Candidata a vereadora pelo PSL em Campo Grande, a dona de casa e ex-assessora parlamentar Juliana Gaioso, 47 anos, meteu-se em polêmica nacional ao posar, no dia 12 de outubro, com uma pistola em uma das mãos e a imagem de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, na outra. A imagem causou polêmica nas redes sociais, repercutiu em todo o País e causou a fúria da esquerda e da Igreja Católica.
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Treteira por natureza, como se define no Facebook, Juliana faz parte da geração que tem feito sucesso na política nacional, como o deputado federal Loester Trutis (PSL), que construiu a carreira política posando com armas de diversos calibres. Ela segue a mesma linha do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que retomou movimento dos anos 60 em defesa de Deus e família, acrescentando a defesa das armas de fogo.
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Mesmo diante do barulho, Juliana defende a polêmica fotografia. “Sou devota de nossa senhora Aparecida e sei que tenho o direito de me defender e defender meus filhos”, afirmou a candidata, mãe de quatro filhos e casada com um policial. Ele minimiza as críticas. “99% dos ataques são da esquerda”, garantiu, mantendo a linha de ativista de direita.
Até o Papa Francisco, líder máximo dos católicos, não é poupado pela candidata, que o chama de comunista. Em uma postagem, ela garante seguir o Papa João Paulo II, que visitou Campo Grande e se tornou um dos santos da igreja por defender o armamento da população, segundo a pesselista. Ela até cita suposta frase que teria sido dita por João Paulo II: “Em um mundo marco pelo mal e pelo pecado, existe o direito à legítima defesa com arma e por motivo justo”.
A postagem de Gaioso foi duramente criticada pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). “A Comissão Regional de Justiça de Paz da CNBB Regional Oeste I (CRJP) vem a públcio denunciar este gesto de apologia ao crime, abuso, uso indevido e vilipendioso de objeto de culto religioso e flagrante desrespeito a dor do povo que clama por vida aos pés de Nossa Senhora Aparecida, e solicita aos órgãos competentes que se promove a Justiça”, diz, trecho da nota publicada pelo jornal TopMídiaNews.
A reação da candidata foi imediata. “Recebi uma nota de repúdio de um órgão da base da CNBB e queria saber porque uma foto com uma imagem de uma santa e uma arma incomoda tanto e não vejo eles repudiando sobre a pedofilia nas igrejas, sobre cristão sendo martirizados na África e sobre a miséria na Venezuela, dos assassinatos aos cristãos mundo afora”, reagiu, atacando. “Eu repúdio qualquer acusação de apologia a violência, ao terrorismo, ao crime, ao uso indevido e vilipendioso de objetos de culto ou desrespeito à dor do povo”, garantiu.
Por outro lado, Juliana garantiu que recebeu o apoio de “várias pessoas da direita”, inclusive, aquelas que considera “ícones”. No entanto, ao ser solicitado os nomes, ela não informou nenhum.
Nas redes sociais, a candidata tem recebido duras críticas, virado alvo de chacotas e até recebido apoio. Até o ator José de Abreu, famoso por participar de novelas da TV Globo e defender o PT, manifestou-se contra a postagem. “Gente, ela vai atirar na santa”, questionou o artista.
“O petista Zé de Abreu que também é conhecido por cuspir em mulheres não gostou da minha publicação. Ainda bem. Isso faz o meu dia muito feliz”, reagiu Juliana. Outro crítico foi o candidato a vereador pelo PCdoB, o advogado Mário Fonseca. Ele classificou a imagem como “aberração”. “O Mario Fonseca do Partido COMUNISTA do Brasil não gostou da minha devoção a Nossa Senhora Aparecida e do meu direito de legitima defesa. Se comunista não gosta, significa que eu estou no caminho certo. Obs. O comunista mimizento só apoia gente boa”, cutucou.
“Deus abençoe querida Juliana! Foco na missão, não deixa esses miserável (sic) te atingir”, postou Leila Adriana Vieira. “Parabéns! Tomara que seja eleita e chute todo esquerdopata da Câmara Municipal”, comentou Cláudio Ascenso.
Outros aproveitaram para criticar o uso da padroeira do Brasil. “Pediu a benção de Nossa Senhora e a gente já sabe que não tem projeto”, comentou Talyta Najla Nunes. “Você encabeça um escritório do ódio? Nossa, esses cristãos de hoje em dia”, postou Miguel Sanches.
“Até parece que ela está dizendo: Nossa Senhora, dai-me a benção senão eu te cravo de balas”, comentou Raí Santos. “Me dê a benção ou eu atiro na santa”, disse, na mesma linha, Renata Iragarashi.
“Antes era uma bíblia na mão, hoje uma arma, a evolução cristã”, analisou Jheiffyson Santiago. “O fanatismo político está indo longe demais, viu”, observou Thalissa Ambiel. “Não respeita nem a santa”, avaliou Valter Hugo Tonhá.
“Existe uma parte da história, fácil de ser encontrada para estudar inclusive, que mostra como a igreja foi usada para manipular, matar e cometer várias atrocidades, tudo em nome de Deus”, pontuou Jah Souza.
Em meio ao tiroteio, Juliana conta que entrou na política para participar da fundação do movimento Pátria Livre em Campo Grande, um dos principais organizadores dos protestos contra a corrupção e a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).
Com nível médio de escolaridade e com a função de dona de casa, conforme registro feito no Tribunal Regional Eleitoral, ela era assessora da senadora Soraya Thronicke (PSL). A decisão de ser candidata, conforme Juliana, ocorreu após trabalhar dentro do Governo de Bolsonaro e constatar que não se faz nada sem o apoio dos governadores, prefeitos e vereadores. “É preciso mudar, fazer um limpa, mudar tudo”, defendeu a candidata, que se apresenta como opção da nova política.
Em tempo, a Igreja Católica sempre criticou o uso de santos e símbolos, inclusive pela esquerda, exposições de arte e pelo Carnaval carioca.
No atual momento da política brasileira, alguns candidatos se comportam mais como se tivesse disputando o comando de uma igreja, mosteiro ou entidade religiosa. Citam tanto o nome de Deus, que não parece estar disputando cargo de vereador e prefeito no Brasil, considerado um país laico há décadas.