Após a deflagração da Operação Snow Ball, a Omertà pode chegar ao fim na 5ª fase. Ganhou força, nesta quarta-feira (7), o boato de que o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) cogita tirar Marcelo Vargas do cargo de delegado geral da Polícia Civil e sepultar a Força-Tarefa criada para investigar as execuções brutais ocorridas em Campo Grande. O delegado Fábio Peró, que surpreendeu ao comandar a prisão do poderosíssimo empresário Jamil Name, 81 anos, seria exonerado do comando do Garras. O Governo do Estado negou a mudança.
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A mudança nos cargos estratégicos da Polícia Civil ocorre após duas operações enigmáticas. A primeira foi a Black Cat, que lacrou cerca de 400 barracas do jogo do bicho, considerada mina do suposto grupo de extermínio chefiado por Name. A segunda foi a Snow Ball, que mirou o vereador Ademir Santana, do PSDB, mesmo partido no comando do Estado.
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A demissão de Vargas foi divulgada na coluna de Fernando Soares de hoje. Questionado pelo O Jacaré, o delegado geral limitou-se a dizer que não foi comunicado oficialmente da exoneração.
“(Fiquei sabendo) somente pela coluna do Fernando Soares que é ligado ao Jogo do Bicho, portanto pode ser uma pressão deles no Governo, mas não fui informado extra nem oficialmente”, afirmou o delegado. “Se quiserem me retirar do cargo terão que me exonerar”, garantiu Vargas.
Nos bastidores, os mais cotados para assumir a chefia da Polícia Civil são os delegados Roseli Molina, Marcos Takwshita, Ivan Barreira e Adriano Garcial, atual adjunto. O secretário estadual de Segurança Pública, Antônio Carlos Videira, estaria fazendo a triagem para encaminhar três nomes que serão submetidos ao governador Reinaldo Azambuja.
Também faz parte das articulações acabar com a Força-Tarefa criada pela Polícia Civil para investigar as execuções ocorridas desde 2018 na Capital. O grupo de delegados já concluiu a investigação do chefe da segurança da Assembleia Legislativa, Ilson Martins Figueiredo, do empresário Marcel Hernandes Colombo, o Playboy da Mansão, do universitário Matheus Coutinho Xavier e do delegado Paulo Magalhães.
Os investigadores concluíram que eles foram executados a mando dos empresários Jamil Name e Jamil Name Filho, 43, presos desde 27 de setembro do ano passado. A Força-Tarefa ainda falta concluir a investigação sobre a execução de Orlando da Silva Fernandes, o Bomba, que foi segurança de Jorge Rafaat.
Outros dois alvos poderosos entraram na mira da Força-Tarefa, o empresário Fahd Jamil, 79 anos, conhecido como rei da fronteira, que está foragido desde 18 de junho deste ano, e o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Jerson Domingos.
Peró pode ser removido para funções administrativas. De acordo com as investigações, Jamil Name responsabiliza o delegado por sua queda e o incluiu em suposto plano de vingança. As ameaças contra o delegado foram constatadas pelo Gaeco e pelo serviço de inteligência da Agepen e do Depen (Departamento Penitenciário Nacional).
As mudanças na Polícia Civil causaram perplexidade entre os integrantes da Operação Omertà, considerada um marco no combate ao crime organizado em Mato Grosso do Sul. O maior feito da força-tarefa foi desvendar os envolvidos em execuções brutais, com armas de grosso calibre, que estavam sem autores e mandantes.
Um dos acusados de ajudar a suposta organização criminosa é o delegado Márcio Obara, que chegou a ser preso, mas acabou obtendo habeas corpus no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul. Ele vem cumprindo funções administrativas na Polícia Civil.
A Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública negou, por meio da assessoria de imprensa, de que haverá mudanças na cúpula da Polícia Civil e do Garras. O fato teria sido desmentido até pelo secretário estadual de Governo e Gestão Estratégica, Eduardo Riedel, o principal articulador de Reinaldo. “No Governo, ninguém está sabendo de nada”, garantiu a assessoria. Videira está em viagem.