvem a derrubada de árvores. Mas, se isso é verdade, qual o motivo de recorrer da decisão judicial que impedia o desmatamento?
Neste Natal espera-se que o governo do estado pare de desmatar o Parque dos Poderes. Este sim, seria um verdadeiro presente para a população sul-mato-grossense.”