A ausência de três candidatos, críticas à administração de Marquinhos Trad (PSD), apelo ao eleitor pela realização de segundo turno e o confronto entre o deputado estadual Pedro Kemp (PT) e o vereador Vinícius Siqueira marcaram o primeiro debate dos concorrentes à Prefeitura de Campo Grande. Com quase quatro horas e meia de duração, o debate realizado pela Fetems (Federação dos Trabalhadores em Educação) foi transmitido pelas redes sociais.
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Mediado pelo professor Jaime Teixeira, presidente da entidade, o evento não teve a participação de Marquinhos, do deputado estadual Márcio Fernandes (MDB) e do Promotor Harfouche (Avante). No entanto, os participantes se limitaram apenas a criticar a ausência do prefeito, chamado de “fujão” pelos adversários.
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“Covarde”, definiu o deputado estadual João Henrique (PL). No entanto, ele estendeu a crítica, sem citar nomes aos demais ausentes. “Quem não foi ao debate, não merece ser escolhido”, pediu o liberal.
Sem o líder na pesquisa, o debate acabou marcado pelo confronto entre Kemp e Vinicius. O vereador acusou os partidos, inclusive o PT, de aprovar o aumento na taxa do lixo e de ser contra a CPI do Ônibus, os motoristas de aplicativos e o pagamento de insalubridade aos profissionais de saúde durante a pandemia da covid-19.
“O PT é a favor dos trabalhadores”, reagiu Kemp, destacando que o vereador Ayrton Araújo, único petista no legislativo, foi chamado para se explicar ao Conselho de Ética da sigla. Em seguida, o deputado atacou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que foi defendido por Siqueira. “Não é verdade que o Bolsonaro não mostrou nada em um ano e meio. Ele destruiu tudo o que o PT fez em 14 anos”, afirmou, acusando o presidente de ser contra os trabalhadores, os pobres, os negros e o sistema público de saúde.
Vinicius reagiu dizendo que Kemp não respondeu sobre a participação do PT nas medidas impopulares. Em seguida, ignorando a plateia partiu para o ataque. “Vamos acabar com a mamata dos sindicalistas que se aproveitam dos professores”, afirmou, levando sonora vaia da plateia. Kemp saiu em defesa dos sindicatos, destacando que, graças aos líderes trabalhistas, “não estamos no fundo do poço”.
Outro ponto polêmico foi a Escola Sem Partido e a Lei da Mordaça nos professores, defendida por Harfouche, que acabou não sendo aprovada pela Câmara Municipal. Siqueira se mostrou a favor da medida, com reparos, porque a disciplina é importante. “Esta lei é um absurdo”, condenou Dagoberto Nogueira (PDT), que puxou o assunto
Em novo embate, desta vez indireto, Kemp usou Thiago Assad (PCO) para atacar Siqueira. “O projeto é inconstitucional, porque a nossa Constituição garante a diversidade e o pluralismo”, afirmou. O petista destacou que o debate na escola é fundamental para evitar o suicídio e a mutilação de jovens.
Vinicius levou uma sonora vaia da plateia ao defender o presidente da República, que foi eleito pelo seu partido. Ele disse que Bolsonaro só tem um ano e meio e não pode ser responsabilizado pelo que a esquerda fez de errado em 13 anos de governo, referindo-se aos períodos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT.
Os 12 candidatos aproveitaram as perguntas, mesmo com a maior parte direcionada à educação, para fazer críticas à gestão atual. “O Marquinhos fez o céu e o mar, mas não cumpriu com os professores, porque deveria pagar 83% do piso nacional (para jornada de 20h), mas só paga 73%”, alfinetou Marcelo Bluma (PV), repetindo a ironia adotada nos debates quando foi candidato a governador em 2018.
“O prefeito não fez a tarefa de casa”, comentou Cris Duarte (PSOL). João Henrique criticou a substituição dos profissionais na educação especial. “É um crime com os alunos”, definiu, contando que um estudante autista emagreceu 20 quilos em decorrência da mudança no sistema.
“Campo Grande não pode virar curral eleitoral”, disse Paulo Matos (PSC), fazendo referência o a vídeo em que a secretária-adjunta de Educação, Soraia Inácio de Campos, em que promete convocar os professores aprovados no concurso público. “É o uso exagero da máquina a favor da reeleição”, disse Marcelo Miglioli (SD), que chegou a ser acusado de promover algo semelhante, quando foi candidato a senador em 2018 e teria usado estudantes para gravar o programa eleitoral, na época, no PSDB.
Em desabafo ácido, Bluma criticou os meios de comunicação que desistiram de realizar debate nas eleições deste ano, inclusive os tradicionais, como TV Morena, SBT e Midiamax. “Até quando vamos ver o Brasil ser usado de forma safada desse jeito, a imprensa não fazer debate, não discutir a cidade, os problemas”, lamentou o candidato do PV.
Esacheu fez dobradinha com Guto Scarpanti (Novo) para criticar as obras de recapeamento executadas por Marquinhos. Na avaliação do ex-presidente da Santa Casa, o prefeito “virou especialista em maquiagem. “A cidade está um tapete”, reconheceu, mas criticando por ver fins eleitorais na iniciativa.
Todos os 12 candidatos se comprometeram a garantir a regulamentação do Fundeb (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica), a cumprir a lei municipal que prevê o pagamento do piso nacional para jornada de 20h e a garantir mais qualidade na educação. Kemp foi específico em garantir a contratação dos 700 aprovados no concurso e não seguir o exemplo de Reinaldo Azambuja (PSDB), que reduziu em 32% os salários dos professores temporários.
Delegada Sidnéia (Pode) causou a fúria de Vinicius ao afirmar que os vereadores de Campo Grande não fizeram nada pela cidade. O candidato do PSL enumerou as ações na Justiça e investigações feitas contra o monopólio do táxi, o parquímetro, o transporte coletivo e a falta de tratamento do esgoto na cidade.
A Rede Brasil promete realizar o próximo debate dos prefeitos da Capital na sexta-feira (6), a partir da 19h. Os 15 candidatos a prefeito foram convidados.
Debate durou 4h27min