Antonio Marques
Diferente de algumas igrejas que têm candidatos abençoados por pastores e na congregação não entra outro postulante senão for ungido pela entidade, a Igreja Católica tem sido exemplo de participação na política nestas eleições, sem preferência partidária. Em um encontro de candidatos a vereadores, ocorrido na noite dessa quarta-feira (4), sete concorrentes de seis partidos tiveram a oportunidade de apresentar suas propostas aos fiéis da comunidade São Francisco.
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Conforme a organização do evento, que teve a aprovação do Frei João Francisco, pároco local, o objetivo do encontro foi possibilitar um momento de apresentação dos candidatos que participam das paróquias próximas e que seguem os princípios cristãos, servir ao povo mais necessitado e dependente de políticas públicas.
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Seguindo as medidas de segurança para evitar aglomeração, a organização destinou apenas um terço de cadeiras no salão paroquial, com distância segura entre os presentes para coibir o contágio do coronavírus, álcool em gel na entrada e a obrigatoriedade de máscara de segurança. O encontro reuniu cerca de 70 pessoas, praticamente o público esperado diante das restrições impostas. Os candidatos só tiraram a máscara no momento de fazer as apresentações.
Dos sete candidatos convidados, cinco são estreantes na política partidária. “Queremos oportunizar a eles se apresentarem e mostrarem suas propostas aos nossos irmãos da paróquia”, relatou Márcio Cândido Barrueco, um dos responsáveis pelo evento.
Candidatos católicos
Os participantes tiveram cinco minutos para se apresentar e tentar convencer os fiéis a decidirem o voto no representante mais próximo da comunidade, que faz a ponte entre as necessidades na comunidade e o poder público municipal. Ao final das falas, os presentes puderam conversar com os candidatos e tirar dúvida sobre pontos abertos para definição do voto. A ordem de apresentação seguiu a ordem alfabética pelo nome de candidato registrado no TRE-MS para realizarem as intervenções.
O primeiro a falar foi o ex-chefe do Estado Maior da Polícia Militar, Coronel Rogério (PSB), que disputa sua primeira eleição. Em cinco minutos, ele fez um breve histórico de sua trajetória de vida e dos 30 anos de experiência na PM de Mato Grosso do Sul, na qual ingressou como sargento em 1988 e chegou ao comando do Estado Maior. Professor e escritor, ele citou diversos projetos criados em benefício da sociedade neste período na área da segurança pública e de educação no trânsito, como o projeto PARA, criado em 2004 para reduzir acidentes de trânsito na Capital. “Tenho experiência em gestão e meu propósito é servir à comunidade, com objetivo primordial de construir uma sociedade mais igual e humanizada”, destacou.
Na sequência, falou a arquiteta Giovana Sbaraini (DEM), também em sua primeira disputa eleitoral. Com 20 anos de atuação profissional em Campo Grande, sendo vice-presidente na gestão fundadora do Conselho de Arquiteta e Urbanismo de Mato Grosso do Sul (CAU-MS), ela destacou a necessidade de o poder público cuidar mais das pessoas.
“A vida humana como prioridade é um dos pontos que defendo como proposta. Neste sentido destaco a necessidade de maior atenção à saúde pública municipal”, observou Giovana, que lembrou que para cada R$ 1 investido na infraestrutura são economizados R$ 4 na saúde pública.
Em seguida foi a vez de mais uma estreante na disputa política, a psicóloga Jacque Queiróz (DEM), que trabalha no Cotolengo há cerca de dois anos e decidiu entrar na disputa para buscar servir melhor às famílias que têm filhos com necessidades especiais e que necessitam de apoio de políticas do poder executivo para poder viver melhor.
“Essa oportunidade de ser candidata é a forma de poder fazer o bem a quem mais precisa”, comentou ela, acrescentando que a política é algo essencial na vida das pessoas. “Precisamos apenas entender que tudo na vida gira em torno da política”, concluiu.
A empresária Juliana Aranda (PSL) destacou sua experiência enquanto empreendedora e sua ativa participação nas entidades voltadas ao empreendedorismo em Campo Grande para alertar aos presentes de que ao votarem, o eleitor contrata um político por quatro anos.
“Por isso, temos que ter experiência, competência e vontade de servir”, observou ela. Dentre as propostas apresentadas deu ênfase no combate à corrupção, com maior fiscalização no uso do dinheiro público.
O ex-seminarista Mil Kruk (PP) antes de iniciar sua apresentação surpreendeu a plateia ao pedir salva de palmas para a candidata Professora Benê, que estava ao seu lado. Ele disse que não poderia de deixar de render homenagens a sua professora no primário e sentia-se honrado estar naquele momento no mesmo espaço que ela falando de propostas para melhorar a vida das pessoas mais humildes, especialmente os moradores das periferias.
Mil é morador da comunidade Bosque da Saúde, localizada na região do antigo lixão próximo a Avenida Tamandaré. “Minha luta é pelo povo da periferia que só é lembrado pelos vereadores somente de quatro em quatro anos, quando aparecem lá vendendo sonhos”, observou Mil, que é formado em Filosofia pela PUC/PR e em Teologia pela UCDB.
Na sequência, foi a vez da candidata Professora Benê (PT), conhecida militante do movimento negro e referência na defesa da educação pública de qualidade e dos direitos das minorias. Em sua segunda disputa a uma vaga de vereadora, ela disse que a campanha deste ano está muito mais desafiadora em razão da pandemia e isso a motivou a colocar suas propostas nas redes sociais.
“Meu mandato será humano, justo e fraterno, com foco na fiscalização do destino do dinheiro público”, destacou. Outra bandeira apresentada foi o combate à violência doméstica contra as mulheres, que em 2020 já vitimou 29 mulheres em Mato Grosso do Sul.
Encerrando as apresentações foi a vez do psicólogo e professor Ronilço Guerreiro (Pode) dar o recado. Em sua terceira eleição, ele conseguiu 2.469 votos em 2016 e neste ano está esperançoso em superar a marca. Iniciou a fala lembrando da infância na paróquia São Francisco e da época que conseguiu seu primeiro trabalho como boy na Santa Casa e depois como mensageiro no antigo Hotel Campo Grande.
Guerreiro, que há 17 anos é professor no Senai, denomina-se um sonhador, “pois é através dos sonhos que conseguimos as realizações”. Ele se refere ao projeto que desenvolve na Capital de incentivo à leitura. Criou a Gibiteca, depois a Gibicicleta, a Vanteca, segundo ele, tudo por meio do sonho de incentivar a leitura entre as crianças e jovens.
“Quero ser vereador para continuar ampliando os projetos na Capital e fazer da Cultura e da Educação um meio de transformação social”, destacou Guerreiro, lembrando aos presentes que “somos o único responsável pelos nossos sonhos”.
O evento realizado pela Igreja São Francisco demonstrou que têm bons candidatos em busca de melhorar a forma de fazer política, com o princípio de servir às pessoas e não serem servidos. Os sete candidatos apresentaram propostas comprometidas com o bem-estar social dos campo-grandenses. No entanto, cabe ao eleitor pesquisar melhor sobre aquele candidato que mais se identifica e fazer o voto consciente, uma vez que essa escolha gera consequências, que podem ser boas ou não.