“Campanário, vista do alto, dá agradável impressão. O seu traçado moderno não parece o de uma cidade no meio da selva. Os seus telhados vermelhos, as suas árvores alinhadas, as suas ruas muito retas e muito rubras, tudo feito com gosto artístico e com visão de futuro, dão ao viajante impressão de que chega a uma dessas cidades que o dinamismo paulista tem feito nascer da noite para o dia”.
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Intitulada “Campanário- Uma Cidade na Selva”, matéria da revista O Cruzeiro em 1941 traz texto e fotos sobre a cidade erguida pela Matte Larangeira em Ponta Porã, expoente de uma riqueza que brotava do chão: a erva-mate.
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Com o cultivo literalmente perdendo terreno ao longo das décadas, a erva-mate “made in MS” hoje reponde por uma variação de apenas 1% a 5% do que se consome no mercado interno. Ou seja, quase 100% do produto que abastece o tereré, bebida paixão do sul-mato-grossense, vem de outros Estados. Projetos tentam reabilitar a produção, mas sai de cena uma gigante como a Campanário para se incentivar o cultivo entre pequenos produtores.
No passado, a erva-mate teve um nome emblemático nos territórios do então Mato Grosso: Thomaz Larangeira, que trabalhou na comissão demarcadora de limites entre Mato Grosso e o Paraguai. Com autorização para explorar os ervais, ele marca presença em livro sobre a história de MS por uma indústria que se tornou fonte estupenda de riqueza até a década de 40.
“Aos poucos, Tomaz Laranjeira construíra um verdadeiro império de trabalho onde o paraguaio derrotado e necessitado de sobreviver, encontrava graças ao seu sistema frugal de vida, meios de subsistência. Em épocas certas do ano os ervais silenciosos enchiam-se de vida com a presença dos ervateiros a colher a erva, num verdadeiro trabalho hercúleo”, cita J. Barbosa Rodrigues no livro “História de Mato Grosso do Sul”.
Sobre o poder da companhia, o autor compara que era um estado dentro do Estado. Já a Campanário é citada como cidade, mas medieval, fechada para “quem quer que seja, fosse um delegado de polícia ou juiz de direito”.
No saldo positivo, Barbosa Rodrigues cita a criação de Porto Murtinho (antiga fazenda Três Barras) por onde era exportado o produto da extração ervateira, além da formação das povoações de Ponta Porã, Bela Vista, Antônio João e Dourados.
Tempo de colheita – De volta a 2020, investimento de R$ 2,7 milhões tenta fortalecer a produção da erva-mate em dez municípios de Mato Grosso do Sul: Ponta Porã, Laguna Carapã, Amambai, Coronel Sapucaia, Aral Moreira, Antônio João, Paranhos, Iguatemi, Japorã e Tacuru.
O projeto da Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural) inclui 210 produtores rurais e o resultado deve vir a partir do terceiro ano, tempo da colheita nos 210 hectares.
Atualmente, a produção estimada de erva-mate no Estado é de 1,5 mil tonelada por ano. Os outros 95% consumidos em MS vêm de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul.
De acordo com o economista Eugênio Pavão, a erva-mate foi tão forte no cenário regional que financiava o governo do então Mato Grosso, antes da criação do Estado. Um terço do atual território de MS era da Matte Larangeira.
Num retrato de hoje, ele analisa que o avanço dos ervais só seria vantajoso se tivesse demanda externa, dolarizada e grande exportação. “Se chinês tomar tereré, estaríamos feitos. A demanda interna não justifica investimentos e subsídios para a atividade”. A China é o principal destino das exportações do Estado.