As quatro décadas de Mato Grosso do Sul são marcadas pela incerteza em relação aos investimentos culturais, uma realidade que impõe a distância entre as tradições com as futuras gerações locais e com o restante do País. Nunca é exagerado repetir o quanto esse problema afeta o Estado, que não é um caso isolado e que, se nada for feito, vai piorar.
[adrotate group=”3″]
Nem mesmo a Capital do Estado tem um teatro municipal em funcionamento, o Teatro José Octávio Guizzo do Paço Municipal está fechado há 30 anos. Não há uma produção artística autossuficiente na maioria das cidades ou um calendário cultural sistemático que leve em conta os diferenciais de cada região.
Veja mais:
Dona de passado em que fez brotar fortuna e cidades, erva-mate tenta reviver em MS
Aos 42 anos, economia de MS perde “fôlego” com crise e piora na infraestrutura
Em 41 anos, cinco governadores fizeram MS passar vergonha nacional
Para Carolina Leitão Chilinque, graduada em Produção e Gestão Cultural pela UFF (Universidade Federal Fluminense), os 43 anos de Mato Grosso do Sul ainda esbarram no que pode ser considerado valor cultural. “Eu sei que existe um orgulho imenso sobre o que há de rico para os cidadãos sul-mato-grossenses, mas no universo nacional, a cultura para exportação ainda está ligada ao eixo Rio-São Paulo”.
Na prática, explica a estudiosa, haverá a tentativa de reprodução do que “vende” nos moldes das capitais dos estados do sudeste brasileiro. Para Carolina, entre a tradição de valor e necessidade de sustento, ganha a segunda opção. “O próprio governo federal não enxerga valor em produtos, não incentiva, não promove a gestão levando em conta o diferencial de cada região brasileira. Então, ganha o esteriótipo dentro do próprio País. O que uma pessoa que está no Rio sabe sobre a tradição cultural do Centro-Oeste brasileiro é muito pouco, eu arrisco a dizer que é quase nada”, pontua.
Entre os exemplos, afirma, está a própria novela Pantanal, um sucesso de audiência e para o qual está programado um remake. “Assisti a essa novela ao menos três vezes e não é uma obra curta, dura muitos meses. Ainda assim, o que aquela produção reflete, de fato, à cultura local? As mulheres, por exemplo, estão sempre seminuas e mal sabem falar português. Isso é uma escolha que reflete a mídia nos moldes de Rio e São Paulo. Mulheres seminuas tentando seduzir um homem inalcançável. É uma falha imensa porque as mulheres naquela região não andam seminuas e sabem falar português, mas para quem está no interior do Brasil, não há escolha diante da reprodução dos estereótipos”.
Mudar esse panorama não é uma escolha pessoal, ressalta Carolina. “As tradições e a realidade regional se perdem não porque os jovens não as querem mais, mas porque já não conseguem manter o estilo de vida em que acreditavam. Diante das imposições econômicas, optam por estudar inglês, ir para os grandes centros e as cidades são abandonadas”, lamenta. “Poucas cidades no Brasil conseguiram dar a volta a isto e viraram a própria história, fazendo da cultura um produto sustentável”.
Mais uma vez, para que essa seja a realidade de outras regiões, é preciso esforço concentrado da União, com a avaliação sobre a infraestrutura necessária de cada região. “Quando a solução para a manutenção da cultura é o turismo, por exemplo, é preciso ir além do estudo sobre a oferta de leitos”, acentua. É necessário, revela Carolina, avaliar a capacidade de circulação, oferta de água, o tratamento de lixo e a segurança. “Por isso apenas a propaganda não resolve”.
Então, como resolver? Também faz parte da solução, explica Carolina, conjugar o esforço nacional à educação. “É preciso começar na escola. Produzir mentes que deem importância à cultura local. Não vai haver sucesso em qualquer política de gestão que desconsidere a educação, com a produção de pessoas que compreendam a importância do diferencial cultural”.