Tomar decisões sobre a compra de serviços, como planos de saúde exige cautela. Também é preciso conhecer de maneira aprofundada rendimentos e despesas antes de pensar na incorporação de qualquer outro gasto no orçamento. Saber de cada detalhe é importante, porque salários nem sempre acompanham a alta dos preços dos produtos.
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Planos de saúde: Necessidade para uns, luxo para outros
O brasileiro tem comportamento de lançar mão de planos de saúde como forma de suprir lacunas encontradas no SUS (Sistema Único de Saúde). As principais buscas estão relacionadas à celeridade do atendimento e ao atendimento personalizado. Definir a contratação de um plano de saúde, contudo, exige tempo de pesquisa para o serviço e, principalmente, cautela.
O primeiro passo para quem necessita de um plano de saúde é tentar reconhecer como está a atuação do SUS na região em que vive. Vá até o posto de saúde, pergunte sobre o tempo de espera para uma consulta e passe por ela. Tente saber o tempo em que vai aguardar por para exames simples e de alta complexidade. Verifique, ainda, o período de espera para o retorno das consultas e para a entrega dos exames.
Há unidades de saúde que oferecem o serviço de acompanhamento de equipes de saúde da família. Busque por essa informação. Essas equipes podem prevenir situações leves ou graves de saúde.
Quando a avaliação sobre o SUS não é satisfatória e a pessoa pender para contratar um plano de saúde privado, é preciso iniciar a pesquisa. Entre os indicadores que favorecem a composição de preços de um serviço de saúde particular estão: idade do contratante, tipo do contrato (em grupo, familiar, empresarial ou individual). Também entram na composição do valor final o atendimento hospitalar, se em quarto individual ou enfermaria (quando o paciente divide o quarto com outras pessoas), o uso da obstetrícia e a abrangência.
Os planos de saúde podem ter abrangência internacional, regional, estadual, intermunicipal e, até, por redes (restrito a hospitais). Toda essa informação deve ser verificada antes da contratação. Perguntar demais é sempre o melhor a fazer. Claro, essas questões devem ser levantadas em múltiplos planos antes da contratação.
Após decidir quais são as empresas que podem suprir a necessidade, o candidato a usuário de plano de saúde pode ligar diretamente para uma das clínicas prestadoras de serviço e verificar o tempo de espera para uma consulta, um exame simples e um exame complexo. Outro ponto está relacionado às doenças preexistentes. Conforme o tempo de espera por exame, o aconselhável é verificar se o SUS o oferece possibilidade.
É aconselhável, ainda, comparar a curva de reajuste dos planos de saúde selecionados com o próprio salário. Por exemplo, em 2018, os reajustes do planos de saúde chegaram a 10% e do salário mínimo a 1,81%. Em 2019, o salário mínimo teve reajuste de 4,61, enquanto os planos de saúde ficaram 7,35% mais caros. Será que vale a pena contratar um serviço cuja mensalidade vai crescer muito mais que o salário ao longo dos anos?
Fazer a pesquisa sobre os planos de saúde não é difícil. Basta entrar na página da ANS (Agência de Saúde Suplementar) e preencher os campos corretos, como estado, cidade e idade. A ANS também tem um canal com os consumidores para a resolução de conflitos e dúvidas.
Até quanto pode custar um plano:
Fizemos uma simulação simples com auxílio da ferramenta de pesquisas de planos de saúde da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) para compreender como o serviço pode impactar no orçamento de uma família de três pessoas, considerando três faixas etárias. A contratação considera um plano de cobertura nacional, com serviço ambulatorial ou quarto individual e obstetrícia. Para uma pessoa de 39 a 43 anos, o valor mensal ficaria em R$ 2.273,89. As mesmas condições do plano para alguém de até 18 anos representaria o gasto mensal de R$ 1.689,39. O valor, contudo, pode subir para até R$ 10.135,12 se a pessoa tiver mais de 59 anos. Essas faixas não são somadas, mas negociadas de forma individual e consideram a composição da família e possíveis descontos oferecidos pelos planos. Elas, entretanto, oferecem a real percepção do impacto de um serviço desses no orçamento familiar.
Acesse o site da ANS e faça a sua simulação:
Salário mínimo: um cobertor curto?
O atual salário mínimo, no valor de R$ 1.045, está 78,6% abaixo do valor necessário, de R$ 4.892,75. Essa é a constatação de pesquisa realizada pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) que avalia todos os meses a evolução de preços de 13 alimentos comercializados em 27 capitais brasileiras.
O salário mínimo foi definido na Constituição de 1988 como o rendimento necessário fixado em lei e unificado nacionalmente suficiente para a atender as necessidades básicas de um trabalhador e da família, com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, higiene, transporte e previdência social.
A Constituição define, ainda, que o salário mínimo deve passar por reajustes necessários para preservar o poder aquisitivo do trabalhador e a manutenção da família. Para fazer o cálculo do salário mínimo necessário, o Dieese considera que o gasto com a alimentação não pode ser inferior à cesta básica de alimentos necessária para a manutenção de uma família composta por dois adultos e duas crianças.
Pela pesquisa, o atual valor deveria ser R$ 4.892,75 para a compra de carne, leite, feijão, arroz, farinha, batata, tomate, pão francês, café em pó, uma fruta, banha/óleo e manteiga.
Para fazer a pesquisa são levantados preços em mini-mercados, mercadinhos, empórios, casas de carnes, açougues, frutarias, quitandas, bodegas, tabernas, e feiras. O Dieese avalia, ainda, os preços dos produtos em padarias, supermercados, confeitarias e hipermercados.
O levantamento de preços utiliza como modelo a POF (Pesquisa do Orçamento Familiar) aplicada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Entre as orientações para a composição do preço final dos produtos, estão a observação de marcas próprias e líderes de venda, do peso e volume.
Dólar em alta: você sabe o que é câmbio?
O câmbio é a relação da moeda nacional com a moeda estrangeira, como explica o Dieese (Departamento de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos). Em resumo, câmbio é trocar uma moeda por outra. Hoje, para comprar US$ 1 são necessários R$ 5,7.
Todos os indicadores de um país são influenciados por essa relação de troca das moedas. Os indicadores podem ser internos, mistos e externos. Os indicadores internos são o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) e a taxa de inflação moderada. No caso do PIB deve manter o índice de desemprego baixo, enquanto a taxas de inflação precisa ficar abaixo de dois dígitos.
Os indicadores mistos são um pouco mais difíceis de compreender. Eles são internos e externos e compreendem a relação dívida líquida do setor público com o PIB. Essa dívida não pode estar acima de 30%. A dificuldade na compreensão está em fatores como a história do país e o comportamento social ao longo dessa história. Um país que foi historicamente colonizador tem mais chances de ter melhores desempenhos do que um que foi colônia. Essa percepção é visível hoje na África e América Latina.
Esses fatores, influenciados pelo câmbio, podem representar significativa mudança na qualidade de vida das pessoas. Por exemplo, quando há a chamada valorização cambial, o dólar fica mais barato e fica mais fácil comprar produtos estrangeiros. Em compensação, os produtos brasileiros ficam mais caros para quem for comprar e estiver em outros países. Isso pode representar muita diferença na hora de comprar um produto brasileiro.
Quando o real passa a valer menos que dólar, há crescimento das exportações e redução das importações. E é por isso que alguns produtos podem faltar no mercado interno. Por exemplo, o dólar está bem mais caro que o real e, por isso, os produtores de arroz e outros cereais preferem vender a quem paga mais. Esse movimento deixa o produto mais caro para os consumidores de dentro do país.
O desequilíbrio cambial resulta, além da alta de preços dos produtos alimentares, em aluguéis mais caros e na dificuldade de manutenção de alguns serviços, como a eletricidade e os combustíveis, que têm preços tabelados pela moeda norte-americana. Esse movimento cambial influencia, por exemplo, nas taxas de passagens no transporte coletivo e, até, do leite, porque a ração dos produtos usados para alimentar as vacas também é cotada em dólar.
Economia doméstica (parteI)
Passo a passo para identificar seus rendimentos e despesas:
Gerir o orçamento pessoal não é tarefa fácil, em especial quando não sabemos muito bem o que esse instrumento representa. É por isso que a educação financeira precisa ser aplicada o mais rápido possível na vida de qualquer pessoa. O primeiro passo é identificar os rendimentos e despesas. Para facilitar essa tarefa, vamos oferecer algumas dicas que podem servir para iniciar o processo.
- Identificar todos os rendimentos e despesas. Rendimento é todo o dinheiro recebido. Entre os exemplos de rendimentos estão: salários, recompensas, honorários, pagamentos por objetos e prêmios.
2. Podemos acreditar ser mais fácil saber o que são despesas, mas nem sempre. Tudo o que é pago, como os serviços (água, energia, internet, roupas, aluguel) são despesas e, o que deixa de entrar no orçamento também é.
3. Os rendimentos dependem da situação da pessoa. Se é arrimo de família (aquele que sustenta a casa), se é um agregado (filhos ou outras pessoas vivendo na mesma casa). Quem trabalha como empregado e tem um contrato, tem uma forma de recebimento de rendimentos fixa. Agora, quem trabalha por conta própria, como é o caso de profissionais liberais, pode ter rendimentos flutuantes.
4. Ao somar os rendimentos, trabalhadores contratados ou profissionais independentes precisam somar qualquer ganho, desde hora extra e bônus, a comissões.
5. Para os trabalhadores em situação de desemprego, o rendimento é o subsídio com duração limitada.
6. Há famílias que conseguem oferecer mesada para os filhos. Esse mecanismo também é um rendimento e isto precisa ser sempre esclarecido para quem o recebe.
7. Aposentados e pensionistas recebem os rendimentos de pensões do poder público ou de empresas de previdência privada.
8. Rendimentos podem, ainda, advir de aplicações bancárias, fundos ou aluguéis.
9. Por fim, rendimentos podem ser fixos ou variáveis. É muito importante conhecer a vigência de um contrato, aluguel, o período total das parcelas de seguro desemprego e a flutuação de juros em aplicações financeiras.
10. Como já dito, nem sempre é fácil conhecer as despesas. O primeiro passo é apontar que elas podem ser necessárias e supérfluas. As despesas necessárias são aquelas empregadas para a habitação, a alimentação, o vestuário, a saúde, a educação e os impostos. Já as despesas supérfluas são todas aquelas feitas para comprar serviços ou objetos desnecessários e adquiridos unicamente para satisfação pessoal.
11. Também é importante lembrar que há despesas fixas e variáveis. Isso é muito relevante, porque o preço de uma prestação de casa, por exemplo, será o mesmo por muitos anos. Já o valor da conta de energia pode flutuar conforme o consumo.
12. É importante conhecer cada despesa diante dos rendimentos. Uma despesa fixa muito alta pode afetar todo o equilíbrio do orçamento e a margem de decisão para o cumprimento de metas, sejam elas quais forem.