Aos 25 anos de idade, a estudante universitária Camila Jara se transformou em principal promessa de renovação dos quadros do PT de Mato Grosso do Sul. Neta de Narcisa Canhete Jara, 77, uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores, a jovem virou nome de consenso de um grupo de 12 universitários, encantou voluntários e elegeu-se vereadora com 3.470 votos, 30 abaixo da meta, e promete acabar com a monotonia da Câmara Municipal ao discutir os principais problemas de Campo Grande.
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Estudante do último ano do curso de Ciências Sociais da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Camila promete retomar o espírito dos primórdios do PT na Câmara, quando os parlamentares do partido, como Ben Hur Ferreira, Pedro Teruel e Pedro Kemp, colocavam o dedo na ferida, ao apontar as deficiências da cidade, e cobravam soluções para o futuro.
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Problemas não faltam. Uma das prioridades será impedir o aumento na alíquota de esgoto de 70% para 80% a partir de 2022, como está previsto no contrato que acabou com a tarifa mínima de água em 2017. Ousada, a petista quer reduzir a taxa para 30%. “Vamos lutar por uma cidade menos desigual”, pontua.
O péssimo e caro transporte coletivo oferecido pelo Consórcio Guaicurus vai entrar na mira da vereadora eleita, dando continuidade a uma bandeira do vereador Vinicius Siqueira (PSL), que não retorna em 2021 porque perdeu a disputa da prefeitura. A petista ressalta que existem 3 mil denúncias de irregularidades cometidas pelo grupo no Ministério Público Estadual.
Camila quer cobrar o cumprimento da lei em relação aos 5 mil professores da rede municipal de ensino, que deveriam receber 100% do piso nacional para jornada de 20 horas. Os profissionais de saúde devem ter adicional de insalubridade, na opinião da universitária. Outro ponto da lei, que ela lutará para tirar do papel, será o 1% de investimento em cultura. A jovem defende ações culturais voltadas para a população.
A nova vereadora já está com o projeto pronto para destinar R$ 1 milhão em bolsas permanência para jovens universitários. O dinheiro está garantido por meio de emenda do deputado federal Vander Loubet (PT).
Morando no Bairro Nossa Senhora das Graças, entre o Coophasul e a Avenida Euller de Azevedo, ela lamenta a falta de recursos no orçamento para combater a desfavelização da Capital no próximo ano. Atualmente, conforme a candidata vitoriosa, há 38 favelas na Capital.
A eleição de Camila surgiu da reação dos estudantes ao movimento da extrema direita que levou Jair Bolsonaro (sem partido) à presidência da República em 2018. O movimento ganhou força no ano passado, quando ela participou dos movimentos estudantis contra o corte de verbas na educação e da UFMS.
Atuante no movimento estudantil, desde a época em que estudou no Colégio Dom Bosco, quando participou do debate do Plano Nacional de Educação. Na gestão de Alcides Bernal (Progressistas), Camila foi atuando no Fórum Municipal da Juventude e da mobilização para se ter moradia estudantil na Capital.
Como estudante, Camila participou das plenárias, cursos de formação e protestos organizados pela CUT (Central Única dos Trabalhadores) e do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). A militância na veia levou o grupo de 12 amigos universitários petistas, quando decidiram lançar um representante nas eleições deste ano, a optar por Camila.
Para se adaptar aos novos tempos, ela participou de cursos feitos até por candidatos de direita, como o Renova BR, que tem o apoio do apresentador global Luciano Huck. Nas aulas, ela aprendeu noções de redes sociais, marketing pessoal e vaquinha social – aliás, temas sempre ignorados pelos partidos de esquerda.
Inicialmente, Camila temeu o desafio de ser candidata a vereadora do grupo, mas acabou convencida a aceitar o desafio. Sem receber um tostão e com a disposição da rede de voluntários, que só crescia, ela chegou a campanha contando com a ajuda de aproximadamente 200 pessoas, a maioria era formada por jovens.
A ajuda de custo do fundo partidário (R$ 27 mil) e do PT (R$ 5 mil) só chegou na reta final da campanha, quando retribuiu a dedicação de alguns voluntários. “Foi gratificante, porque encontrei muitas pessoas que acreditaram no projeto”, relembra Camila.
A campanha adotou estratégia semelhante a da majoritária ao fazer pesquisa com aproximadamente 700 pessoas para descobrir as demandas de cada uma das regiões de Campo Grande. Com o mapeamento das necessidades de cada região, ela definiu as propostas para a Capital.
Em tempos de pandemia, a campanha cresceu online e nas ruas. A adesão fez o grupo dos 12 projetar que Camila atingiria a meta estimada no início, de 3.500 votos, para se eleger vereadora.
No dia da eleição, evangélica, ela foi à igreja, votou e decidiu dormir após o almoço. Ansiosa, como toda a família, só acordou às 19h, crente de que já saberia do resultado. No entanto, o atraso na apuração, por causa do supercomputador do Tribunal Superior Eleitoral, prolongou a agonia da família e dos amigos até às 21h, quando foi proclamado o resultado de eleita.
Com a validade dos votos de Delei Pinheiro (PSD) e derrota de Dharleng Campos (MDB), a petista deve se tornar a única mulher entre os 29 vereadores na próxima legislatura. Orgulho da avó petista, ela tem se manifestado otimista com entrada na vida política.
A universitária vinha se preparando para atuar no legislativo. No entanto, não imaginava que fosse como vereadora. Camila Jara vinha se preparando para passar no concurso da Câmara dos Deputados para trabalhar como técnica legislativa, porque considera o parlamento mais importante até que o Executivo.