Criado para ajudar pobres e desempregados durante a pandemia da covid-19, o auxilio emergencial foi pago a 18 candidatos milionários em Mato Grosso do Sul. De acordo com relatório do ministro Bruno Dantas, do Tribunal de Contas da União, outros 139 políticos receberam o benefício, apesar de terem patrimônio superior a R$ 300 mil.
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No País, 10,7 mil candidatos receberam a ajuda de R$ 600, apesar do patrimônio incompatível, conforme reportagem do Correio Braziliense. Inicialmente, o Governo federal não impôs restrições ao valor do patrimônio para pagar o benefício. No entanto, ao prorrogar o valor em setembro, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) determinou que “o auxílio emergencial residual não será devido ao trabalhador beneficiário que tinha, em 31 de dezembro de 2019, a posse ou a propriedade de bens ou direitos, incluída a terra nua, de valor total superior a R$ 300 mil”.
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Ex-prefeito de Inocência por dois mandatos, o pecuarista Antônio Garcia dos Santos, o Toninho da Cofapi (DEM), recebeu três parcelas do auxílio emergencial, que totalizou R$ 1,8 mil, apesar de acumular uma fortuna, R$ 6,431 milhões. Conforme declaração feita à Justiça Eleitoral, ao tentar o cargo de prefeito pela terceira vez, ele tem uma fazenda de R$ 5,7 milhões e reside em uma casa de R$ 400 mil.
Residindo em uma casa avaliada em R$ 1,167 milhão em Sonora, o candidato a prefeito João Cavalcante (Pode) recebeu R$ 2,4 mil em auxílio emergencial, conforme o TCU. Ele teve a candidatura indeferida e disputa a prefeitura pela segunda vez, já que em 2008 também tentou comandar o município.
Dono de patrimônio de R$ 1,338 milhão, que inclui uma fábrica avaliada em R$ 200 mil, o candidato a prefeito de Três Lagoas, Divino Freitas Tosta, o Divino Lajes (Avante) recebeu R$ 600. Ele ainda tem um terreno avaliado em R$ 510 mil e uma casa de R$ 300 mil, conforme a declaração feita à Justiça Eleitoral.
Candidato a vice-prefeito em Ribas do Rio Pardo, Márcio Alencar Azevedo, o Marcinho (PSDB), recebeu uma parcela de R$ 600, apesar do patrimônio de R$ 1,033 milhão. Ele recebeu o benefício apesar de ter R$ 29,5 mil na conta bancária, uma casa de R$ 350 mil e prédio comercial de R$ 450 mil. Ele é o companheiro de chapa de Zé Cabelo (PSDB), que tenta retornar ao comando da cidade.
Outro candidato a vice-prefeito milionário que recebeu ajuda de custo de R$ 600 foi Dilson Nunes (PDT), em Bandeirantes. Ele declarou ter patrimônio de R$ 2,043 milhões, que inclui uma chácara avaliada em R$ 1,8 milhão no município localizado a 100 quilômetros da Capital.
Em Campo Grande, a candidata a vereadora Silmara Felix (MDB) recebeu R$ 1,2 mil da ajuda de custo destinada aos necessitados durante a pandemia, apesar do patrimônio declarado de R$ 2,566 milhões. A emedebista declarou possuir empresa de R$ 2 milhões e uma casa de R$ 400 mil na Capital.
Em Cassilândia, Florisvaldo Barbosa Dias, o Florisvaldo da Farmácia (PSL), recebeu o auxílio, apesar de possuir R$ 1,537 milhão. Ao TRE, o empresário declarou ter três casas de R$ 150 mil a R$ 250 mil, uma caminhonete Amarok e salão comercial de R$ 900 mil.
Já Cleverson Antônio Queiroz Gonçalves, o Cleverson do Pelourinho (Republicanos), recebeu R$ 1,2 mil, embora tenha declarado patrimônio de R$ 2,6 milhões. Concorrendo a uma vaga na Câmara Municipal de Paranaíba, ele declarou ter casa de R$ 900 mil, 10 lotes avaliados em R$ 600 mil e um imóvel rural de R$ 600 mil.
Candidato a vereador em Ivinhema, Willian Miyai Mojolo, o Wilian Japa (Patri), ganhou R$ 1,2 mil, apesar de ter uma motocicleta de mil cilindradas BMW na garagem e um sítio de R$ 1,6 milhão. No total, ele declarou possuir R$ 1,677 milhão. Em Nova Andradina, Antônio Amorim (PSL) teve três parcelas (R$ 1,8 mil), apesar do patrimônio de R$ 1,293 milhão, que inclui chácara de R$ 900 mil e dois salões comerciais, de R$ 100 mil e R$ 250 mil.
Concorrendo ao cargo de vereador em Brasilândia, Jorge Diogo (PSD) declarou patrimônio de R$ 2,161 milhão. Mesmo com toda essa fortuna, que inclui R$ 34 mil no banco e prédio comercial de R$ 350 mil, ele pegou duas parcelas do auxílio emergencial, que totalizou R$ 1,2 mil, conforme o TCU.
Morando em Bonito, onde disputa o cargo de vereador, o empresário Renan Perin (PSB) pegou três parcelas do auxílio emergencial (R$ 1,8 mil), apesar do patrimônio declarado de R$ 1,630 milhão. Conforme a declaração à Justiça Eleitoral, ele reside em casa de R$ 130 mil e é dono de imóvel comercial de R$ 1,5 milhão.
Confira a lista completa dos 10,7 mil candidatos
Com uma frota de seis carros e uma moto, Élio Alves Cavalcante, o Élio do Mercado (PSDB), pegou duas parcelas do socorro emergencial (R$ 1,2 mil). No total, o candidato a vereador declarou possuir R$ 1,670 milhão, que ainda inclui duas casas e prédio comercial.
Disputando uma vaga de vereador em Ribas do Rio Pardo, Adão de Souza Pluma, o Adão da Mandioca (MDB), recebeu R$ 600, mesmo tendo declarado riqueza de R$ 1,621 milhão. O emedebista possui uma chácara de R$ 800 mil, três automóveis e duas motocicletas.
Apesar de ter recebido doação considerável dos pais, o candidato a vereador em Três Lagoas, Juscyo Barbosa Martins (Republicanos) necessitou de R$ 1,8 mil do socorro emergencial criado para quem não tinha nada durante a pandemia. No entanto, o político declarou possuir R$ 1,2 milhão, que inclui lote de R$ 450 mil e outro bem de R$ 616 mil.
A candidata a vereadora de Iguatemi, Raquel Martins (DEM), entrou na lista como a mais rica de Mato Grosso do Sul por causa de um erro na declaração entregue ao TRE, que aponta ser dona de patrimônio de R$ 1,2 bilhão. Ela recebeu uma parcela de R$ 600.
Ao G1MS, a candidata informou que houve erro na informação do sítio Floripa, avaliado em R$ 1,2 bilhão. “Não, não. Sabe o que aconteceu… quem dera fosse verdade. Eu não escrevi aquilo! Só que na hora de a pessoa digitalizar, ela não viu que o sistema tinha três zeros e colocou todos os zeros, e virou o que virou… Não foi erro nem meu. Foi erro do pessoal da campanha, que passou as informações para o TSE. Se eu fosse bilionária, com certeza eu não iria ser candidata a nada. Ou a presidente do país. Foi erro de digitação que colocou zero a mais, de alguém. Não sei de quem, mas eu não escrevi aquilo. A culpa não foi minha”, explicou-se.
Além dos milionários, em Mato Grosso do Sul teve mais 139 candidatos com patrimônio acima de R$ 300 mil que receberam a ajuda de custo. A restrição só foi incluída na legislação em setembro. A lista dos candidatos que receberam benefício foi tornada pública pelo TCU e divulgada pelo jornal de Brasília.
O caso mostra bem como a classe política brasileira não perde a oportunidade de levar vantagem. O auxílio emergencial foi criada para socorrer pobres, desempregados e trabalhadores autônomos durante a pandemia, quando houve lockdown e queda na atividade econômica.