Polêmico, sem papas na língua e eleito com 56.339 votos (5º lugar) na onda de Jair Bolsonaro (sem partido), Loester Gomes Carlos de Souza, o Loester Trutis (PSL) simulou um atentado contra si. Graças a imagens das câmeras de segurança da rodovia, o GPS do veículo e a perícia, a Polícia Federal desmontou a farsa montada pelo deputado e pelo assessor, candidato a vereador da Capital e empresário, Ciro Nogueira Fidelis (PSL).
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A simulação de atentado a bala não é novidade na política sul-mato-grossense. No dia 26 de maio de 2008, na estrada vicinal de Panambi, o então deputado estadual Ari Artuzi, então no PDT, afirmou que foi vítima de um atentado. A Polícia Civil desmontou a versão e concluiu que tudo não passou de fake news.
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A história se repete. De olho na disputa da Prefeitura de Campo Grande, Trutis vinha criando fatos para se projetar politicamente. No ano passado, ele e Ciro, que também era seu assessor, gravaram vídeo oferecendo recompensa de R$ 200 mil por pistas dos supostos mandantes da tentativa de assassinato do presidente Jair Bolsonaro. Ele não acredita na versão da PF, de que Adélio Bispo agiu sozinho ao dar a facada no candidato a presidente em setembro de 2018 em Juiz de Fora (MG).
Na manhã do dia 16 de fevereiro deste ano, Trutis publicou nas redes sociais que tinha sido alvo de atentado na BR-060, a caminho de Sidrolândia, que fica a 70 quilômetros da Capital. O parlamentar procurou a Superintendência da Polícia Federal para registrar a ocorrência.
Na ocasião, ele disse que foram noves tiros de submetralhadora, disparados por homens em uma caminhonete L-200. Graças a proeza do motorista e da sua reação, com uma pistola 380, o deputado gabou-se que conseguiu sair ileso do suposto atentado.
A desconstrução da versão de Trutis começou ainda naquele domingo de fevereiro. Policiais federais não encontram nenhum vestígio de troca de tiros nem vidros quebrados na altura do quilômetro 374 da BR-060. Nem sinais de frenagem havia no asfalto no local indicado pelas supostas vítimas.
Graças ao GPS do automóvel, um Toyota Corolla, os federais descobriram o trajeto feito pelo deputado e o fiel escudeiro na manhã de domingo. Eles percorreram duas estradas vicinais de terra na região da BR-060 e ainda pararam. Neste local, os policiais encontraram projéteis de arma de fogo e vidros quebrados.
“Informação policial nº 004/2020 (fls. 377-89): apresenta mapas com pontos de marcação da localização geográfica do veículo, sequenciando seu deslocamento e demonstrando que ele foi conduzido por duas estradas vicinais, sem asfalto, localizadas próximas à BR 060, permanecendo parado, com a ignição desligada, em uma delas (fato não informado pelos investigados CIRO e LOESTER às autoridades policiais)”, observou a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, no despacho de 26 de outubro deste ano.
Confira abaixo vídeo do deputado sobre a Operação Tracker
https://www.facebook.com/loestertrutisdep/videos/700762054190187
Imagens das câmeras de segurança na rodovia revelaram que o veículo de Trutis e Ciro trafegou devagar na BR-060. Em busca de estrada vicinal tranquila, eles teriam feito vários retornos. A PF concluiu que o deputado e o candidato a vereador pararam os carros, deram os tiros e foram na delegacia registrar o boletim de ocorrência.
A perícia desmontou a versão da troca de tiros com os dois carros em movimento. “Quanto à trajetória dos disparos dentro do veículo, concluiu que apenas em uma situação muito específica, com o primeiro disparo atingindo o porta-malas, o ocupante do banco traseiro sairia ileso da ação”, destacou a PF, considerando a versão de Trutis estava sentando no banco de trás, no meio, e protegeu-se colocando a cabeça entre as pernas.
“No que diz com a posição do atirador externo, atestou que a maioria dos disparos poderia ter sido feito por atirador embarcado ou não, mas que um deles (identificado como disparo ‘D’) não é compatível com o atirador embarcado em uma caminhonete, por ter trajetória ascendente”, anotou a magistrada.
Ao analisar as mensagens no telefone celular do deputado, a PF concluiu que ele trocou mensagens cifradas com Jovani Batista da Silva, um dos quatro alvos da Operação Tracker. Também muitas mensagens foram apagadas, dificultando a recuperação.
Para desvendar o que seria “aquela prosa”, nos diálogos interceptados e cifrados, a ministra Rosa Weber autorizou a apreensão dos telefones celulares dos quatro investidos. Além Trutis, Ciro e Jovani, o irmão do deputado, Alberto Carlos Gomes de Souza também é investigado.
Apesar de ter imunidade parlamentar, Trutis acabou preso por porte ilegal de arma de uso restrito. De acordo com a TV Morena, a PF localizou um fuzil e duas pistolas em poder do parlamentar.
Pela Constituição Federal, o deputado não tem imunidade no caso de crime inafiançável, que é o caso de arma de uso restrito das polícias e das Forças Armadas. No entanto, Trutis foi liberado e não passou a noite no presídio, conforme o Campo Grande News.